Page 375 - Revista da Armada
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Alguns velhos marinheiros menea-  cebida  quando com  voz grande e   quem  fi quando  terminaria  a  via-
         vam, no entanto, a  cabeça; e con-  solene se ouviu proferir as seguin-  gem. Tu deste um mau exemplo e
         victos  da  dureza  do  seu  chefe,   tes palavras, que caJram como uma   eu náo quero estar a  atravessar o
         acreditavam que o castigo arbitra-  montanha sobre os oficiais e mari-  navio todos os dias.  Por isso  vais
         do  continuaria  atá ao  fim,  sem  a   nheiros,  e  principalmente sobre o   ser castigado para  que o mal náo
         mais pequena demonstração de jus-  réul                             propague na guarnição!
         tiça e de caridade! Era um comba-    - Tu  estavas  sendo  castigado
         te de opiniões sobre o  epilogo de  por um crime que havias cometido;   Todos  os  homens  da  equipa-
         um drama realista,  em que se po-  agora que praticaste outro, vais ser
                                                                             gem baixaram as cabeças, pondo os
         diam  fazer  grandes  apostas  pela  castigado por ambos.            olhos no ch40  como  um  protesto
         clemência com o réu ou pelo rigor    O efeito moral desta completa   contra B aspereza  do seu  fero co-
         do juiz, com a probabilidade da sor-  auséncia de sentimento foi profun-  mandante.  O primeiro castigo foi,
         te  nos  matchs  dos  hipódromos  do e terrlvel! Toda a equipagem viu   pois, aplicado com acréscimo; elo-
         d 'Auteuil ou de Longchamps.      nela a comprovaç40 da máxima de   go que concluiu, o réu baixou ii: en-
            Diz-se que uma mulher sens[vel   MaqWave111que nAo hli tirania mais
                                                                             fermaria, mais pelo efeito moral da
         escrevera a Richardson ameaçando-  desenfreada do que aquela dos pe-  pena injusta,  do que como conse-
         -o de morte, se ele, no seu célebre   quenos tiranos}}.             quência  do mal flsico ...
        romance, matasse a infeliz e simpá-   - Senhor comandante· disse o
         tica Clarisse Harlowe! O comandan-  valente marinheiro, com voz firme,
         te  da  corveta,  como  o  famoso   mas respeitosa - perdoe-me por es-
        romancista inglês, foi indiferente a   ta  vez  que eu náo fiz  mal a  nin-
         todas as demonstrações vis[veis de  guém; perdoe-me pela sua saúde.
         sentimento, ainda que pacificas, de   - Tu não fizeste mal a ninguém,
         toda a  guarnição.                é verdade, mas se todos os teus ca·
            Antes,  porém,  de continuar o  maradas se deitassem ao mar quan-
                                                                                 (ln -Paisagens do Mttr». de António Ma-
         castigo, qual não foi a sensaçáo re-  do fossem castigados, n40 sei com   ria de San de  Vasconcelos  e Carvalho).










         Itinerários da viagem de  Capelo e Ivens





            Na  sequência da eXIXlsição  realiza-                             tante, a pequena Mu-<::umbe envergonha-
         da no Museu da Marinha, IXlr ocasião do                              da,  o  velho  Muene-Cuando  e  tantos
         10  Centenário  da  viagem  de  Capelo  e                            outros,  bem como a rica e impressionan-
         Ivens de Angola à CODtra-costa, foi edi-                             te  fauna  daquela  África, o  leão, o  ele-
         tado  pela  Comissão  Cultural  da  Mari-                            fante,  a gunga,  a  zebra, o  crocodilo,  o
         nha,o fac-s{mile dos itinerários daquela                             gnu e rinoceronte, a cobra - va1e a pena
         viagem desenhados a  lápis,  no campo,                               percorrer  com vagar,  página  a página,
         dia-a-dia,  pela inesperada faceta de ar-                            legenda a legenda, este magnífico álbum
         tista  que  nos  revela  Roberto  Ivens.                             de desenhos de uma espontaneidade, ri-
                                                                              gor documental e beleza artística que sur-
           São para cima de duzentas e cinquen-
                                                                              preendem.
         ta páginas de  ilustrações, onde os itine-
                                                                                 Notável, a qua1idade de reprodução
         rários  propriamente  ditos,  com
                                                                              que  o  Instituto  Hidrográfico conseguiu
         indicações de loca1idades, coordenadas,
                                                                              do origina] - património da Sociedade de
         morfologia do terreno e legendas afins,
                                                                              Geografia.  Este livrinho va1e sem dúvi-
         se animam  profusamente com tipos  hu-
                                                                              da  muito  mais do  que  custa ...
         manos,  animais  selvagens,  exemplares
         da flora, e até - quem diria? - recorda-
         ções da civilização deixada, de que são
         exemplo algumas damas de cintura fina,
         amplo decote e abanico, à maneira de um             )~
         Toulouse-Lautrec. Predominam, obvia-                                                      S.  Machado,
         mente, os tipos somáticos das gentes en-                                                     CCJp.-m.-g.
                                                              I
        contradas,  homens e mulheres . velhos
        e novos, em recolha etnográfica impor-                                **********
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