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REVISTA DA ARMADA | 565














          A CRIMINALIDADE



          MARÍTIMA NO


          GOLFO DA GUINÉ




          TIPOLOGIA ATUAL, AMEAÇAS

          PREMENTES PARA SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

          PARTE 1





                                                                  2
          O Golfo da Guiné (GdG) é uma vasta área de cerca de 2.3 milhões de km , com uma linha de costa de 6.000 km – entre o Senegal e
          Angola – e compreendendo um total de 19 países ribeirinhos.
          Irá ser feita uma breve contextualização do GdG e das Comunidades que o englobam, antes de se abordar o caso específico de São
          Tomé e Príncipe (STP).

          POTENCIALIDADES E AMEAÇAS                           pela  corrupção  regional,  altos  níveis  de  desemprego  e  falta  de
                                                              boa  governança.  O  GdG  é,  atualmente,  uma  das  mais  perigosas
            rata-se  de  uma  região  com  uma  considerável  riqueza  em   e  instáveis  regiões  marítimas  do  mundo,  devido  aos  crescentes
         Ttermos de recursos naturais, designadamente hidrocarbonetos,   fenómenos de criminalidade marítima, pirataria, pesca ilegal, tráfico
          minerais, pesca, entre muitas outras riquezas, o que lhe confere   estupefacientes, imigração ilegal, tráfico de pessoas, entre outras.
          uma  importância  estratégica,  sobretudo  por  se  constituir  como   As forças de segurança e de defesa da região estão bastante en-
          um “choke point” energético para países que procuram diversificar   volvidas em múltiplos desafios, e mais focados em terra do que
          fontes de abastecimento.                            no mar, resultando num conhecimento situacional marítimo mui-
           O GdG representa cerca de 70% da capacidade de produção de   to baixo. O mar, para muitos países do Golfo, representa apenas
          petróleo e gás natural de toda a África. Por seu lado, o continente   uma fonte de exploração off-shore de hidrocarbonetos.
          africano representa 13% da produção mundial petróleo e 7% do
          gás natural. Para os Estados Unidos da América (EUA), a Nigéria
          é o 3.º maior exportador de petróleo, seguida pelo Gabão e por
          Angola. A União Europeia (UE) importa cerca de 6.5% de petróleo
          da região do Golfo.
           Quando se fala do GdG, é incontornável mencionar a Nigéria en-
          quanto centro de gravidade da região. O seu setor petrolífero re-
          presenta 75% de receitas do Estado e 90% do total de exportações.
           O GdG concentra também um dos mais ricos bancos de pes-
          ca do mundo e representa cerca de 4% de produção mundial de
          pescado. Este setor é critico para o emprego de milhões de pes-
          soas na região – só na África Ocidental estima-se haver cerca de
          25% dos empregos ligados a este setor.
           As águas do Golfo são cruzadas diariamente por cerca de 1500
          navios (pesca, carga, petroleiros), representando um quarto do
          tráfego marítimo de toda a África (Fig. 1).
           Todos estes recursos contribuem para um dinamismo econó-
          mico da região, com um crescente potencial económico para os
          próximos anos.
           Este  potencial  regional  atraiu  atores  não-estatais  que,  na  falta
          de  oportunidades  económicas  noutras  regiões,  enveredaram  por   Fig. 1 - Densidade do tráfego marítimo.
          atividades ilícitas e criminais, as quais foram largamente potenciadas   Fonte: Maritime Traffic (2021)


                                                                                                   AGOSTO 2021  21
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