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REVISTA DA ARMADA | 552


              SAÚDE PARA TODOS                                                                                  76


               FIBRILHAÇÃO AURICULAR                                                                               DR









               A Fundação Portuguesa de Cardiologia alerta: a fi brilhação auricular é a arritmia crónica mais frequente e aumenta em 5 vezes
               o risco de acidente vascular cerebral, em 3 vezes o risco de insufi ciência cardíaca, em 2 vezes o risco de demência e duplica o
               risco de morte. Por cursar muitas vezes sem sintomas é crucial estar alerta para esta doença e manter uma regular vigilância de
               saúde no seu médico de família.

                                                                    Está, também, bem demonstrada a relação entre a FA e a insufi -
              DEFINIÇÃO
                                                                  ciência cardíaca e as síndromes demenciais.
                 fi brilhação auricular (FA) consiste num ritmo cardíaco anormal
              A  que se caracteriza por baƟ mentos rápidos e irregulares das aurí-  MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
              culas. As aurículas são as duas cavidades do coração que se loca-  As manifestações clínicas podem ser muito diversas. Há doentes
              lizam acima dos ventrículos, dos quais são separadas por válvulas.   que são muito sintomáƟ cos e recorrem repeƟ damente a urgências
              A sua função é receber o sangue que chega ao coração pelas veias   hospitalares por palpitações (normalmente isto acontece quando
              e enviá-lo para os ventrículos num movimento chamado sístole e   a FA é paroxísƟ ca). Noutros doentes as manifestações evoluem de
              que não é mais que a contração simultânea de todas as paredes das   forma insidiosa e silenciosa, mantendo-se sem diagnósƟ co, até que
              aurículas. Ao receber o sangue, os ventrículos também vão contrair,   uma complicação se desenvolva ou que seja detetada em exames
              bombeando o sangue para fora do coração, para as artérias.  médicos de roƟ na. Outros sintomas podem ser:  síncope (desmaio),
               Quando a contração das aurículas não é rítmica e coordenada,   tonturas, dispneia (falta de ar), cansaço e precordialgia (dor no peito).
              como acontece na FA, o sangue que está dentro das mesmas circula
              de forma turbulenta e com velocidades lentas e, em consequência,   DIAGNÓSTICO
              o sangue não é bombeado de forma efi ciente para os ventrículos.   Cerca de 35% dos doentes portugueses com FA desconhecem ter
              Ao haver um enchimento ventricular defi ciente perde-se cerca de   essa arritmia.
              20% do débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração   Para além dos sintomas que o doente possa apresentar, a suspei-
              num minuto).                                        ção de FA pode levantar-se quando numa consulta médica se dete-
               A FA pode ser paroxísƟ ca (os episódios de arritmia resolvem-se   tam irregularidades na auscultação cardíaca e na avaliação do pulso.
              espontaneamente), persistente (arritmia prolongada, mas também   A confi rmação diagnósƟ ca é feita por exames complementares de
              possível de reverter) ou permanente (quando não há retorno ao   diagnósƟ co, nomeadamente por eletrocardiograma (ECG) ou moni-
              ritmo normal).                                      torização eletrocardiográfi ca de 24 horas (holter).

              EPIDEMIOLOGIA                                       TRATAMENTO
               A prevalência de FA aumenta com a idade pelo que,  com o aumento   O tratamento depende da patologia coexistente e da idade do
              da esperança média de vida, aumentou também a percentagem de   doente.
              pessoas afetadas, sobretudo nos países desenvolvidos. Em Portugal   Devido ao risco de formação de coágulos a prioridade na FA é o
              a prevalência de FA é de 12,4% acima dos 40 anos (João Primo et   doente iniciar medicação anƟ coagulante. Apenas os doentes com
              al., 2017). É mais frequente em homens do que mulheres e cerca de   baixo risco de AVC (avaliado por tabelas validadas para o efeito)
              50% das FA são permanentes, 25% paroxísƟ cas e 25% persistentes.  podem ser excluídos desta medida terapêuƟ ca. Os recomendados
                                                                  atualmente são os novos anƟ coagulantes orais que estão associados
              FATORES DE RISCO                                    a uma proteção maior e mais constante, bem como a um menor
               São fatores de risco para desenvolver FA a idade avançada, hiper-  risco hemorrágico. Além disso, não exigem a realização de análises
              tensão arterial, doenças valvulares cardíacas, doença coronária,   periódicas de controlo.
              insufi ciência cardíaca, miocardiopaƟ a, cardiopaƟ a congénita, obe-  Outra medida terapêuƟ ca é tentar que o coração volte ao seu
              sidade, dislipidemia, diabetes, doença pulmonar obstruƟ va  cró-  ritmo normal (ritmo sinusal), usando-se para esse efeito medica-
              nica, apneia do sono, hiperƟ roidismo, alcoolismo e tabagismo. No   mentos anƟ arrítmicos. Em situações de emergência esta conversão
              entanto, metade dos casos não estão associados a qualquer um   ao ritmo sinusal pode também ser feita com um procedimento cha-
              destes riscos.                                      mado cardioversão elétrica. Em doentes selecionados, numa fase
                                                                  precoce da doença, pode tentar-se a ablação (aplicação de ondas de
              COMPLICAÇÕES                                        rádio de alta frequência, através do uso de cateteres, em focos que
               A FA ao fazer com que o sangue que entra para as aurículas não seja   originam a FA).
              bombeado de forma efi ciente para os ventrículos, pode levar a que o   É importante nos doentes com FA permanente, em que o controlo
              sangue dentro das aurículas coagule. Caso se formem coágulos, estes   do ritmo não é conseguido, atuar no controlo da frequência.
              podem ser arrastados pela corrente sanguínea e alojar-se em qual-
              quer artéria. Uma situação grave que pode ocorrer é os coágulos alo-                     Ana CrisƟ na Pratas
              jarem-se numa das artérias que irrigam o cérebro causando um Aci-                               CTEN MN
              dente Vascular Cerebral (AVC). A FA é responsável por 15% dos AVC.         www.facebook.com/parƟ cipanosaudeparatodos


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