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REVISTA DA ARMADA | 562

          SAÚDE PARA TODOS                                                                                 86



          UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO DE


          TOXICODEPENDÊNCIA E ALCOOLISMO




          A adição é uma doença. É crónica, progressiva e com bastantes repercussões a nível emocional, físico, social, familiar, laboral ou
          mesmo económico. Os doentes são impelidos a repetir, de forma compulsiva e involuntária, um comportamento recompensante que
          lhes traz sensação de prazer imediato (consumo álcool/drogas/medicamentos, jogos de azar, internet, pornografia, exercício físico ou
          mesmo compras). Além da perda de controlo que estes doentes apresentam, é caraterística a sua negação, habitualmente desvalori-
          zando as consequências destrutivas que este problema de saúde lhes traz. Apesar de ser uma doença crónica, tal como tantas outras,
          se diagnosticada e adequadamente tratada o adito poderá voltar a ter uma vida equilibrada, saudável e feliz. Um tratamento de su-
          cesso exige o reconhecimento do problema, a motivação para o ultrapassar, a adaptação do estilo de vida, e, acima de tudo, o apoio
          profissional, familiar, social e da comunidade.
          A Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependência e Alcoolismo (UTITA), localizada na Base Naval de Lisboa (no Alfeite), atual-
          mente na dependência do Hospital das Forças Armadas, é um dos recursos disponíveis no processo de reconhecimento e tratamento
          da doença aditiva. Para perceber um pouco melhor a missão desta Unidade, que celebra este ano 28 anos de existência, foi pedida a
          colaboração da 2TEN TSN Carolina Rodrigues, psicóloga clínica, Chefe do Serviço de Psicologia da UTITA.

           AP- Quantas pessoas trabalham na UTITA?
           CR- Atualmente trabalham na UTITA 15 pessoas, entre os quais
          militares  dos  três  ramos  das  Forças  Armadas  (FFAA)  e  civis.  O
          departamento  clínico  é  multidisciplinar  e  constituído  por  pro-
          fissionais qualificados, designadamente médicos (de diferentes
          especialidades), psicólogos clínicos, conselheiros em adição, en-
          fermeiros, capelão e instrutores de educação física (em parceria
          com o Centro de Educação Física da Armada).

           AP- Quais as áreas de intervenção principais onde a UTITA atua?
           CR- A UTITA está vocacionada para a intervenção em meio la-
          boral nomeadamente na prevenção e tratamento do consumo
          de risco, consumo nocivo e dependência de substâncias psicoa-
          tivas (substâncias alteradoras do humor), bem como de compor-
          tamentos aditivos. A prevenção materializa-se através do nosso
          programa de intervenção primária, que implica ações de sensibi-
          lização aos militares, militarizados, civis, bem como suas chefias,
          em todas as unidades dos três ramos das FFAA. Relativamente ao
          tratamento, este pode ocorrer em regime de ambulatório ou re-
          sidencial. Para além desta atividade clínica, a UTITA apoia as uni-
          dades, estabelecimentos e órgãos militares na implementação do
          programa de prevenção dos comportamentos aditivos e combate
          às dependências nas FFAA e promove a formação e coordenação
          técnico-científica no Curso de Operadores de Prevenção em Com-
          portamentos Aditivos e Dependências (COPCAD).

           AP- Pode descriminar no que consiste esse programa de reabi-
          litação em regime residencial?
           CR-  A  UTITA  realiza  regularmente  um  Programa  Rzesidencial
          Intensivo (PRI) biopsicossocial com 4 semanas de duração, em
          internamento.  Quando  necessário,  é  realizada  desintoxicação
          prévia (em ambulatório ou internamento hospitalar de curta du-
          ração). É um tratamento fechado, ou seja, o grupo começa no
          mesmo dia e termina no mesmo dia, com o máximo de 10 ele-
          mentos (masculinos e femininos) por PRI. No mesmo grupo de
          tratamento  podem  estar  pessoas  com  dependência  de  álcool,
          drogas e de jogo. Este tratamento baseia-se no Modelo Minneso-
          ta, na filosofia dos 12 Passos dos Alcoólicos Anónimos e Narcóti-
          cos Anónimos, coadjuvado por uma metodologia de avaliação e
          monitorização clínica – modelo multidimensional, proposto pela
          Sociedade Americana de Medicina da Adição.


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