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REVISTA DA ARMADA | 569



























                                                              USS Quincy (CA-39) no dia 3 de agosto, seis dias antes de ser afundado
                                                              na ilha de Savo.

          GUERRA NO PACÍFICO


          A BATALHA DA ILHA DE SAVO


         O CAMINHO PARA UM REVÉS NO MAR                       iluminantes, os navios de Mikawa entraram na baía e começaram
                                                              a ação que ficou conhecida como a Batalha da Ilha de Savo.
            eagindo às invasões americanas de Tulagi, Gavutu-Tanambogo   Ao passarem pela Força de Patrulha Sul, atacaram com salvas
         Re Guadalcanal, aviões japoneses iniciaram uma série de ata-  de artilharia e com torpedos. A ação foi de tal forma rápida, que
         ques aos navios de apoio e de transporte fundeados na baía de   apanhou de surpresa os navios Aliados. Antes que conseguissem
         Ironbottom (Ironbottom Sound), na costa norte de Guadalcanal.   reagir, os torpedos japoneses atingiram o USS Chicago, que ficou
         Estes ataques, que infligiram danos pouco significativos nas for-  literalmente sem proa. Seguiu-se o cruzador australiano HMAS
         ças de desembarque devido ao intenso fogo antiaéreo e ao apoio   Camberra que, atingido também por um torpedo inimigo, ficou
         da aviação dos porta aviões da força expedicionária, a Task Force   em chamas, tendo sido afundado às 08:00H da manhã por con-
         61 (TF 61), comandada pelo VALM Frank Jack Fletcher, contribuí-  tratorpedeiros americanos, por se encontrar irremediavelmente
         ram, contudo, para complicar a situação logística, já por si crítica,   perdido. A coluna de ataque japonesa, ainda ilesa, dividiu-se en-
         devido à falta de planeamento atempado.              tão em duas divisões, guinando para norte. Com três cruzadores
           Na realidade, na noite do dia 8 de Agosto, alguns dos navios de   a passarem a vante e quatro a ré da Força de Patrulha Norte, mais
         transporte não tinham descarregado mais do que 25% da sua car-  uma vez, em poucos minutos, Mikawa causou uma devastação
         ga, quando o inimigo estava prestes a contra-atacar por mar. Na-  inaudita: os cruzadores de batalha, USS Vincennes e USS Quincy,
         vegando através do canal intermédio da cadeia das ilhas Salomão,   sofreram danos tais que, em menos de duas horas, foram ao fun-
                                                              do. O USS Astoria acabou por ter o mesmo destino ao meio-dia.
         designado por “the Slot”, deslocava-se uma força de cinco cruza-
                                                               Às 02:20H Mikawa ordenou a retirada da sua força para nor-
         dores de batalha, dois cruzadores ligeiros e um contratorpedeiro,   te, convencido de que Fletcher já estava no seu encalço para um
         comandada pelo VALM Gunichi Mikawa. A sua missão era irromper   eventual ataque aos primeiros alvores. Quanto mais para norte
         pelo Ironbottom Sound e atacar os navios de apoio à força de de-  fossem atraídos os porta-aviões da TF 61, maior seria a probabi-
         sembarque, do VALM Kelly-Turner, através de um ataque noturno.  lidade de um contra-ataque, bem-sucedido, da aviação japonesa
           Os navios de Mikawa tinham sido avistados naquela manhã por   baseada em Rabaul. Na verdade, não houve ataque nem contra-
         uma aeronave australiana, cujo piloto identificou dois deles como   -ataque. Fletcher, que tinha pouca ou nenhuma informação so-
         navios de apoio a hidroaviões. Com base nesta informação, Kelly   bre a situação, temendo a existência de porta-aviões japoneses
         Turner concluiu que a força inimiga teria como missão estabele-  na área, decidiu retirar a sua força para sul de Guadalcanal, de
         cer uma base de hidroaviões algures no arquipélago, pelo que   modo a evitar outro combate semelhante ao do Mar de Coral.
         não se precaveu contra um eventual ataque noturno à sua for-  A batalha da Ilha de Savo custou aos Aliados quatro cruzado-
         ça. Ao pôr do sol, duas forças aliadas, designadas por Força de   res de batalha e cerca de mil vidas, ficando para a história como
         Patrulha Norte e Força de Patrulha Sul, compostas por cruzado-  uma das derrotas mais severas sofrida pela Marinha americana.
         res e contratorpedeiros, com as guarnições em segundo grau de   Contudo, ao retirar-se sem destruir os navios de transporte que
         prontidão para combate, começaram a patrulhar as entradas do   se encontravam indefesos no Ironbottom Sound, Mikawa perdeu
         Ironbottom Sound, na vizinhança da ilha de Savo.     uma oportunidade soberana para desequilibrar a relação de for-
                                                              ças a seu favor. Na verdade, os japoneses, repetindo o padrão do
         VITÓRIA TÁTICA INCONSEQUENTE                         ataque a Pearl Harbor, contentaram-se com uma vitória tática,
                                                              preterindo a ação que, provavelmente, teria tido um impacto es-
           Uma hora depois da meia-noite, a força japonesa passou desper-  tratégico decisivo a seu favor no desfecho da campanha.
         cebida pela popa do contratorpedeiro USS Blue, em patrulha a oes-
         te da ilha de Savo. Enquanto os aviões dos cruzadores japoneses,                               Piedade Vaz
         lançados algumas horas antes, iluminavam a área com foguetes                                     CFR REF


                                                                                                   JANEIRO 2022  39
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