Page 31 - Revista da Armada
P. 31

REVISTA DA ARMADA | 551


              SAÚDE PARA TODOS                                                                                  75







               O  tromboembolismo  pulmonar  (TEP)  deve-se  à  obstrução  da  artéria  pulmonar  ou  seus
               ramos  por  um  trombo  habitualmente  formado  no  sistema  venoso  profundo  e  que,  ao
               desprender-se,  segue  o  fl  uxo  sanguíneo  venoso,  atravessa  as  cavidades  direitas  do
               coração  e  vai  alojar-se  nos vasos pulmonares. A apresentação clínica varia desde
               episódios assintomáƟ cos até morte súbita por embolia pulmonar maciça, dependendo do
               grau de envolvimento dos vasos pulmonares. Esta é uma doença grave e muitas vezes
               subdiagnosƟ  cada,  mas  que,  se  atempada  e  adequadamente  tratada,  pode  ter  poucas
               complicações.


              EPIDEMIOLOGIA                                       varizes dos membros inferiores, presença de hábitos tabágicos.
                 incidência esƟ mada de TEP na população geral é de 5 em cada
              A  10.000 doentes, com taxa de mortalidade até 30% nos doentes   MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
              não tratados. Há redução desta taxa para 2,5-10% com tratamento   São geralmente inespecífi cas, o que difi culta e atrasa o diagnósƟ co.
              adequado. O TEP agudo é uma das principais causas de emergência   Estas dependem fundamentalmente da localização e do tamanho
              cardiovascular e, em cerca de 25% dos casos, a manifestação clínica   do êmbolo e do estado cardiorrespiratório prévio do doente. O TEP
              inicial é a morte súbita. Entre as doenças cardiovasculares é a 3ª   pode apresentar-se como uma dispneia (falta de ar) nã o explicada,
              causa de morte, só ultrapassada pelo enfarte agudo do miocárdio e   dor torácica na inspiração, tosse, hemopƟ se (expulsão sanguinolenta
              acidente vascular cerebral.                         através da tosse), cianose (coloração azul-arroxeada da pele, leitos
                                                                  ungueais ou mucosas devido a baixa saturação de oxigénio sanguí-
              FISIOPATOLOGIA                                      neo) e estase jugular (com dilatação das veias do pescoço). Sinais de
               Geralmente o TEP é causado por um trombo (coagulação de sangue   trombose venosa profunda dos membros inferiores também podem
              no interior de um vaso sanguíneo por agregação plaquetária) que se   estar presentes (edema, rubor, calor e dor). Casos graves de embolia
              forma no sistema venoso profundo inferior, principalmente na região   pulmonar maciça, devido ao quadro de hipotensão arterial, taquicar-
              acima dos joelhos (70 a 90% dos casos), contudo também pode for-  dia e choque, podem apresentar-se como síncope (perda de cons-
              mar-se nas veias dos membros superiores ou ainda nas câmaras car-  ciência), instabilidade hemodinâmica ou morte súbita.
              díacas direitas. Muito raramente o TEP é causado por bolhas de gás,
              gordura, líquido amnióƟ co, entre outras possibilidades.  EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO
               O trombo ao soltar-se do seu local de formação passa a chamar-se   A suspeição no exame clínico é essencial para que não se atrase
              êmbolo e, mergulhado na corrente sanguínea, segue a direção habi-  o diagnósƟ co, principalmente se existem fatores de risco para TEP .
              tual do fl uxo sanguíneo venoso, parando apenas quando encontra   Os exames complementares de roƟ na não têm poder de excluir o
              resistência, nomeadamente um vaso de diâmetro inferior ao seu.   diagnósƟ co de TEP, contudo auxiliam no diagnósƟ co diferencial e na
              Este “entupimento” pelo êmbolo ocorre na artéria pulmonar (se o   avaliação da gravidade do quadro clínico. Assim, a avaliação inicial
              êmbolo for volumoso) ou nos seus ramos (se o êmbolo for de meno-  inclui análises sanguíneas, gasimetria arterial, radiografi a do tórax e
              res dimensões). A interrupção da circulação sanguínea arterial na   eletrocardiograma. Um parâmetro que se deve pedir logo nas aná-
              área pulmonar afetada leva a diminuição do funcionamento do pul-  lises sanguíneas iniciais são os D-Dímeros (fragmentos de proteína
              mão, com consequente diminuição das trocas gasosas e, como tal,   resultantes da degradação da fi brina) que são posiƟ vos (> 500 ng/
              há uma redução da oxigenação do sangue. Também esta resistência   mL) em virtualmente todos os pacientes com TEP. Outros exames que
              na circulação pulmonar leva a uma sobrecarga no coração. Depen-  podem ser solicitados para estudo dirigido são o ecodoppler venoso
              dendo da extensão de pulmão afetado, bem como dos anteceden-  dos membros inferiores, ecocardiograma transesofágico, tomografi a
              tes pessoais do doente e o seu estado de saúde naquele momento,   computorizada helicoidal pulmonar, ressonância magnéƟ ca pulmo-
              o TEP pode não ter manifestações clínicas, ou pode levar a morte  nar, cinƟ grafi a pulmonar e angiografi a pulmonar.
              súbita. A maior parte das embolias é pequena e não é percebida.
                                                                  TRATAMENTO
              FATORES DE RISCO                                      O tratamento inicial do doente visa à estabilização do quadro clí-
               É frequente os doentes com TEP apresentarem fatores de risco   nico com suporte venƟ latório e hemodinâmico. Na presença de TEP
              para tromboembolismo venoso. Os fatores de risco podem dividir-  maciço o tratamento dirigido é a trombólise (em alternaƟ va: embo-
              -se em primários ou secundários. Os primários são raros e devem-  lectomia cirúrgica ou via cateter percutâneo) e, posteriormente,
              -se a distúrbios da coagulação (trombofi lias). Os fatores de risco  anƟ coagulação. Na presença de TEP não-maciço é indicada apenas
              secundários incluem idade > 40 anos, tromboembolismo venoso  a anƟ coagulação por um período superior a 3 meses (alternaƟ va:
              prévio, imobilização prolongada (ex: doentes acamados ou com  fi ltro na veia cava). Caso o TEP não tenha origem num trombo pode
              paralisia de membros inferiores, voos longos, cirurgias demora-  haver necessidade de outro Ɵ po de tratamentos (ex: realizar des-
              das), presença de insufi ciência cardíaca congesƟ va/doença pul-  compressão em câmara hiperbárica, no caso de embolia gasosa em
              monar obstruƟ va crónica/acidente vascular cerebral/neoplasia,  acidentes de mergulho).
              uso de medicação com estrogénios (anƟ concecionais ou terapia
              hormonal de subsƟ tuição), gravidez e período pós-parto, fraturas                        Ana CrisƟ na Pratas
              ósseas (principalmente da bacia), cirurgia abdominal e pélvica,                                 CTEN MN
              uso de cateteres centrais, acidentes de mergulho, obesidade,               www.facebook.com/parƟ cipanosaudeparatodos


                                                                                                         MAIO 2020  31
   26   27   28   29   30   31   32   33   34   35   36