Page 23 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 567

          aprendizagem e de partilha de competências enorme, que passa   – O Planetário Calouste Gulbenkian
          quase despercebida. O mesmo se passa em terra, mas em menor   – A Fragata D. Fernando II e Glória.
          dimensão, face à dispersão dos militares.            E ainda a Banda da Armada, que tem realizado concertos por
                                                              todo o país e em vários países estrangeiros, com uma produção
          DIVERSIDADE CULTURAL PESSOAL                        artística notável, também registada em vinis, cassetes e CD’s.
                                                               Para dirigir as atividades dos Órgãos de Natureza Cultural existe
           Desde que se estruturou uma verdadeira carreira de oficiais da   a Comissão Cultural de Marinha, liderada por um oficial general.
          Armada, há mais de duzentos anos, sempre houve alguns que
          mais se dedicaram ao estudo e investigação e transmitiram muito  APRENDENDIZAGEM INCENTIVADA
         do seu saber através dos seus escritos.              PELO CONVÍVIO
           São  em  grande  número  os  oficiais  que  lecionaram  na  Escola
          Naval (criada em 1845) e nos estabelecimentos de ensino que   Todos  os  servidores  da  Marinha,  em  terra  ou  no  mar,  têm
         a  antecederam  no  século  XVIII,  deixando  um  rasto  de  saber   vastas oportunidades para aprender no seu dia a dia, desde que
         verdadeiramente notável.                             estejam interessados em o fazer. Podem sempre progredir por
           Outros, lecionaram (e continuam a lecionar) em Universidades e   sua iniciativa ou aproveitando as oportunidades expressamente
         Politécnicos, como professores convidados ou depois de deixarem   criadas pela organização.
          o serviço ativo na Marinha, produzindo ciência e divulgando-a.   Os contactos entre pessoas são fundamentais para que as boas
           Há  muitos  anos  que  militares  da  Marinha,  de  todas  as   influências tenham efeitos, por vezes prodigiosos. É claro que tem
          categorias,  fazem  mestrados  e  doutoramentos,  por  vezes  em   que haver uma predisposição, que nem sempre existe. Contudo,
         áreas  muito  distintas  da  esfera  naval  ou  marítima.  Todos  são   são imensos os exemplos positivos.
         bem-vindos e contribuem, em maior ou menor grau, para que   Há pouco tempo um ex-marinheiro da recruta de 1965 contou
         os  camaradas  possam  absorver  mais  alguns  conhecimentos,   este episódio:
         através da sua convivência.                           – Estava eu a bordo dum navio a ler uma revista dos chamados
           Hoje em dia dispomos de um vastíssimo património escrito por   quadradinhos, quando um Primeiro-tenente, teve uma conversa
          militares da Marinha em livros, revistas, jornais e também em   comigo e me fez pensar em ler outras matérias mais profícuas e
         publicações regulares, havendo a destacar as seguintes:  como isso me poderia ser útil. Foi tão importante este alerta, que
           –  Os  Anais  do  Clube  Militar  Naval,  que  se  publicam   resolvi mudar as minhas expectativas e singrei bastante na vida,
          ininterruptamente há 150 anos.                      em função deste conselho.
           – As Memórias (anuais) da Academia de Marinha, cuja criação   Num outro nível, alguns oficiais, já muito antigos, costumavam
         remonta a 1978, sendo a herdeira natural do Grupo de Estudos   almoçar na messe de oficias em Lisboa com um Vice-Almirante
          de História Marítima (GEHM), fundado em 1969.       reformado,  muito  conhecido  pelas  obras  publicadas  e  pelas
           –  A  Revista  de  Marinha,  fundada  há  84  anos  por  iniciativa   funções  docentes  na  Universidade.  Estes  almoços  eram  de
          privada e que se publica de dois em dois meses, sendo dirigida   uma riqueza excecional, porque a conversa nunca era vazia de
          por um oficial da Armada reformado.                 conteúdo. Os seus conhecimentos e capacidades, alicerçados em
           –  Os  Cadernos  Navais,  da  responsabilidade  do  Centro  de   estudos e ponderações, constituíam verdadeiras lições em áreas
          Estudos  Estratégicos  da  Marinha  e  cujo  primeiro  número  foi   de estudo vastíssimas, nomeadamente relações internacionais,
          publicado em 2002.                                  ciência política e estratégia geral. Quem o ouvia e participava nos
           – A Revista da Armada, uma publicação oficial da Marinha, com   seus raciocínios acumulava sabedoria equivalente a frequentar
          periodicidade mensal, criada em 1971.               um curso multidisciplinar.
           As  edições  culturais  da  Marinha  promovem  a  publicação  de   Ao  longo  de  muitas  décadas  de  vivência  na  Marinha  muitos
          livros  escritos  por  militares  da  Marinha  e  por  outros  autores,   outros  exemplos  poderiam  ser  invocados,  tendo  em  vista  a
          sobre temas relacionados com o âmbito marítimo.     mesma conclusão.
           Merece  especial  destaque  a  Academia  de  Marinha  pela  sua
          intensa  atividade.  Todas  as  terças  feiras  (com  exceção  do  mês   SEMPRE A APRENDER NA “UNIVERSIDADE”
          de  agosto  e  períodos  festivos)  são  organizadas  conferências
          com  convidados  de  elevada  craveira,  sejam  ou  não  membros   A Marinha, como Ramo das Forças Armadas, é uma organização
          da  mesma  academia  e  muitos  deles  com  reputada  carreira   hierarquizada,  mas  é  constituída  por  um  conjunto  de  pessoas
          universitária, assim como ilustres figuras da sociedade civil. Para   que interagem de uma forma especial e muitas vezes prolongada
          além das suas Memórias (já referidas) e das atas dos Simpósios, a   no tempo, em situações que favorecem e promovem a troca de
          Academia de Marinha publica livros temáticos sempre que o seu   conhecimentos  de  forma  natural  e  intensa.  Os  que  querem  e
          interesse o justifique.                             gostam de aprender e ensinar têm muitas oportunidades para o
                                                              fazer e não faltam bons exemplos a seguir, que se podem avaliar
          DIVERSIDADE CULTURAL INSTITUCIONAL                  pela imensa obra produzida ao longo de sete séculos.
                                                               A Marinha pode considerar-se, sem dúvida, uma universidade
           A Marinha dispõe de um conjunto apreciável de órgãos culturais   informal, onde todos são simultaneamente professores e alunos,
          que  constituem  verdadeiras  fontes  de  conhecimento  para  o   com  aproveitamento  diferenciado,  de  acordo  com  as  suas
         público em geral, mas, evidentemente, para todos os militares,   capacidades e a sua vontade. Muitas vezes aprende-se e ensina-
          militarizados e civis da Marinha, que queiram usufruir das suas   se, só se apercebendo bastante mais tarde dessa circunstância.
         facilidades.                                          Uma universidade informal e espontânea, que funciona todos
           Estão assim classificados:                         os dias e noites, onde basta a atenção, o respeito mútuo e o gosto
           – O Museu de Marinha.                              de bem servir, para ter um bom aproveitamento.
           – O Aquário Vasco da Gama.
           – A Biblioteca Central de Marinha.                                                    Victor Lopo Cajarabille
           – O Arquivo Histórico de Marinha.                                                                VALM


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