Page 334 - Revista da Armada
P. 334
de Francisco José. Não vale a também, quando a Alemanha
pena recuar muito no tempo, invadiu a Bélgica.
mas importa salientar que a Ale- Portugal entrou na Primeira
manha, tinha derrotado a França, Guerra, quando, em 23 de
anexando a Alsácia-Lorena, Fevereiro de 1916, a pedido da
alguns anos antes, e a Áustria Grã-Bretanha e ao abrigo da
disputava com a Rússia os ter- aliança luso-britânica, o governo
ritórios dos Balcãs, sucessiva- português apreendeu todos os
mente abandonados pelo Impé- navios alemães que estavam em
rio Otomano, em regressão. portos nacionais. A 9 de Março a
Neste aspecto o governo de Alemanha declarava guerra a
Francisco José parecia tomar a Portugal.
dianteira e, aparentemente ia ga- Não vamos aqui analisar
rantindo a fragilidade desta área, todas as circunstâncias que fiz-
jogando com os sentimentos eram com que Portugal tomasse O combate do caça-minas “Augusto de Castilho” com o submarino Alemão
nacionalistas locais. esta atitude, passados que eram “U. 139” na madrugada de 13 para 14 de Outubro de 1918, na linha
Em 1913, quando o Império já dois anos sobre o início do con- Madeira - Açores.
tinha anexado a Bósnia, e depois flito. Aliás as opiniões dos inimigos foram muitíssimo valor táctico e que ninguém
da última guerra balcânica, que historiadores degladiam-se entre escassos. A Marinha passava sabia bem como usar: o submari-
levou a um enorme crescimento múltiplas hipóteses e alternati- por uma crise tremenda, que se no. O primeiro grande ataque
da influência sérvia na região, as vas, mas parece haver um certo vinha agravando desde o século feito por um submarino, deu-se
relações desta com a Áustria consenso, quanto à existência XIX, e que era o corolário de em 22 de Setembro de 1914,
deterioraram-se dramaticamente. de uma conjuntura interna- uma ruinosa situação financeira afundando de uma só vez três
Digamos que Francisco José só cional que não nos perdoaria do Estado. cruzadores britânicos.
esperava uma oportunidade para uma não tomada de posição Todos os planeamentos de A partir de então, esta nova
retomar o ascendente que já clara e interventiva. Mas a reapetrechamento da Marinha, arma viria a ter uma importância
tivera sobre a Sérvia e esta fervi- questão mais importante não se até 1914, não chegaram a ser fulcral para o tipo de guerra
lhava de exaltação nacionalista. naval desenvolvido pelos ale-
Assim compreendemos melhor mães. Sobretudo, quando depois
como é que o atentado ao arqui- da batalha da Jutlândia, a Royal
duque Francisco Fernando teve Navy lhes impôs um bloqueio
tanta importância. naval, quase só os submarinos
A Áustria tomou-o por uma conseguiam passar para o
agressão sérvia (porque foi Oceano Atlântico, ameaçando
cometido por um estudante constantemente todos os navios
sérvio) e lançou-lhe um ultima- aliados.
tum humilhante. Os sérvios acei- Foram estes submarinos ale-
taram quase todas as suas mães que, desde o arquipélago
cláusulas, mas os austríacos não de Cabo Verde até ao cabo Finis-
se deram por satisfeitos e terra, por diversas vezes, ataca-
atacaram Belgrado. O submarino-cruzador alemão “U.139” (à proa e à popa as suas peças de 15 cm). ram e combateram com navios
A partir daí, temos que a resumia ao entrar ou não entrar votados pelo parlamento, e as portugueses.
Rússia de Nicolau II apoiou a na guerra: o facto é que o país verbas inscritas nos anos
Sérvia (solidariedade eslava), a não estava nada preparado para sequentes foram insignificantes, O COMBATE DO “AUGUSTO
Alemanha apoiou a Áustria- o que se ia passar, e as con- e em relação às necessidades do DE CASTILHO” E A MORTE
Hungria, a França apoiou a Rús- dições em que os soldados por- país, mesmo sem contar com a
sia, e estava começada a Guerra tugueses marcharam para a entrada na guerra. DE CARVALHO ARAÚJO
que duraria quatro anos. A Grã- Flandres, ou os meios com que, De forma que, uma boa parte
Bretanha acabaria por entrar no mar, defrontaram os seus dos navios que se destinavam a Sem dúvida nenhuma que o
combater no Atlântico eram mais dramático dos combates
unidades requisitadas e armadas navais travados pelos portugue-
precariamente, como aconteceu ses, durante este conflito, foi o
com o “Augusto de Castilho”. que opôs o patrulha “Augusto de
Castilho” – comandado por Car-
A GUERRA SUBMARINA valho Araújo - ao “U-139”,
quando navegavam entre a
Pouco depois de Portugal ter Madeira e os Açores.
entrado na guerra, a Alemanha e O comandante alemão era o
a Grã-Bretanha defrontaram-se capitão tenente Lothar Von
numa violenta batalha (Jutlândia) Arnauld de La Perière, nem mais
que acabou sem uma vitória nem menos do que o mais bem
clara para qualquer das partes, sucedido comandante de sub-
mas a perda de navios foi muito marinos de todos os tempos,
mais dolorosa para os alemães com 194 navios afundados, tota-
do que para os ingleses. lizando 454 000 toneladas.
No entanto, os germânicos De seguida daremos uma
manobravam com especial mes- relação cronológica do combate,
Rombo de uma granada de 15 cm na proa do “Augusto de Castilho”, vendo-se
ainda o primeiro nome quando pesqueiro, “Elite”; na proa, a peça de «brincar» tria uma arma que, antes desta acrescida das características dos
que disparava sobre o “U. 139”. guerra, não parecia ter grande respectivos navios envolvidos.
8 NOVEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA