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REVISTA DA ARMADA | 560
EMBARQUE PIONEIRO
NO USCG CUTTER STONE
PARTE I
DR
Ao abrigo da cooperação entre a Marinha Portuguesa e a Guarda Costeira dos Estados Unidos, um ofi cial português embarcou no
United States Coast Guard CuƩ er Stone, o mais recente navio daquele ramo militar . Na sua primeira missão operacional o Stone
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navegará pelo Mar das Caraíbas e pelo AtlânƟ co Sul, para reforçar o combate à pesca ilegal, não regulamentada e não declarada.
COOPERAÇÃO LUSOAMERICANA operações interagências, na vigilância maríƟ ma, na proteção do
ambiente marinho, na assistência maríƟ ma, na resposta a desas-
o âmbito dos contactos insƟ tucionais desen- tres e na aƟ vidade piscatória.
Nvolvidos regularmente entre o Estado-Maior
da Armada, através da Divisão de Relações Exter- ORIGEM DO NOME DO NAVIO
nas, e o Adido Naval junto da Embaixada dos Estados Unidos em
Lisboa, idenƟ fi cou-se o interesse em desenvolver um programa de Com a escolha dos nomes para os cuƩ ers da classe Legend, quis-se
cooperação com a United States Coast Guard (USCG). As relações prestar tributo às mulheres e homens com estatuto de “lendas” na
com a Coast Guard são já muito anƟ gas, fruto da cooperação de rica história da USCG. O USCGC Stone honra assim o comandante
âmbito operacional na área do Serviço de Busca e Salvamento Elmer Stone que, curiosamente, tem uma forte ligação a Portugal, já
MaríƟ mo assegurado pela Marinha, nomeadamente entre o que lhe foi concedida a mais elevada ordem honorífi ca portuguesa,
MRCC Delgada e os MRCC Boston, MRCC Norfolk e MRCC San Juan a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
(todos eles guarnecidos pela USCG). Elmer “Archie” Fowler Stone ingressou na USCG em 1910 e, após
Em setembro de 2020 o AcƟ ng Under Secretary of the US Navy, três anos embarcado, solicitou que lhe fosse atribuído um cargo
Mr. Gregory J. Slavonic, visitou Portugal e, na reunião então man- na aviação. Considerava que as aeronaves poderiam ser bastante
Ɵ da com o Almirante CEMA, foi abordado o interesse da Marinha úteis em missões de busca e assistência a navios em emergência
nessa cooperação. Neste enquadramento, em novembro a Mari- ou desaparecidos, algo que era inédito na altura. Foi brevetado em
nha Portuguesa recebeu um convite para que um ofi cial embar- abril de 1917, cabendo-lhe o mérito de ser o primeiro aviador da
casse no USCG CuƩ er Stone durante a sua primeira missão opera- Coast Guard.
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cional – ao largo do conƟ nente americano, com especial enfoque Em 1919 viria a ser um dos pilotos da tripulação do NC-4, um
no Mar das Caraíbas. dos três hidroaviões NC (Navy CurƟ ss) que a US Navy uƟ lizou para
O principal objeƟ vo deste embarque é o estreitamento das rela- tentar a travessia aérea do AtlânƟ co. Os NC-1, NC-3 e NC-4, desco-
ções entre a Marinha e a USCG no âmbito da execução das missões laram de Rockaway (Nova Iorque) no dia 8 de maio. Nesta altura
comuns, nomeadamente observar o modus operandi da Coast não estavam ainda desenvolvidos os métodos de navegação aérea
Guard nas missões de segurança maríƟ ma. O ofi cial irá, portanto, oceânica (sem pontos de referência), mas a US Navy colocou 21
recolher informação sobre táƟ cas, técnicas e procedimentos que dos seus contratorpedeiros entre a Terra Nova e os Açores para
possam consƟ tuir uma mais-valia para a Marinha Portuguesa nas balizar a rota dos hidroaviões.
Tripulação do NC-4. Elmer Stone (segundo Reunião dos aviadores da Aviação Naval com
a contar da direita) foi um dos pilotos deste os tripulantes do NC-4. Destaque para Sacadura
hidroavião que efetuou a primeira travessia Cabral (terceiro a contar da esquerda) e Afonso
O NC-4 em Lisboa. aérea do AtlânƟ co. de Cerqueira (segundo a contar da direita).
8 MARÇO 2021