Page 24 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 565
DA DOCA DO BOM SUCESSO
À PENÍNSULA DO MONTIJO (1919 - 1953)
A EDIFICAÇÃO DO CENTRO DE AVIAÇÃO
NAVAL SACADURA CABRAL
MONTIJO – MERA POSSIBILIDADE de aviação. Não querendo perder a possibilidade de aí se insta-
lar, a Aviação Naval (AN) retomaria também ela o “projeto Mon-
uitos dos estudiosos que têm dedicado parte do seu tem- tijo”, criando para tal, a 2 de janeiro de 1933, uma Comissão
Mpo ao exame da implementação do Centro de Aviação de Estudo relativa à localização do novo Centro e cujo parecer
Naval de Lisboa no Montijo, associam esta península à aviação apontaria igualmente o Montijo como solução adequada.
desde o final do ano de 1919. É facto que, a 3 de novembro
desse ano, Artur de Sacadura Cabral se dirigiu a esta localidade, MONTIJO – ESTUDOS E ARGUMENTOS A FAVOR I
afirmando que “Este local pareceu-me conveniente para insta-
lação, não só de uma estação de aviação marítima, mas de um Três anos volvidos, caberia ao 1TEN Carlos Cardoso de Olivei-
porto marítimo e terrestre”. ra, mandatado pelo Ministro da Marinha, iniciar o estudo rela-
O que aparece menos estudado é que a implementação do tivo à transferência do CAN de Lisboa para o Montijo. Cardoso
Centro de Aviação Naval (CAN) neste local esteve, em verdade, de Oliveira encetaria assim esforços e produziria aquele que é
para não acontecer, pois encontrava-se igualmente projetada, um dos mais completos, abrangentes e esclarecidos estudos re-
para a península montijense, a construção de um porto comer- lativos a esta temática; redigido sob o título Transferência do
cial marítimo, o qual serviria toda a zona sul do país; ou seja, Centro de Aviação Naval de Lisboa para o Montijo - Primeiro
no período que medeia 1919 e 1930 a questão aeronáutica no Estudo feito pelo 1.º Tenente Cardoso de Oliveira, o documento
Montijo foi praticamente deixada de lado, uma vez os planos seria trazido à estampa em 1938.
para implementação do referido porto comercial corriam a bom Porém, e enquanto decorriam tais estudos, agudizavam-se as
ritmo, sendo uma quase certeza a sua construção. dificuldades sentidas no Bom Sucesso. As parcas dimensões e
A não edificação deste projeto levou, todavia, a que o interes- as limitadas capacidades do CAN limitavam a operação diária e,
se pela península do Montijo por parte da aviação renasces- em última instância, o processo de escolha e aquisição de novos
se, desta vez por parte da Companhia Portugueza de Aviação, meios aéreos, pelo que a transferência era uma necessidade pre-
a qual demonstrava interesse em aqui implementar um porto mente dos aviadores navais. Recorde-se que em 1937, em nota
Construção da zona oficinal do novo Centro de Aviação Naval, vendo-se,
ao fundo à direita, praticamente pronto, o edifício do Comando.
Foto Arquivo Histórico da Força Aérea
24 AGOSTO 2021