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REVISTA DA ARMADA | 564
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PADRÃO DE CONFLITUALIDADE ENTRE POTÊNCIAS 2020
Fonte: Autor
PROCESSOS EM CURSO NA RECONFIGURAÇÃO DO e Golfo Pérsico/Médio Oriente – está ela própria também a definir
SISTEMA INTERNACIONAL uma nova configuração para a sua existência geoeconómica e es-
tratégica futura, em torno do objetivo de Autonomia Estratégica.
Consideramos que as principais potências vão estar envolvidas em O modo como analisamos a evolução destes processos permi-
3 grandes processos que irão reformular o Sistema Internacional: tiu-nos distinguir, por um lado os Movimentos da China, e por
• Um processo de natureza geoeconómica abrangente – o futu- outro os movimentos de resposta de outras potências.
ro da Globalização, tendo como fulcro o que se vier passar na
Ásia, uma vez terminada a fase de complementaridade entre OS MOVIMENTOS DA CHINA – E O SEU
a economia dos EUA e as economias da Ásia Pacífico -nomea-
damente com a economia da China – que caracterizou a fase SIGNIFICADO
anterior da Globalização (1980-2010/12);
• Um processo de natureza estratégica e geopolítica – a emer- Eis a elencagem dos principais movimentos da China:
gência de um Mundo Multipolar, no qual está por definir a hie- • Ao nível do processo geoeconómico, a China pretendeu orga-
rarquia de poder e os alinhamentos entre potências que a su- nizar um espaço de comércio e investimento asiático – ou seja,
portem – tendo como fulcro a rivalidade entre os EUA e China
em termos de poder militar e de influência geopolítica global, excluindo os EUA – mas para tal precisou da colaboração de alia-
que referimos anteriormente, mas que se vai desenvolver no dos dos EUA – Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e
contexto de divisões no seio da Ásia; e Tailândia - para a criação do Regional and Comprehensive Econo-
• Um processo de natureza ambiental, centrado no objetivo mic Partnership (RCEP), que materializou este processo.
consensualizado pela comunidade internacional de reduzir • Ao nível do processo geopolítico, a China organizou uma parce-
drasticamente as emissões de CO2 no horizonte 2050, o que ria com a Rússia na Organização de Cooperação de Xangai (OCX)
exige no longo prazo uma mudança radical do paradigma ener- – que lhe abriu o Espaço Euroasiático, facilitando-lhe a entrada
gético – das tecnologias e das formas de energia primária que na Ásia Central ex-soviética, cujos Estados são membros funda-
suportem esse novo paradigma. Processo que pode ameaçar dores daquela organização. E lançou a Iniciativa One Belt One
a sobrevivência económica das economias atualmente es- Road – as “Novas Rotas da Seda” – cujo vetor central é euroasi-
pecializadas na produção e venda de petróleo e gás natural,
localizadas no Médio Oriente e na Ásia Central – economias ático, ligando a China à Europa por via terrestre.
em sociedades islâmicas, desencadeando uma revolta que • No Golfo Pérsico/Médio Oriente a China optou em 2020 pela
facilmente ganhará dimensões religiosas. criação de uma parceria estratégica com o Irão, procurando
A União Europeia, com limitada influência nas zonas de maior con- manter relações cooperativas com os Estados Árabes do Golfo,
fronto que o alinhamento das potências está a definir – Indo-Pacífico adversários do Irão e tradicionais aliados dos EUA.
8 JULHO 2021