Page 346 - Revista da Armada
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meia nova comissão composta pelos: maJor ae enge- Em seguimento, d comissão adquiriu uma relojoa-
nharia Frederico Dom, astrónomo; capitão-de-fraga- ria de precisão, com dispositivos para contactos eléc-
ta Hugo de Lacerda Castelo Branco, hidrógrafa e ca- tricos, à firma J. &A. Ungerer, de Estrasburgo, nessa
pitão-tenente Augusto Ramos da Costa, hidrógrafo, época território alemão e célebre pela seu monumen-
de elaborar um projecto de substituição e instalação tal relógio. considerado durante alguns séculos como
de novo sinal horàrio do porto de Lisboa, que satisfi- a sétima maravilha do Mundo, que incluía um pêndu-
zesse as necessidades mais exigentes da navega- lo de metro, em lnvar, construido especialmente na
ção(4), Universidade Técnica de Munique, pela quantia de
Dessa comissão destacamos o major Frederico 1842 marcos.
Oom, filho do vice-almirante Frederico Augusto Oom, Os quadros de distribuição e outros acessórios
astrónomo de grande mérito e primeiro director do foram adquiridos à firma Siemens & Halske, de Ber-
Real Observatório Astronómico de Lisboa, pelo seu lim, e foram instalados pelo ((electricista)) Werner von
notável curriculo relacionado com os problemas Siemens, por 1987 marcos (').
horários, especialmente no estrangeiro. Os dispositivos de remontagem da corda e neces·
Efectivamente, já em 1907 ele fora incumbido, em sários acumuladores de reserva subiram esta verba
missão de estudo, de verificar ~dn loco)) os principais para 4259 marcos.
serviços de transmissão da hora e sinais europeus, O custo total, incluindo o do próprio edifício, foi
principalmente no porto de Hamburgo, reconhecido suportado pelo Porto de Lisboa, com a participação
como o mais avançado da época. do Arsenal da Marinha e Direcção das Obras Públi-
Nos anos seguintes, de 1908 e 1909, fora encarre- cas, por se tratar de um melhoramento considerado
gado de nova missão de estudo junto do Observatório de tanto alcance para o bom nome do nosso porto e
de Hamburgo. a fin1 de tratar da aquisição dos instru- atê do nosso pais.
mentos necessários ao apetrechamento do Observa- O relógio embarcou em Hamburgo e chegou a Lis-
tório de Lourenço Marques, que ele próprio projectou boa em princípios de 1914, transportado em seis cai-
e de que dirigiu a construção e montagem de toda a xas com as marcas J .A.U. e H.B., no vapor alemão
aparelhagem. ~(Bahia)., da carreira de Hamburgo, Lisboa, Rio de Ja-
A este observatório foi dado o nome de Observa- neiro, representado pela agência alemã Marcus &
tório Astronómico ((Campos Rodrigues)), em homena- Harting, mais tarde confiscada pela Governo POrtu'
gem ao sábio astrónomo, seu professor e director, guês quando da nossa entrada na I Grande Guerra.
vice-almirante César Augusto Campos Rodrigues (5). O relógio seguiu directamente para o Observató-
Procedeu a referida comissão a um inquérito junto rio Astronómico de Lisboa, na Tapada da Ajuda, onde
de diversas entidades interessadas na hora legal, que foi submetido a novos ensaios. Finalmente, foi insta-
foram unânimes na preferênCia do sistema de trans- lado no seu local próprio, ainda em 1914, sendo a sua
missões do sinal horário usado, com tão bons resulta- marcha sincronizada electromagneticamente, cada
dos, nos Observatórios de Hamburgo e de Lourenço dois segundos, através de uma linha telegráfica pri·
Marques, (?), sistema no qual a hora era dada pela ex- vativa, directamente ligada a um pêndulO astronómi-
tinção da luz numa fiada de lâmpadas eléctricas de in- co especialmente preparado para o efeito. Os sinais
candescência (sinais luminosos de 3 em 3 horas) (6). eléctricos eram também enviados, simultaneamente,
Estes sinais eram visíveis de dia a uma milha, e de a um cronógrafo existente no Serviço de Regulação
noite a distância considerável: tais sinais eram co- de Cronómetros, na Escola Naval.
mandados à distância por um relógio de precisão sin- O relógio comandava à distãncia dois postes de si-
cronizado por um pêndulo astronómico existente nos nalização (pilones), colocados em sítios apropriados
respectivos observatórios. na margem direita do Tejo: um na Junqueira, onde
Para o efeito tornava-se necessário um relógio funcionou até à Exposição do Mundo Português, em
dando segundos rigorosamente certos e permanen- 1940; outro na Alfândega (depois transferido para o
tes servindo, portanto, para a regulação dos cronó- Cais da Areia, actual Doca da Marinha), para a trans-
metros de bordo em qualquer ocasião, podendo, ain- missão luminosa dos sinais horários à navegação
da. servir o publiCO em geral em qualquer período do surta no rio e cais acostáveis do porto de Lisboa.
dia ou da noite. A sua manutenção ficou a cargo da Direcção dos
Serviços de Hora Legal, com sede na Escola Naval, es-
tando o Observatório da Tapada incumbido de forne-
o RELÓGIO DO CAIS DO SODRÉ ceras sinais horários (cada dois segundos) para regu·
lação do relógio, cabendo ao Ministério da Marinha
Fora escolhido para local mais adequada para a coadjuvar as restantes operações técnicas, e sendo
sua instalação o Cais do Sodré, e todos desejavam ver atribuída à Administração dos Telégrafos a posse das
realizado esse objectivo no mais curto prazo de tem- linhas telegráficas e telefónicas, com a obrigação de
1 po possível, compenetrados do melhoramento em zelar pela sua conservação. Aquela Direcção, depen-
benefício da navegação e do bom nome do porto de dente administrativamente do Instituto Superior de
Lisboa, e até do país. Belas-Artes, M.E.N., nomeou sucessivas comissões
técnicas, constituidas sempre por oficiais da Armada,
(.) lN/ CM ~DiáriodoGo vem o. n."208, de 1911.
(~) Arqulvoda Revista Militar. d/ Stkulo. 2. " época 1980 •. (7) George Siemens . Historv of lhe HOllse of Siemens. , Frei-
(s) AGPL . ProcessodoRe/6gio. burglMunique
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