Page 344 - Revista da Armada
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A hora legal em Portuga:
ode afirmar-se, concre tamente, que desde a
criação em 1798 do Real Observatório da Ma ri-
P nha, o pelouro da hora oficial. no nosso pais. foi
desempenhado regular e permane ntemente, até
principios deste século. pela Marinha de Guerra, atra-
vés do seu Serviço de Regulação de Cronómetros e
Hora Oficial entregue aos cuidados da Escola Naval,
desde a sua fundação em 1845.
Apesardesse Serviço se destinar especificamente
• à regulação dos cronómetros, portanto, à navegação •
foi preocupação dos seus responsáveis, desde o
inicio, fornecer também um serviço publico da hora
oficial ao pais.
Assim, em 1858, no uDiário d o Governou d e 19 d e
Novembro, o secretário de Estado dos Negócios da •
Marinha anunciava: que o Real Observatôrio da Mari-
nha passaria a indicar, todos os dias, a H ora Oficial
por meio da queda de um balão. Este sinal horário
tornava-se, portanto, extensivo aos habitantes da
cidade (I).
Este primeiro balão era de construção rudimentar,
tendo sido classificado, mais tarde, pelo vice·almiran-
te Ramos da Costa de balão irris6rio, p uxado à corda,
sendo alvo de troça e descrédito, a ponto dos almana-
ques náuticos ingleses e franceses publicarem notas
de que os sinais de Lisboa não mereciam confiança.
Por essas razões, em 1884, o director da Escola
Naval informava o director-geral da Marinha das con-
dições precárias daquele Serviço e propunha a sua
substituição por outro mais aperfeiçoado e ligado
electricamente ao Real Observatório de Lisboa, na
Tapada da Ajuda. Em resposta rápida, o referido
director informava que o ministro da Marinha auto-
rizava a realização dos trabalhos necessários e).
Constituiu-se, então, uma comissão composta pe-
los director da Escola Naval e pelo oficial da Marinha
engenheiro hidrógrafo Frederico Augusto Dom, di- o segundo baIlo do Arsenal, instalado em 1885. na aja oeste do
rector do Real Observatório de Lisboa, que escolhe- antigo Arsenal da Marinha (Sala do Risco), voltado para o Cais do
Sodrê.
ram como técnico um reconhecido construtor de ins-
Simultaneamente, o serviço de regulação dos cro-
trumentos de precisão e de electricidade, chamado
nómetros introduzia maior rigor na comparação da
Maximiliano Augusto Herrmann, português, filho de
marcha dos mesmos, ao construir uma tlcasa das
pai alemão, de Estrasburgo, para a execução do novo
temperaturas)), a exemplO dos observatórios de Was-
projecto da hora oficial.
hington e Genebra, constituindo-se, deste modo,
Foi construído, desta vez, um bem concebido
uma fonte alternativa e permanente à hora oficial do
mecanismo electromecânico ligado directamente ao
Observatório. que era transmitida somente uma vez
Observatório da Tapada, que proporcionava uma
perdia.
queda rápida e precisa do balão. Este sistema funcio-
nou regularmente desde 15 de Agosto de 1885 até à
uma hora da tarde do dia 15 de Dezembro de 1915.
o ESTABELECIMENTO DA HORA LEGAL
EM PORTUGAL
(') Vide artigo O Baliio do A r.enal, do cap.-m.-g. J. A. Sousa
Mendes, " Revisu da Armada_ n." I J4/ Março8J.
f) Víde artigo A RfI{/l.llaçio doa Cronómetros de Bordo. do Em 1911, o primeiro Governo Provisório da Repú-
cap.·m.·g. A. EstáclO dos Reis, _Revista da Armada_ n." 187/ blica Portuguesa, no seu propóSito de introduzir ou
IFev. 87. corrigir princípios e normas de convivência interna-
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