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REVISTA DA ARMADA | 556
A HIDROGRAFIA NA MARINHA
NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS
Em 20 de setembro de 2020 o InsƟ tuto Hidrográfi co (IH) completou 60 anos. A celebração desta efeméride levou-nos a lembrar
como chegámos aqui, como tudo começou e como se foram juntando as peças que formaram a capacidade hidrográfi ca na Marinha.
Este arƟ go descreve, de forma sucinta, a evolução da hidrografi a na Marinha nos úlƟ mos 200 anos.
Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa que, ainda hoje, e à semelhança de
outras Universidades de Portugal, minis-
tra o curso de Engenharia Geográfi ca.
CORPO DE ENGENHEIROS
HIDRÓGRAFOS
Os três ofi ciais que frequentaram este
curso foram os primeiros engenheiros
hidrógrafos (EH) da Marinha: Francisco
Maria Pereira da Silva (1842) (Fig. 2), Cae-
tano Maria Batalha (1842) e Carlos Frede-
rico Botelho de Vasconcelos (1843).
O seu primeiro trabalho foi a atualização
do plano hidrográfi co da barra do Porto
de Lisboa. Os trabalhos de campo decor-
Figura 1 - Planta hidrográfi ca da Barra de Lisboa (1811 Marino Franzini).
reram em 1842, 1843 e 1845. O plano
terá fi cado pronto em 1847 e a sua edição
GÉNESE DA HIDROGRAFIA Ɵ nha vários planos de portos, incluindo a ocorreu em 1857.
ENQUANTO CIÊNCIA barra do porto de Lisboa (Fig. 1). No seio da Marinha começou, então, um
O General Pedro Folque, ao retomar a processo organizacional de edifi cação da
hidrografi a na Marinha não tem ape- triangulação geodésica do reino em 1834, capacidade hidrográfi ca. Em 1849 foi criada
A nas duzentos anos. Já nos tempos dos já contava com 90 anos, pelo que recru- a secção hidrográfi ca na Marinha, naquela
Descobrimentos e Expansão ơ nhamos tou o seu fi lho, Filipe Folque, então 2TEN que é considerada a primeira unidade orgâ-
implementado um “serviço hidrográfi co”. da Armada, para o ajudar nesta tarefa. No nica com responsabilidades específi cas
A Casa da Índia, Guiné e Mina, para além ano seguinte a Marinha determinou que enquanto serviço hidrográfi co nacional. De
de tratar dos assuntos do comércio marí- quatro ofi ciais se apresentassem a Pedro 1852 a 1892 o serviço hidrográfi co esteve
Ɵ mo, servia de depósito de instrumentos Folque para integrarem os trabalhos geo- a ser gerido no âmbito do Ministério das
e documentos náuƟ cos (i.e. cartas náuƟ - désicos; por razões várias, na realidade Obras Públicas, que tutelava a organização
cas e roteiros), recolhia as informações de apenas foram destacados três ofi ciais.
pilotos para atualização de cartas náuƟ cas Embora elogiasse o trabalho desen-
e aprontava o material necessário para as volvido nos primeiros meses pelos ofi -
viagens que se seguiam. ciais de Marinha, Pedro Folque sugeriu
No século XVIII vamos assisƟ r a desen- que lhes fosse proporcionada formação
volvimentos signifi caƟ vos nas ciências específi ca. Isso deu origem ao Curso de
cartográfi cas. A França realiza a triangu- Geodesia, ministrado na Escola Politéc-
lação geodésica do seu território visando nica sob a coordenação de Filipe Folque.
a produção de cartografi a com alto rigor. Na realidade este curso foi frequentado
Segue-se a Inglaterra e, mais tarde, Por- por todos os ofi ciais, da Marinha e do
tugal. A triangulação geodésica do terri- Exército, em serviço na comissão dos tra-
tório conƟ nental nacional foi iniciada por balhos geodésicos. Filipe Folque teve o
Francisco Ciera, lente da Academia Real génio de logo criar dois currículos disƟ n-
da Marinha, tendo como principais cola- tos. Um com uma componente de espe-
boradores Carlos de Caula e Pedro Folque, cialização em hidrografi a para a produção
ambos engenheiros ofi ciais do Exército. de cartografi a náuƟ ca e outro com uma
Os seus trabalhos começam em 1788, componente topográfi ca para a produção
sendo interrompidos de 1803 a 1834. de cartografi a terrestre. Estes dois currí-
No âmbito da hidrografi a, foi editada em culos deram origem ao Curso de Espe-
1811 uma carta hidrográfi ca de Portugal cialização em Engenharia Hidrográfi ca
conƟ nental por Marino Franzino, ofi cial e ao Curso de Engenharia Geográfi ca. A
da Brigada Real de Marinha. Esta carta Escola Politécnica daria lugar, em 1910, à Figura 2 - VALM Francisco Maria Pereira da Silva.
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