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Entre as distinções e condecorações que lhe foram atribuídas
destaca-se a de Comendador da Ordem Militar de Avis (1 de Notas
1 José Medeiros Ferreiras, O Comportamento Político dos Militares. Forças Armadas
março de 1919); por portaria de 15 de outubro desse ano, foi e regimes políticos em Portugal no Século XX, Lisboa, Editorial Estampa, 1992, p.51
“louvado pelo auxílio eficaz que prestou no comando das forças 2 Em alusão à obra-prima do escritor francês Victor Hugo, “Les Misérables”.
de ataque a Monsanto, no que demonstrou muita lealdade e Veja-se Rocha Martins, Pimenta de Castro. Ditador Democrático, Lisboa, Bonecos
Rebeldes, 2009, p.13.
dedicação à República”; recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar 3 A entrega das espadas ao Presidente da República, por alguns oficiais do Exército,
de Cristo (28 de janeiro de 1923) e a de Grande-Oficial da e Machado Santos , o oficial da Marinha herói da Rotunda do 5 de outubro de 1910.
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Coligação governativa, promovida pelo Presidente da República Bernardino Ma-
Ordem Militar de S. Bento de Avis (5 de outubro de 1930). chado, em 1916, entre os partidos Democrático (Afonso Costa) e Evolucionista
No ano de 1935, termina a sua longa carreira na Marinha, onde (António José de Almeida), por via de um compromisso de apaziguamento da luta
político-partidária em torno da intervenção de Portugal na Grande Guerra.
se distinguira como engenheiro-hidrógrafo e professor, e por 5 Biblioteca Central da Marinha-Arquivo Histórico, Processo Individual de Vítor de
esse via participara ativamente na política durante a Primeira Azevedo Coutinho, Caixas 735-1410.
A.H. Oliveira Marques, O Segundo Governo de Afonso Costa 1915-1916. Actas
República. O Comte. Vítor Hugo de Azevedo Coutinho viria a 6 dos Conselhos de Ministros Lisboa, Edições Europa- América, 1974, p.69.
falecer vinte anos mais tarde, em Lisboa, a 7 de junho de 1955. 7 O Foca, O Hidra e O Golfinho, que formariam com o Espadarte a primeira esqua-
drilha de submarinos portuguesa.
8 Biblioteca Central da Marinha-Arquivo Histórico, Livro de Actas do Conselho Su-
perior de Defesa Nacional,1916, Núcleo 2770.
9 Viriato Tadeu, Quando a Marinha Tinha Asas…Anotações para a História da Avia-
Carlos Manuel Baptista Valentim ção Naval Portuguesa (1916-1952), 2ª Edição Revista, Lisboa, Comissão Cultural
de Marinha, 2017, p. 217.
CTEN TSN-HIS
ALOCUÇÕES DO MINISTRO DA MARINHA NO SENADO AQUANDO
DA 1ª TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO SUL
«Sr. Presidente: … Deixe-me V. Exa. dizer que eu, como Ministro As esperanças que eu tenho em que a travessia se faça sem
da Marinha, me sinto nesta ocasião tomado por um orgulho nos preocupar são hoje absolutamente garantidas. Antes de
absolutamente legítimo, orgulho que nasce do reconhecer nessa mais nada, devo comunicar à Câmara que o hidro-avião chegou
tentativa não só a alma portuguesa que tanto se tem manifestado às 15 horas às Canárias.
em todas as épocas, mas também porque, paralelamente, eu Vozes: – Bravo. Bravo.
vejo nesse esforço alguma cousa de grande, alguma cousa de O Orador: – Levantou voo às 7 horas, de Belém, e às 15 horas
científico, alguma cousa, enfim, que faz com e no essa tentativa estava nas Canárias.
não possa ser considerada como uma aventura. Vozes: – Bravo. Bravo.
Essa tentativa representa a ciência aliada à coragem. O Orador: – Deve-se isso à ciência de quem vai a bordo do
(Apoiados). hidro-avião.
Sr. Presidente: eu acompanhei, e digo isto com orgulho, bem Tive ocasião de verificar que a linha percorrida é rigorosamente
de perto todos os esforços feitos por Gago Coutinho e Sacadura
Cabral, dando, como membro do Governo, todo o carinho a aquela que tinha sido traçada.
essa iniciativa e prestando-lhe todas as facilidades. Fi-lo porque Vozes: – Bravo. Bravo.
sei o grande valor de Gago Coutinho; fi-lo porque avalio a O Orador: – Por consequência, não é uma aventura, mas um
grande coragem do Sacadura Cabral. (Apoiados). trabalho de muita ciência.
Este exemplo frutifica! Que todos nós saibamos aproveitar O Sr. Oriol Pena referiu-se a despesas de 3:000 contos. E devo
as suas grandes qualidades de coragem e de abnegação, o que dizer que o Ministério da Marinha não tem necessidade de
saibamos apreciar e respeitar o grande valor do Gago Coutinho. verbas especiais para este empreendimento.
Até aqui falou o português, agora vai falar o Ministro da É dentro das verbas votadas, dentro das verbas orçamentais
Marinha. que se fazem todas as despesas. É meu dever portanto dispensar
Como Ministro, vou responder ao Sr. Oriol Pena. Referiu-se toda a pretensão a este empreendimento e é isso que eu tenho
S. Exa. às anteriores travessias do Atlântico. Sabe S. Exa. que feito, assim como é necessário pôr os navios a navegar porque
essas travessias se fizeram exactamente na parte mais estreita foi para isso que eles se fizeram. (Apoiados repetidos).»
do Oceano Atlântico. Nenhuma delas se pode comparar com
esta, em extensão.
In Diário das Sessões do Senado, 30 de Março de 1922
26 NOVEMBRO 2021