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REVISTA DA ARMADA | 554
In Memoriam
de liberdade ordeira e não revolucioná- Anos mais tarde, creio que em 2004, Ɵ ve
ria (nem contra-revolucionária) – em que o privilégio de convidar Almirante Vieira
os nossos parceiros anglo-americanos MaƟas para leccionar no InsƟ tuto de
incluíam a ancestral aliança com o marí- Estudos PolíƟcos da Universidade Católica
Ɵmo Portugal. À medida que ia desco- (IEP-UCP). Foi um re encontro com fantás-
brindo essa tradição maríƟma da liberdade Ɵcas consequências. O Almirante Vieira
ordeira (por sinal orientado por um austro- MaƟas desenvolveu a parƟr de então uma
-britânico, Karl Popper, e por um germa- área de estudos em Segurança e Defesa,
no-britânico, Ralf Dahrendorf), ia fi cando atraindo à docência no IEP militares de
cada vez mais intrigado pela debilidade topo dos três ramos da Forças Armadas.
dessas referências maríƟmas em Portugal. Com o Professor Adriano Moreira, ambos
Eis senão quando encontro o Almi- retomaram a tradição dos Programas
rante Vieira MaƟas na já referida recep- Avançados em Estudos do Mar, inicial-
ção diplomáƟca. E eis senão quando ele mente inaugurada também na Universi-
começa a falar-me da importância crucial dade Católica, por nosso querido Amigo
da NATO, da sua experiência no norte-a- e Mestre Ernâni Lopes, então precoce-
mericano Naval War College de Newport, mente falecido.
da sua admiração pela Royal Navy e pela O Almirante Vieira MaƟas deu ainda ao
aliança luso-britânica estabelecida pelo IEP-UCP o privilégio de integrar o nosso
Tratado de Windsor de 1386. Lembro- Conselho Estratégico e o nosso Conselho
-me vivamente da minha total surpresa Cienơfico Alargado, bem como o Conselho
perante esta voz tão rara no nosso pano- Editorial da revista Nova Cidadania. ParƟ -
rama intelectual, bem como da sua pos- cipou anualmente desde 2004 em todas
tura enérgica, mas tranquila, e da sua cor- as edições do Estoril PoliƟcal Forum – um
tesia exemplar. E fiquei para sempre seu Encontro Internacional de Estudos PolíƟ -
admirador – antes mesmo de ter Ɵ do o cos, reunindo centenas de parƟ cipantes,
raro privilégio de beneficiar da sua nobre nacionais e internacionais, no Hotel Palá-
amizade e de conhecer a sua notável car- cio do Estoril. Proferiu também inúmeras
reira naval, nacional e internacional, e a palestras sobre “O Mar na Segurança e Descobrimentos e a Ideia de Universidade”
disƟnção do seu carácter. Defesa Nacional” (2004); “O Espírito dos (2007); “Para além da crise, uma possível
saída: o Mar” (2010) e ainda “O Mar e o seu
DR valor estratégico” (2011-2019). E leccionou
anualmente, desde 2004, a disciplina de
“Tecnologia de Segurança e Defesa Inter-
nacional” – por si inteiramente concebida
e com enorme impacto nos alunos de Mes-
trado e Doutoramento do IEP-UCP.
Sob a sua liderança, o IEP-UCP consoli-
dou e ampliou a sua vocação maríƟ ma.
Quando criámos, com Mário Pinto e
Manuel Braga da Cruz, a sala comum D.
Henrique o Navegador, o Almirante Vieira
MaƟas ofereceu-nos uma bela repro-
dução, com a chancela da Academia de
Marinha, da Carta NáuƟca de Jorge de
Aguiar, de 1492 – o mais anƟgo mapa com
data e assinatura dos Descobrimentos
portugueses, cujo original se encontra na
Universidade de Yale. Na mesma ocasião,
o Professor Adriano Moreira ofereceu-nos
uma bela réplica do retrato do Infante nos
célebres Painéis de São Vicente.
Foi uma tocante cerimónia, marcada
pelo disƟnto e inesquecível legado que
Almirante Vieira MaƟ as deixou ao IEP-
-UCP: o legado de um patriota, um atlan-
Ɵsta, um cavalheiro.
Professor Doutor João Carlos Espada
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
10 AGOSTO 2020