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REVISTA DA ARMADA | 553
3 HINOS NACIONAIS
FORMAS DE CANTAR A PÁTRIA
HINOS o mencionado autor, para concluir a sua precedido de uma introdução musical de
obra, optara por escrever um andamento jeito marcial, com as seguintes palavras:
aioritariamente, o hino nacional é sumptuoso, de ritmo pontuado e de fácil
Mentendido como uma composição apreensão melódica. Foi tal o sucesso que, “Ó Pátria, ó Rei, ó Povo / ama a tua
musical patrióƟ ca capaz de evocar e enal- no ano seguinte, este úlƟ mo andamento Religião / observa e guarda sempre /
tecer as tradições e conquistas de um veio a ser autonomizado e denominado de Divinal ConsƟ tuição!”.
povo. Reconhecido, assim, como símbolo Hymno PatrioƟ co da Nação Portugueza .
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nacional, não será exagerado afi rmar que Oferecido ao príncipe regente e expri- Pese embora o seu altruísmo musical,
ele fi gura como exteriorização sonora que mindo os senƟ mentos de fi delidade por- ainda que deixando antever alguma con-
proclama e simboliza uma nação. tuguesa ao Rei e à Pátria, o também apeli- veniência políƟ ca, o aludido hino só viria a
Com a entrada no século XIX, os povos dado de Hymno de D. João VI, rapidamente ser ofi cializado, enquanto elemento proto-
europeus, afi rmando paulaƟ namente a sua se divulgará e passará a ser entoado, em
idenƟ dade enquanto Estado-nação, entre momentos solenes, até ao ano de 1834 .
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outros elementos, socorreram-se da arte Com efeito, será nessa data subsƟ tuído pelo
musical para cantar e perpetuar os seus posterior Hino da Carta de D. Pedro IV.
feitos patrióƟ cos. Dito de outra maneira, Curiosamente, tal subsƟ tuição não impli-
socorreram-se da arte musical para criar cará o seu desaparecimento, pois aquando
elementos idenƟ tários e representaƟ vos da entrada do infante D. Luís (futuro D.
dos seus povos. Luís I), como guarda-marinha, para a Aca-
Portugal não foi exceção a este movi- demia Real dos Guardas-Marinhas, em 28
mento. Durante as primeiras décadas desse de outubro de 1846, acredita-se que tenha
século, a noção de hino nacional era pra- sido ordenada a sua execução, por força
Ɵ camente inexistente e, por isso mesmo, da outorga que D. Maria II, sua mãe, havia
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as peças musicais com caráter público ou feito à aludida insƟ tuição naval .
ofi cial, eram idenƟ fi caƟ vas do monarca Na ausência de fontes primárias capazes
reinante. Porém esta conceção políƟ co- de comprovarem este facto com total exa-
-musical vai rapidamente ceder perante Ɵ dão distanciar-nos-emos da quesƟ úncula
uma visão idenƟ tária despersonalizada. Na sobre quando terá sido tocado, pela pri- Henrique Lopes de Mendonça nasceu
verdade, se até 1834 é possível idenƟ fi car meira vez, na supracitada Academia. em Lisboa em 2 de fevereiro de 1856.
o hino com o rei – v.g. Hymno de D. João VI Não obstante, no âmbito do Bicentená- Foi professor, conferencista, drama-
– o posterior Hymno da ConsƟ tuição ou rio da Companhia dos Guardas-Marinhas turgo, cronista e romancista português.
Hymno da Carta, ainda que associado a um e sua Real Academia, em 3 de maio de Pessoa de elevada erudição, conciliou
determinado texto fundamental de cunho 1982, por determinação do Chefe do Esta- a sua carreira de ofi cial de Marinha
pessoal, não apenas cederá àquele enten- do-Maior da Armada – com novo texto da com a carreira de poeta e historiador.
dimento como preparará o caminho para autoria do atual CMG Ribeiro Cartaxo e Lecionou na escola PráƟ ca de ArƟ lha-
uma total autonomia do hino A Portuguesa com adaptação musical do então chefe da ria Naval e na Escola de Belas-Artes, em
enquanto símbolo nacional. Banda da Armada, CFR Maria Baltazar – o Lisboa.
hino foi tocado, pela Banda da Armada, Não relegando o seu papel de militar,
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HYMNO PATRIOTICO OU na presença do Presidente da República . enquanto ofi cial da Marinha Portuguesa,
A parƟ r de então passou a ser elemento
HYMNO DE D. JOÃO VI integrante e protocolar do cerimonial da o seu maior reconhecimento está rela-
cionado com a criação da obra A Portu-
A origem do Hymno PatrioƟ co, consi- Escola Naval. guesa, atual hino nacional português.
derado como o primeiro hino português, Faleceu em 24 de agosto de 1931.
remonta ao ano de 1809 e é da autoria do HYMNO DA CONSTITUIÇÃO OU
famigerado compositor Marcos António da
Fonseca Portugal. HYMNO DA CARTA colar, em março de 1834, já no reinado de
Para assinalar o 42.º aniversário do prín- As Bases da ConsƟ tuição são aprovadas a sua fi lha D. Maria II.
cipe regente e sem relegar a recente reen- 9 de março de 1821, em Lisboa; segue-se- Curiosamente, como entretanto já havia
trada das tropas francesas em Portugal – -lhe a elaboração da Lei Fundamental pelas sido outorgada a Carta ConsƟ tucional de
desta feita comandadas pelo general Soult Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação 1826, sem quaisquer pruridos políƟ cos,
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– Marcos Portugal, mestre da Cappela Real, Portuguesa, que veio a ser aprovada em 23 foi rebaƟ zado como Novo Hymno ConsƟ -
compusera a patrióƟ ca cantata La Speranza de setembro de 1822. Porém a 31 de março tucional ou Hymno da Carta, e a sua prosa
ossia l’Augurio Felice para ser estreada no de 1821, deslumbrado pela causa consƟ tu- foi alterada para a seguinte forma:
Real Teatro de São Carlos, a 13 de maio cional, o então príncipe melómano D. Pedro
de 1809. Não desperdiçando quaisquer de Alcântara, para a celebrar, compôs um “Quanto, ó Pedro generoso / te deve a
recursos técnicos e consciente do agrado breve trecho musical crismando-o de Hino lusa Nação / por teu valor possuímos /
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que tais harmonias causariam no público, ConsƟ tucional. Com letra da sua autoria, Liberal ConsƟ tuição” .
26 JULHO 2020