Page 22 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 553
AS ARMADAS RIVAIS NA GUERRA
DA SUCESSÃO PORTUGUESA (1828-1834)
A IMPORTÂNCIA DO PODER NAVAL NO DESFECHO DA CONTENDA
2ª Parte
is os quatro momentos da Guerra da
ESucessão em que a Marinha foi crucial DR
para a aplicação de uma estratégia indireta.
AÇORES
Nos Açores a ilha Terceira recusou-se a
reconhecer D. Miguel, consƟ tuindo-se as-
sim em baluarte da resistência liberal. No
entanto, estava isolada quer no país, quer
mesmo do resto do arquipélago açoriano,
e sem reforços não poderia resisƟ r muito
tempo.
Os militares portugueses refugiados em
Inglaterra, cerca de 2250 ofi ciais e 1000
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soldados , pretenderam então juntar-se
às forças leais da ilha Terceira. No entan-
to, os ingleses, escudados na aliança com
Portugal e na sua neutralidade face ao con- Batalha da Praia da Vitória.
fl ito interno português, opunham-se a que
rumassem da Inglaterra para os Açores. Os reforços recebidos pelos liberais aço- Após a reƟ rada da esquadra miguelista,
Quando, apesar da proibição, os homens rianos mostraram-se essenciais para evitar os liberais rapidamente enviam forças à
se fi zeram ao mar, a Marinha Britânica im- o desembarque das forças miguelistas cuja maioria das ilhas, primeiro o Pico, depois
pediu o seu desembarque nas ilhas atlânƟ - esquadra, dirigida pelo Almirante Rosa São Jorge, o Faial e a Graciosa que foram
cas, chegando a disparar sobre o navio que Coelho, apenas chegou à Vila da Praia, hoje ocupadas com pequena ou nenhuma re-
transportava o Duque de Saldanha e obri- Praia da Vitória, em agosto de 1829. A es- sistência. O Corvo e as Flores passaram-se
gando parte deles a rumar ao Brasil. quadra era composta pela nau D. João VI, para o lado liberal por sua própria iniciaƟ -
Porém o general, numa manobra bri- pelas fragatas Pérola, Dianna e Amazona, va, uma vez que a sua posição e dependên-
lhante, voltou à Europa e aportou em pela corveta Princesa Real, pelas charruas cia das outras ilhas não lhes permiƟ am ou-
França. Toda a Inglaterra pôde então cons- Jaya Cardozo, Galatea, Orestes, Princesa tra alternaƟ va. Apenas São Miguel e Santa
tatar que seguiam em navios mercantes e da Beira e Princesa Real e pelos brigues Maria permaneciam do lado miguelista.
que estavam desarmados. O escândalo Infante D. SebasƟ ão, Providência, Glória e D. Pedro IV abdica então do trono do
políƟ co e a ação da oposição levaram a Divina Providência. Brasil e regressa à Europa atracando em
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Inglaterra a adotar uma aƟ tude mais fl exí- A abordagem foi claramente direta, Cherburgo, na costa da Normandia, a 10
vel, o que permiƟ u reforçar com homens, uma barragem de fogo dos navios e uma de junho de 1831 começando de imediato
armas e munições a ilha Terceira. Em vez tentaƟ va de desembarque liderada pelo a preparação diplomáƟ ca do confl ito.
de “atacar” a Inglaterra, com esta ação Coronel Azevedo Lemos. A defesa, or- Os liberais procuraram, simultaneamen-
indireta Saldanha levou-a a alterar a sua ganizada pelo futuro Duque da Terceira, te, estender o seu território às duas ilhas
vontade políƟ ca para uma posição mais assentava num conjunto de pequenos ainda sob domínio absoluƟ sta e a 3 de
próxima dos interesses dos liberais, o que fortes armados com peças de arƟ lharia. O agosto de 1831, sob o comando do futuro
consƟ tuiu uma derrota políƟ ca importan- desembarque foi rechaçado e, depois de Duque da Terceira, libertam a Ilha de S. Mi-
te dos absoluƟ stas. sofrer várias centenas de baixas, a armada guel após um desembarque bem-sucedido
Liberta do constrangimento militar in- miguelista reƟ rou-se. Em vez de um cerco e de um breve combate na Ladeira Velha.
glês, a Marinha liberal foi essencial para baseado num bloqueio naval que levaria à Pouco depois os liberais asseguram o con-
fortalecer a resistência na Terceira, tendo asfi xia dos liberais confi nados a uma ilha trolo total dos Açores, praƟ camente sem
a Marinha miguelista um papel passivo que fi caria sem possibilidade de abasteci- derramamento de sangue.
não conseguindo, como o Ɵ nham feito mento, os absoluƟ stas procuraram atacar Na frente diplomáƟ ca D. Pedro conse-
os ingleses, impedir os desembarques. no ponto mais expectável e melhor defen- gue obter simpaƟ as em França e na Ingla-
Em “fi nais de Março de 1829 já lá Ɵ nham dido. Um ataque direto sobre a força ad- terra. Um sinal dessa simpaƟ a é o fato de
desembarcado «mais de mil indivíduos, versária quase nunca resulta e, desta vez, a fi lha de D. Pedro, Maria Amélia, nasci-
4000 espingardas, balas, pólvora e 500 também não conseguiu levar de vencida da no primeiro de dezembro de 1831 em
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bocas de fogo»” . o adversário. Paris, ser apadrinhada pelo Rei de França
22 JULHO 2020