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REVISTA DA ARMADA | 567
CMG VÍTOR HUGO DE AZEVEDO
COUTINHO (1871-1955)
ENGENHEIRO-HIDRÓGRAFO, PROFESSOR E MINISTRO
NA PRIMEIRA RÉPUBLICA
CONCLUSÃO
Passada em revista o início da carreira naval e política deste muito distinto oficial de Marinha (ver Parte I na RA nº 566), refira-se
agora o seu percurso político, científico, académico e, até, no setor privado, a par da carreira como oficial. De relevar as medidas que
colocou em prática como Ministro da Marinha em vários Governos do Partido Democrático, as quais tiveram um impacto profundo na
evolução da política naval durante a Primeira República, contribuindo para modernização dos meios navais – através da aquisição de
três novos submarinos e da introdução da aviação naval na Armada Portuguesa.
MINISTRO DA MARINHA E PRIMEIRO-MINISTRO Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, tornou-se impopular, e de forma
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jocosa e malévola, foi apodado dos “Miseráveis de Vítor Hugo” .
atividade política de Azevedo Coutinho enquanto Ministro A 25 de janeiro de 1915 Vítor de Azevedo Coutinho é
A da Marinha, durante a Grande Guerra (1914-1918), é bas- desapossado de Presidente de Ministério pelo Golpe das Espadas 3
tante relevante, comportando importantes decisões no quadro e substituído pelo General Pimenta de Castro, que irá optar por
de uma formulação política que ultrapassasse as divisões inter- uma política externa centrada na neutralidade portuguesa.
nas, os dilemas da neutralidade/beligerância, e mobilizasse os Com a queda da breve ditadura do velho General, a 14 de maio
meios necessários para a intervenção portuguesa no conflito. de 1915, Azevedo Coutinho reassume funções no Governo como
Assinale-se que, na ausência de uma declaração de guerra for- Ministro da Marinha. Vai ainda integrar um Ministério presidido
mal, ou de uma participação oficial de Portugal na guerra, nos por Afonso Costa (29 de novembro de 1915 - 16 de março de 1916)
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meses de setembro e outubro de 1914 tinham sido enviadas e um dos governos da União Sagrada , chefiado por António José
forças militares expedicionárias para Angola e Moçambique. de Almeida (16 de março de 1916 - 25 de abril de 1917).
Nessa conjuntura, dominada pela Grande Guerra,
o Comandante Vítor de Azevedo Coutinho, que presidia ENTRADA NA GUERRA
à Câmara de Deputados, é incumbido pelo Presidente da
República, Dr. Manuel de Arriaga, de presidir a um Ministério Com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, a 9 de
do Partido Democrático, que contava com 5 militares – sinal do março de 1916, estes governos, onde marca presença Vítor
peso crescente dos militares nas decisões políticas . Hugo de Azevedo Coutinho, colocam em prática uma política de
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O governo toma posse a 12 de dezembro de 1914 e Azevedo beligerância: a mobilização de um Corpo Militar Expedicionário,
Coutinho acumula as funções de Ministro da Marinha. Perante com milhares de homens a partir para o norte da França, para
uma resistência política acesa dos Partidos Evolucionista e a Flandres e para os territórios africanos; e a aprovação de um
Unionista, que se associam a setores do Exército e a grupos conjunto de medidas para garantir a segurança das linhas de
de monárquicos e católicos, o governo presidido pelo Comte. navegação na costa portuguesa e manter afastada a ameaça dos
submarinos alemães.
Em exortação à Marinha, a 30 de
março de 1916, após a declaração
de guerra alemã, Vítor de Azevedo
Coutinho antecipa: “É pois à Marinha
que, presumivelmente, caberá a honra
de parar os primeiros embates e de
inutilizar as primeiras arremetidas do
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inimigo” . Naturalmente, à Marinha
Portuguesa competiria um conjunto de
tarefas e missões na frente marítima
da guerra.
O Ministro da Marinha vai apoiar Leote
do Rego, o Comandante da Divisão
Naval de Defesa e Instrução do porto
de Lisboa, nas ações de planeamento
e execução dos objetivos traçados
para as forças navais portuguesas.
Com base nos estudos e levantamento
de dados por si determinados, na
24 NOVEMBRO 2021