Page 26 - Revista da Armada
P. 26

REVISTA DA ARMADA | 553
            3           HINOS NACIONAIS




                        FORMAS DE CANTAR A PÁTRIA





              HINOS                              o mencionado autor, para concluir a sua   precedido de uma introdução musical de
                                                 obra, optara por escrever um andamento   jeito marcial, com as seguintes palavras:
                  aioritariamente, o hino nacional é   sumptuoso, de ritmo pontuado e de fácil
              Mentendido como uma composição     apreensão melódica. Foi tal o sucesso que,   “Ó Pátria, ó Rei, ó Povo / ama a tua
              musical patrióƟ ca capaz de evocar e enal-  no ano seguinte, este úlƟ mo  andamento   Religião / observa e guarda sempre /
              tecer as tradições e conquistas de um   veio a ser autonomizado e denominado de   Divinal ConsƟ tuição!”.
              povo. Reconhecido, assim, como símbolo   Hymno PatrioƟ co da Nação Portugueza .
                                                                               2
              nacional, não será exagerado afi rmar que   Oferecido ao príncipe regente e expri-  Pese embora o seu altruísmo musical,
              ele fi gura como exteriorização sonora que   mindo os senƟ mentos  de  fi delidade  por-  ainda que deixando antever alguma con-
              proclama e simboliza uma nação.    tuguesa ao Rei e à Pátria, o também apeli-  veniência políƟ ca, o aludido hino só viria a
               Com a entrada no século XIX, os povos   dado de Hymno de D. João VI, rapidamente   ser ofi cializado, enquanto elemento proto-
              europeus, afi rmando paulaƟ namente a sua   se divulgará e passará a ser entoado, em
              idenƟ dade enquanto Estado-nação, entre   momentos solenes, até ao ano de 1834 .
                                                                                3
              outros elementos, socorreram-se da arte   Com efeito, será nessa data subsƟ tuído pelo
              musical para cantar e perpetuar os seus   posterior Hino da Carta de D. Pedro IV.
              feitos patrióƟ cos. Dito de outra maneira,   Curiosamente, tal subsƟ tuição não impli-
              socorreram-se da arte musical para criar   cará o seu desaparecimento, pois aquando
              elementos idenƟ tários e representaƟ vos   da entrada do infante D. Luís (futuro D.
              dos seus povos.                    Luís I), como guarda-marinha, para a Aca-
               Portugal não foi exceção a este movi-  demia Real dos Guardas-Marinhas, em 28
              mento. Durante as primeiras décadas desse   de outubro de 1846, acredita-se que tenha
              século, a noção de hino nacional era pra-  sido ordenada a sua execução, por força
              Ɵ camente inexistente e, por isso mesmo,   da outorga que D. Maria II, sua mãe, havia
                                                                        4
              as peças musicais com caráter público ou   feito à aludida insƟ tuição naval .
              ofi cial, eram idenƟ fi caƟ vas do monarca   Na ausência de fontes primárias capazes
              reinante. Porém esta conceção políƟ co-  de comprovarem este facto com total exa-
              -musical vai rapidamente ceder perante   Ɵ dão distanciar-nos-emos da quesƟ úncula
              uma visão idenƟ tária despersonalizada. Na   sobre quando terá sido tocado, pela pri-  Henrique Lopes de Mendonça nasceu
              verdade, se até 1834 é possível idenƟ fi car   meira vez, na supracitada Academia.   em Lisboa em 2 de fevereiro de 1856.
              o hino com o rei – v.g. Hymno de D. João VI   Não obstante, no âmbito do Bicentená-  Foi professor, conferencista, drama-
              – o posterior  Hymno da ConsƟ tuição  ou   rio da Companhia dos Guardas-Marinhas   turgo, cronista e romancista português.
              Hymno da Carta, ainda que associado a um   e sua Real Academia, em 3 de maio de   Pessoa de elevada erudição, conciliou
              determinado texto fundamental de cunho   1982, por determinação do Chefe do Esta-  a sua carreira de ofi cial de Marinha
              pessoal, não apenas cederá àquele enten-  do-Maior da Armada – com novo texto da   com a carreira de poeta e historiador.
              dimento como preparará o caminho para   autoria do atual CMG Ribeiro Cartaxo e   Lecionou na escola PráƟ ca de ArƟ lha-
              uma total autonomia do hino A Portuguesa   com adaptação musical do então chefe da   ria Naval e na Escola de Belas-Artes, em
              enquanto símbolo nacional.         Banda da Armada, CFR Maria Baltazar – o   Lisboa.
                                                 hino foi tocado, pela Banda da Armada,   Não relegando o seu papel de militar,
                                                                                5
              HYMNO PATRIOTICO OU                na presença do Presidente da República .   enquanto ofi cial da Marinha Portuguesa,
                                                 A parƟ r de então passou a ser elemento
              HYMNO DE D. JOÃO VI                integrante e protocolar do cerimonial da   o seu maior reconhecimento está rela-
                                                                                      cionado com a criação da obra A Portu-
               A origem do  Hymno PatrioƟ co, consi-  Escola Naval.                   guesa, atual hino nacional português.
              derado como o primeiro hino português,                                   Faleceu em 24 de agosto de 1931.
              remonta ao ano de 1809 e é da autoria do   HYMNO DA CONSTITUIÇÃO OU
              famigerado compositor Marcos António da
              Fonseca Portugal.                  HYMNO DA CARTA                     colar, em março de 1834, já no reinado de
               Para assinalar o 42.º aniversário do prín-  As Bases da ConsƟ tuição são aprovadas a   sua fi lha D. Maria II.
              cipe regente e sem relegar a recente reen-  9 de março de 1821, em Lisboa; segue-se-  Curiosamente, como entretanto já havia
              trada das tropas francesas em Portugal –   -lhe a elaboração da Lei Fundamental pelas   sido outorgada a Carta ConsƟ tucional de
              desta feita comandadas pelo general Soult    Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação   1826, sem quaisquer pruridos políƟ cos,
                                              1
              – Marcos Portugal, mestre da Cappela Real,   Portuguesa, que veio a ser aprovada em 23   foi rebaƟ zado como Novo Hymno ConsƟ -
              compusera a patrióƟ ca cantata La Speranza   de setembro de 1822.  Porém a 31 de março   tucional ou Hymno da Carta, e a sua prosa
              ossia l’Augurio Felice para ser estreada no   de 1821, deslumbrado pela causa consƟ tu-  foi alterada para a seguinte forma:
              Real Teatro de São Carlos, a 13 de maio   cional, o então príncipe melómano D. Pedro
              de 1809. Não desperdiçando quaisquer   de Alcântara, para a celebrar, compôs um   “Quanto, ó Pedro generoso / te deve a
              recursos técnicos e consciente do agrado   breve trecho musical crismando-o de Hino   lusa Nação / por teu valor possuímos /
                                                                                                     6
              que tais harmonias causariam no público,   ConsƟ tucional. Com letra da sua autoria,   Liberal ConsƟ tuição”  .

              26   JULHO 2020
   21   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31