Page 31 - Revista da Armada
P. 31
REVISTA DA ARMADA | 562
O objetivo deste programa visa a abstinência total do doente tenha um contato próximo e direto com o doente e, desejavel-
em relação ao consumo de substâncias psicoativas ou em relação mente, que tenha realizado o COPCAD. Este OP é chamado à UTI-
a outros comportamentos aditivos, como por exemplo o jogo pa- TA no final do PRI de forma a planificar-se o regresso do militar
tológico. Pretende promover uma mudança de comportamentos ao local de trabalho e respetiva reintegração. Após o PRI, e du-
e atitudes, consciencializando o doente para o seu problema e rante seis meses, o militar deve vir à UTITA uma vez por semana
decorrentes consequências, responsabilizando-o pelo seu pro- para frequentar sessões de prevenção de recaída, assim como a
cesso de tratamento e recuperação. Ou seja, pretende promover consultas médicas e de psicologia. Neste período são igualmente
a adoção de um estilo de vida saudável. submetidos, quinzenalmente, a rastreios toxicológicos (análises
sanguíneas e testes de alcoolemia) na Unidade onde prestam ser-
AP- Como é a rotina num PRI? viço, como forma de prevenção de recaída. Findo os seis meses,
CR- Durante as 4 semanas de internamento o doente tem uma o OP deve enviar para a UTITA um parecer acerca do militar rela-
rotina diária que se concretiza em dinâmicas de grupo psicotera- tivamente ao seu desempenho profissional.
pêuticas (sessões de psicoterapia de grupo, psicopedagogia, acon-
selhamento em adição e aconselhamento espiritual), consultas AP- Sabendo que o apoio familiar é fundamental no tratamen-
médicas e de acompanhamento psicológico individual, sessões de to da adição, o vosso método de tratamento envolve de alguma
relaxamento, exercício físico, atividades hortícolas, momentos de forma os familiares dos aditos?
estudo e de trabalho, assim como reuniões com os grupos dos Al- CR- Sim, a família é parte essencial no processo de reabilitação e
coólicos Anónimos, Narcóticos Anónimos e Jogadores Anónimos. é importante que eles exprimam os seus anseios, receios e expe-
tativas, transmitindo a sua visão de como o problema de adição
AP- Como é preparado o regresso destes militares ao seu local tem afetado a sua família. Na semana que antecede o PRI há uma
de trabalho? sessão de aconselhamento familiar para preparação do interna-
CR- A cada militar que realiza o PRI é-lhe atribuído um Operador mento e, na última semana do PRI, há nova sessão familiar para
de Prevenção (OP), que pode ser um Sargento ou um Oficial que preparar o regresso a casa do doente. Os familiares dos doentes
têm, também eles, apoio psicológico através de sessões de psico-
terapia familiar, que decorrem durante o PRI, em conjunto com
o doente.
AP- Quem pode utilizar os serviços disponibilizados na UTITA?
CR- A UTITA disponibiliza os seus serviços a todos os militares e
militarizados das FFAA. Como serviço de utilidade pública presta-
mos igualmente apoio, através da capacidade sobrante, à Polícia
de Segurança Pública, militares da Guarda Nacional Republicana,
a entidades protocoladas e a civis que recorrem a título particu-
lar. Por norma, os doentes chegam a esta Unidade referenciados
por profissionais de saúde ou pelas suas chefias diretas. Habitu-
almente não vêm por iniciativa própria porque um dos sintomas
desta doença é a negação e por isso estes doentes tendem a não
reconhecerem que precisam de ajuda, não imaginam a sua vida
sem o consumo e muitas vezes já estão tão afetados psicologi-
camente que não conseguem ter uma leitura da realidade, e de
si próprios, coesa e integrada. Quando são referenciados e enca-
minhados para a UTITA, começam por fazer uma consulta de ad-
missão de enfermagem, seguida de consulta de aconselhamento
em adição e, por último, consulta de psiquiatria. Posteriormente,
realizam avaliação psicológica na consulta de psicologia clínica, as-
sim como outros exames complementares de diagnóstico (ECD).
No final destas consultas e dos dados obtidos nos ECD, discute-se
em reunião clínica se o utente reúne critérios de dependência e
outros (mobilidade e autonomia, enquadramento laboral, supor-
te familiar e a estabilização de comorbilidades psiquiátricas e or-
gânicas) para realizar este tipo de tratamento. Caso tenha, então
planifica-se a desintoxicação, se for necessário, e prepara-se a
entrada no PRI. Se apresentar critérios de dependência, mas não
apresentar critérios para realizar este tratamento, encaminhamos
para outras instituições ou clínicas. Se apenas apresentar critérios
de consumos de risco ou nocivo, fica em acompanhamento am-
bulatório (consultas de psicologia clínica e se necessário também
consultas de psiquiatria).
Ana Cristina Pratas
CTEN MN
www.facebook.com/participanosaudeparatodos
MAIO 2021AIO 2021
M 31