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REVISTA DA ARMADA | 567
avaliação de Vítor de Azevedo
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Coutinho, a Marinha Portuguesa
de então serviria simplesmente
para colaborar na defesa do porto
de Lisboa. Ainda segundo este
Ministro da Marinha, deveria dar-
se a máxima atenção à defesa fixa e
móvel do porto da Capital.
PLANO NAVAL SUMÁRIO
O oficial da Marinha defendia,
por isso, a maior brevidade possível
na aquisição de torpedeiros e
submarinos. É por sua iniciativa que
são encomendados a Itália, a 18 de
dezembro de 1915 – e lançados à
água a 18 de março de 1917 – três
submersíveis . Na sua opinião, seria
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importante ligar a defesa dos portos
à vigilância das costas, através de um
papel ativo da Marinha Portuguesa
nas ilhas atlânticas. Caso não fosse
possível alcançar estes objetivos,
teria de se procurar soluções junto
das forças aliadas . Da análise do seu percurso, infere-se que este oficial da
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Como Ministro da Marinha, as medidas promulgadas por Vítor
de Azevedo Coutinho têm por propósito adequar as forças navais Marinha alterna períodos de forte intervenção política com
as suas atividades de docente, em particular, na Escola Naval.
portuguesas ao teatro de guerra. Dessa forma, a 27 de março de
1916, é decidida a subordinação da Direção Geral de Marinha Assim, em julho de 1917, quando é promovido a CFR e cessa as
funções políticas, volta à docência na Escola Naval. Vão decorrer
e da Administração dos Serviços Fabris à Majoria-General da
Armada. O objetivo era claro: colocar na dependência direta cinco anos até que seja novamente convocado para funções
ministeriais, por três vezes, consecutivamente, alinhando pelo
da componente militar, áreas fabris e administrativas civis com Partido Democrático, liderado agora pelo Eng. António Maria da
interesse logístico para as operações navais. Silva (entre 6 de fevereiro de 1922 e 6 de julho de 1923).
No seguinte mês de abril é criada a Superintendência do
Como entusiasta da aviação naval, terá um papel decisivo,
Serviço Naval de Defesa Marítima, tendo por missão estudar enquanto Ministro da Marinha, na disponibilização dos meios
a preparação para a guerra e a elaboração de programas de necessários para que se realize, com sucesso, a primeira
instrução para o pessoal. Seguiu-se, em maio, a mobilização travessia área do Atlântico Sul, levada a cabo por Gago Coutinho
de 27 navios de comércio e pesca, além de um número e Sacadura Cabral.
indeterminado de embarcações de recreio, para serviço e A encomenda à Noruega, em 1923, do primeiro navio-
reforço da esquadra. hidrográfico português, o que virá a realizar estudos de
Outras medidas então tomadas: o recrutamento dos auxiliares oceanografia física, de biologia marítima e pescas, foi mais uma
de defesa marítima, para prestarem serviço nos navios das iniciativas de Azevedo Coutinho como Ministro da Marinha.
requisitados, na defesa dos portos e em escoltas a navios de Cessando as funções como Ministro, Vítor Hugo de Azevedo
mercadorias e de transporte de forças militares; e a aceleração Coutinho é designado Alto-Comissário da República para
das reparações, dos fabricos e das construções de navios no Moçambique, entre 13 de outubro de 1923 e 17 de junho de
Arsenal da Marinha. 1926. Já na vigência da Ditadura Militar, é investido no cargo de
A aviação não é esquecida (mais uma iniciativa de Vítor de Administrador da Companhia de Moçambique, até 13 de agosto
Azevedo Coutinho, colocada em prática entre 1915 e 1917) – de 1928.
são dados os primeiros passos para a criação de um serviço A 17 de junho de 1926 retomará o cargo de professor da
de aviação marítima: os militares selecionados obtêm os seus Escola Naval. A 30 de setembro de 1929 é promovido ao posto
brevets em França, e são adquiridos os primeiros aparelhos. de CMG, exercendo, em acumulação com o ensino, os cargos de
Com Azevedo Coutinho como Ministro e a Sacadura Cabral Diretor da Escola Naval, da Escola de Educação Física da Armada
brevetado, a Marinha implantou os alicerces da Aviação e da Escola Náutica. Passará à Reserva naquele posto, a 12 de
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Marítima Portuguesa . novembro de 1933.
A atividade académica de Azevedo Coutinho foi extensível à
BALANÇO FINAL Universidade, tendo sido contratado, em 30 de abril de 1929,
pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, para
Depreende-se que a ação política deste Ministro da Marinha, reger, como professor catedrático contratado, as cadeiras de
através da promulgação de um vasto corpo legislativo e, Topografia e Geodesia do Curso de Engenharia Geográfica.
consequentemente, da organização da componente naval, teve Em 1932 recebe, naquela Universidade, o título de Doutor
um impacto assinalável na intervenção de Portugal na Grande Honoris Causa em Ciências Matemáticas, mantendo-se ligado à
Guerra e no futuro da Marinha Portuguesa. academia coimbrã por mais um ano.
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