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REVISTA DA ARMADA | 559


              DESENVOLVER AS EQUIPAS DESENVOLVENDO
              QUEM TREINA
               O modelo “Treinar o Treinador”, mais do que um modelo desen-
              volvido em contexto académico, corresponde a uma metodolo-
              gia de treino direcionada para o desempenho em contexto de
              trabalho, a importante e fundamental componente da formação
              on-the-job para qualquer organização. De forma resumida, este
              modelo permite “pegar” nos indivíduos de uma equipa, no local
              onde habitualmente desempenham as suas funções, treinando-
              -os para melhorar o seu desempenho, enquanto lhes permite
              desenvolver os conhecimentos e as competências necessárias
              para treinar outros indivíduos. Mais do que colocar o enfoque
              da formação nos aspetos técnicos das funções desempenhadas
              e treinadas, o modelo “Treinar o Treinador” centra-se em aspe-
              tos tão fundamentais da relação entre o responsável do treino
              e a sua equipa treinada, como perceber o propósito do treino,
              entender como uƟ lizar e potenciar o feedback que a equipa trei-
              nada está a transmiƟ r e idenƟ fi car quais as abordagens ao treino
              que mais se ajustam a cada pessoa.
               Aplicar este modelo na realidade de uma organização passa por
              compreender e aprender a desenvolver um bom esquema de
              treino, desde a sua fase de preparação e idenƟ fi cação das profi -
              ciências a serem desenvolvidas, até à fase de avaliação do treino.
              Ao longo deste processo, o futuro responsável pelo treino desen-
              volve dois conjuntos de competências fundamentais para as suas
              tarefas de “treinar” a sua equipa: competências técnicas, rela-
              cionadas com o conteúdo da sessão de treino, e as competên-
              cias não-técnicas, que concreƟ zam as formas ideais de transmiƟ r
              os conhecimentos que possui aos indivíduos que está a treinar,
              de forma a que eles obtenham o melhor retorno da sessão de
              treino. E como colocar este modelo em práƟ ca?


              AUTONOMIA E LIDERANÇA NO TREINO
              PRÓPRIO
               Antes de mais, importa refl eƟ r qual o objeƟ vo fi nal que se pre-
              tende com a implementação do modelo “Treinar o Treinador”. Se
              é necessário que a equipa treinada se sinta envolvida e que rete-
              nha mais facilmente a informação que lhe está a ser transmiƟ da,
              importa que o responsável pelo treino seja reconhecido como uma
              autoridade, aspeto fundamental para o sucesso do treino. Por   é conferir autonomia no treino, apostar nas pessoas que se iden-
              outro lado, não existe efeƟ va aprendizagem e evolução do desem-  Ɵ fi cam como sendo elementos agregadores da equipa e, acima de
              penho sem que os indivíduos treinados não sejam convidados a   tudo, dar retorno e feedback às pessoas daquilo que é o seu papel.
              parƟ cipar no treino, dando o seu feedback, interiorizando o fee-  Uma equipa ou uma guarnição que aƟ nja este nível de consciên-
              dback que recebem e fazendo uma autoanálise sobre os resulta-  cia, consegue ir mais além e isso é fundamental para uma Esquadra
              dos das aƟ vidades que tenham desenvolvido. É desta forma, tendo   pronta e capacitada para o cumprimento das missões atribuídas,
              estes dois objeƟ vos no horizonte, que se deve planear a formação   essencial para “contribuir que Portugal use o mar”.
              e a implementação do modelo “Treinar o Treinador”, enquanto se
              idenƟ fi cam os indivíduos-chave a quem ele vai ser aplicado.                       Sandra Campaniço Cavaleiro
               Recordando o cenário do preambulo deste arƟ go… Depois da                                   1TEN TSN-QUI
              EACITAN terminar o plano de treino a bordo do navio e de este ser
              dado como pronto, é fundamental que indivíduos-chave da guarni-
              ção sejam capazes de desenvolver, conduzir e avaliar o treino pró-  Para quem Ɵ ver interesse em conhecer em maior profundidade
                                                                    este modelo de formação, sugerem-se as seguintes fontes:
              prio de que o seu navio necessita para manter os níveis de profi ciên-
              cia adquiridos durante o plano de treino. Por melhor retorno que o   –  American Society for Training & Development (2008). Info-
              plano de treino executado pelo CITAN tenha Ɵ do, se o treino não for   line Train the Trainer Vol. 1: FoundaƟ ons & Delivery. Associa-
              conƟ nuado e integrado naquela que é a realidade diária da guarni-  Ɵ on for Talent Development.
              ção do navio, as profi ciências técnicas e não-técnicas irão perder-se   –  Black, R. (2017). Train the Trainer Guide: The EssenƟ al Guide
              e a curva de desempenho começará a cair. É imprescindível que a   for Those Who Wish to Present Workshops and Classes for
              guarnição sinta o treino como seu, se reveja nas valências que ele   Adults. Creatspace Independent Publishing Plaƞ orm.
              pode ter e que compreenda que uma equipa coesa apenas se con-  –  O’Carroll, E. (2012). Train the Trainer: Unlock your potenƟ al
              segue quando o treino se consƟ tuir como um dos alicerces do seu   as a professional trainer. Gill Books.
              funcionamento e existência. “Treinar o Treinador” é ir mais além:


                                                                                                      FEVEREIRO 2021  27
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