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REVISTA DA ARMADA | 560





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              INICIATIVA FAIXA E ROTA:


              AS NOVAS ROTAS DA SEDA



                 primeira ocasião em que esta iniciaƟ va foi mencionada em
              A  público ocorreu em setembro de 2013, quando o presidente
              Xi Jinping se referiu a uma Silk Road Economic Belt (Faixa Eco-
              nómica da Rota da Seda), numa visita ao Cazaquistão. Um mês
              depois, em outubro de 2013, na Indonésia, o presidente chinês
                                                           st
              falou pela primeira vez na MariƟ me Silk Road of the 21
              century (Rota da Seda MaríƟ ma do séc. XXI). Essas eram
              as duas componentes de um projeto estratégico apeli-
              dado de One Belt, One Road (Uma Faixa, Uma Rota),
              que compreendia:
               •  Uma componente terrestre (a Faixa Económica da
                Rota da Seda), que atravessava toda a Eurásia;
               •  Uma componente maríƟ ma (a Rota da Seda Marí-
                Ɵ ma do séc. XXI), através do Oceano Índico e do
                Canal do Suez, até ao Mediterrâneo.
               Entretanto, em 2016, a China alterou a respeƟ va
              designação para Belt and Road IniƟ aƟ ve (IniciaƟ va
              Faixa e Rota), pois a anterior denominação colocava
              demasiada ênfase na palavra “uma”, dando a enten-  A rota da seda (Cartoon de António, publicado no Expresso de 30 de março de 2019)
              der que só haveria uma faixa terrestre e uma rota
              maríƟ ma, quando, na realidade, esta iniciaƟ va prevê a ligação da   próprio presidente Xi Jinping já explicou que a IniciaƟ  va Faixa e
              Ásia, da África e da Europa por vários trajetos diferentes, embora   Rota compreende cinco Ɵ pos de aƟ vidades:
              não se saiba exatamente quantos, pois não se conhece nenhum   •  Coordenação políƟ ca (incluindo a coordenação do desenvolvi-
              plano global, nem nenhum mapa ofi cial do projeto.      mento local, tendo em vista os objeƟ vos da iniciaƟ va);
               Não obstante, em outubro de 2017, a IniciaƟ va Faixa e Rota foi   •  Desenvolvimento infraestrutural (essencialmente ligado à fer-
              incluída na consƟ tuição do ParƟ do Comunista Chinês, tornando-  rovia e às infraestruturas maríƟ mo-portuárias);
              -se, assim, um objeƟ vo estratégico nacional. O principal propósito   • Relações comerciais;
              concreto e imediato desta iniciaƟ va é a construção de infraestru-  • Integração fi nanceira; e
              turas, nomeadamente ferroviárias e maríƟ mo-portuárias,  mas   •  Intercâmbio de pessoas (incluindo trabalhadores e operários,
              também gasodutos e oleodutos, que liguem a China aos países   bem como estudantes, contribuindo, assim, para a redução do
              vizinhos e ao Ocidente Europeu, por terra e por mar, facilitando o   excesso de população com que a China se depara há anos).
              escoamento da produção made in China e assegurando o abaste-  Contudo, além destas aƟ vidades, tem sido evidente a intenção
              cimento energéƟ co do país.                         de, através da IniciaƟ va Faixa e Rota, incrementar a infl uência
               Embora a informação pública ofi cial sobre a IniciaƟ va Faixa e Rota   políƟ ca e moldar uma nova estrutura de governança global, bem
              seja escassa, os seus contornos visíveis têm vindo a evoluir com o   como de expandir a capacidade de intervenção militar. A inaugu-
              tempo, tendo inclusive passado a incluir projetos que foram lança-  ração da primeira base naval chinesa no estrangeiro, no DjibouƟ ,
              dos antes da sua divulgação. Trata-se, assim, de uma iniciaƟ va bas-  no dia 1 de agosto de 2017 (coincidindo com o 90º aniversário das
              tante elásƟ ca e de geometria variável, que está previsto concluir-se   forças armadas chinesas), evidencia essa associação de uma maior
              até 2049, data do centenário da criação da República Popular da   capacidade de intervenção militar à IniciaƟ va Faixa e Rota.
              China. De acordo com os dados das autoridades chinesas, até 2020,   Assim, a iniciaƟ va deve ser entendida sobretudo como uma
              já Ɵ nham sido assinados cerca de 200 documentos de cooperação   marca, ou seja, um rótulo, para encapsular os invesƟ mentos chi-
              com 138 países e 30 organizações internacionais para a edifi cação   neses no exterior e, de alguma forma, toda a políƟ ca  externa
              desta iniciaƟ va, embora não haja nenhuma idenƟ fi cação clara do   chinesa. Por isso mesmo, tem sido habitual integrar no conceito
              valor do invesƟ mento ou dos projetos concretos associados.  abrangente da IniciaƟ va Faixa e Rota todos os macro invesƟ men-
               De qualquer forma, o governo chinês tem anunciado a inicia-  tos da China nas mais variadas áreas.
              Ɵ va como um projeto global para melhorar a coneƟ vidade glo-  Neste quadro e evidenciando a magnitude deste projeto, novas
              bal, assente em propósitos meramente económicos e comerciais,   componentes têm sido acrescentadas, como a Rota da Seda Polar
              visando ganhos mútuos (win-win) para todos os parƟ cipantes. O   (uma rota de transporte maríƟ mo pelo ÁrƟ co), a Rota da Seda


              6    MARÇO 2021
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