Page 4 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 564
















































         50 ANOS DE HISTÓRIA:



         ALTERAÇÕES GEOPOLÍTICAS E GEOESTRATÉGICAS




          Na comemoração do meio centenário da Revista da Armada, correspondente a uma história ademais de ilustre já provecta, atendendo
          à volatilidade dos tempos que correm, cabe-me traçar umas quantas linhas sobre as alterações geopolíticas e geoestratégicas ocorridas
          entre 1971 e 2021, acompanhando o aniversário da Revista.

         EM PLENA GUERRA FRIA                                 a processos ainda a incoar, ou que ainda não se deixem perscru-
                                                              tar em toda a sua dimensão. Também pode acontecer simples-
            ão é fácil fazer coincidir a história com datas precisas, mas tam-  mente não termos olhos para a perspectiva de longa duração.
         Nbém não é questão de meramente por lá adregar. Em 1971 ain-  Geralmente, o presentismo nem se apercebe do sentido das rup-
         da os Estados Unidos estavam mergulhados na Guerra do Vietname   turas, quando as há, nem dos processos longos, vendo antes em
         e, nesse mesmo ano, tinham estendido a guerra secreta no Laos.   cada facto um acontecimento, em geral uma catástrofe, cada vez
         Talvez muito mais importante, sinal dos tempos, do novo peso da   menos um bom augúrio, procurando depois cenarizar, com base
         República Popular da China e do anúncio do presidente Nixon da   nas preocupações imediatas, o sentido do futuro, projectado não
         existência de planos para uma viagem oficial à China, concretizada   a partir da transitividade, do evolver, mas das mais prementes e
         em 1972, esta adquire a vaga de Taiwan nas Nações Unidas.  efémeras considerações coevas.
           Aquilo que se quer realçar com isto é, por um lado, as rever-  Em 1971 era fácil verificar que o empenhamento norte-ameri-
         berações de média e longa duração na história, para as quais só   cano no Vietname não corria bem, prognosticando, por sua vez,
         conseguimos dispor de uma leitura mais equilibrada ao fim de   o reforço do bloco antagónico, liderado pela União Soviética, na
         uns quantos decénios, senão, em muitos casos, pelo menos um   Guerra Fria. Outrossim, pela China, a sair dos anos mais agudos
         século e, por outro lado, as mudanças conjunturais não fáceis   da revolução cultural, ninguém terçava armas. E no entanto, as
         de prever, para já nada dizer dos acontecimentos revulsivos, dos   bases económicas da economia do Pacífico iam germinando, em-
         cisnes negros, totalmente inesperados. Naturalmente, também   bora o maior dos oceanos não tivesse ainda a importância geoes-
         essas reverberações de longa duração tem o seu quê de inespera-  tratégica que veio a adquirir, tal a centralidade do Atlântico para
         do, na medida em que podemos a dado momento estar a assistir   o esforço norte-americano no confronto bipolar. O Vietname era


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