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REVISTA DA ARMADA | 554
In Memoriam
Capitão do Porto de PorƟmão e em acumu- autárquicas e com as forças de segurança
lação com o de Lagos. Estava eu a comandar também contribuiu para que a instabilidade
o navio balizador Schultz Xavier quando, no meio maríƟ mo local Ɵ vesse terminado.
em missão na costa algarvia, visitei PorƟ - O Comandante Vieira MaƟ as Ɵ nha, mais
mão. Tive então uma longa conversa com uma vez, demonstrado ser possuidor de
o Comandante MaƟas. Apercebi-me que, notáveis qualidades humanas, militares e
mercê do seu profundo conhecimento das marinheiras. ConƟnuava a governar com
gentes da terra e das elevadas apƟ dões de rumo ao seu objecƟvo de sempre – “Ser o
que era dotado, Ɵnha conseguido o apoio melhor entre os melhores”.
dos pescadores que, influenciados por for-
ças políƟcas, ameaçavam invadir a Capitania José Luís Leiria Pinto
e por outro lado, o seu bom relacionamento CALM
com os armadores, com as autoridades N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
UM TESTEMUNHO DE BORDO
cargo de Comandante da fragata de todos na sua preparação individual e de
O Comandante João Belo foi exercido conjunto, através do treino a bordo e em
pelo saudoso Almirante Nuno Vieira MaƟ as terra. Iniciou-se um intenso período de
de 1982 a 1984. Tive a honra de ser seu Ime- aprontamento do navio, envolvendo o pes-
diato durante cerca de 20 meses e, por esse soal de bordo e de toda a cadeia logísƟ ca
moƟvo, testemunha privilegiada das suas da Marinha. CumulaƟvamente, o treino
elevadas qualidades como líder, como mari- do pessoal foi também sempre uma preo-
nheiro, mas sobretudo como ser humano. cupação, com a supervisão constante do
Foi um Chefe, um Mestre, um Exemplo e um Comandante que, entretanto, se deslocou
Amigo que deixou uma marca indelével em a Inglaterra para frequentar o MariƟ me
todos os que com ele conviveram. TacƟ cal Course. Tudo era feito para que no
Ao longo da sua rica e diversifi cada car- final o pessoal esƟvesse bem treinado e
reira, na Marinha ou depois já como acadé- moƟvado e para que o material fi casse no
mico, pude testemunhar o orgulho, o cari- máximo de operacionalidade.
nho, a felicidade e até a saudade, com que Durante este período de preparação houve O Almirante Vieira MaƟas descreveu assim
o Almirante Vieira MaƟas recordava aquele duas decisões determinantes para a melho- as suas expectaƟ vas… senƟ a-me entusias-
período da sua vida. O desempenho da ria do desempenho do navio: a primeira mado com a missão… e, sobretudo, muito
“sua guarnição” em situações extrema- foi tomada pelo Almirante Vieira MaƟ as confiante no espírito de equipa que notava
mente exigentes fi caram para sempre gra- quando decidiu que se passasse a uƟ lizar nos meus oficiais e também nos vários níveis
vados na sua memória e no seu coração. regularmente as “curvas de variação de velo- dos muitos elementos da guarnição. Tínha-
Ao iniciar o seu Comando, em outubro de cidade” do fabricante em manobras e evolu- mos de gerar uma boa imagem, sob todos
1982, perspeƟvava-se um programa ope- ções. Na realidade, essas curvas Ɵ nham sido os pontos de vista, no mar e em terra! (in
racional muito exigente e intenso de que alteradas para outras mais lentas, primeiro “Comandar no Mar”).
se destacava a integração na STANAVFOR- pela Direção Técnica da Marinha e, poste- Seguiu-se um período de cerca de 5
LANT (SNFL) por um período de cerca de riormente pelos sucessivos chefes de serviço meses com uma aƟ vidade operacional
5 meses, o que sucedia pela primeira vez de máquinas, com o intuito de “poupar” muito intensa, missões reais de vigilância,
com um navio desta classe. os motores; a segunda foi a instalação do visitas a portos, intercâmbio de guarni-
A bordo Ɵnha uma guarnição com muito sistema probe para os reabastecimentos, o ções, treino em terra… sempre na procura
pouca experiência operacional. Começou que dava a garanƟa de os poder efetuar com dos mais elevados padrões de desempe-
então a manifestar-se o senƟdo de lide- muito mais segurança. Com estas inovações nho! As principais incidências vividas neste
rança do novo Comandante: fez um voto ficou bem patente mais uma faceta da capa- período estão bem detalhadas no texto
de confiança nos oficiais existentes, incu- cidade de chefi a do Almirante Vieira MaƟ as: que o Almirante Vieira MaƟas incluiu no
Ɵndo-lhes o compromisso de darem o o estudo aprofundado das situações, a aná- livro que atrás referenciei. Na expressão
melhor de si para levar a bom termo todas lise realista e detalhada e, por fim, a decisão com que celebra o final da missão sente-se
as missões. Naquela altura era frequente consciente e firme, sem receio de romper o orgulho de um líder competente e exem-
os Comandantes pedirem a troca de com o tradicional… sempre se fez assim. plar, que referia que o êxito alcançado a
alguns oficiais por outros com mais expe- Cumprida que foi a cuidada preparação, a todos pertencia. O Comandante da STANA-
riência operacional. Ao não aceitar isso, João Belo passou a integrar a SNFL em abril VFORLANT expressou então as seguintes
o Almirante Vieira MaƟ as transmiƟ u um de 1983, em Lisboa, porto onde se realizou referências elogiosas:
inequívoco sinal de confiança e incenƟ vo. a mudança de Comando para um Captain “Aproximando-se o fim da integração da
GaranƟu à parƟda o pleno empenhamento da Marinha dos Estados Unidos. JOÃO BELO, é com grande felicidade que
6 AGOSTO 2020