Page 232 - Revista da Armada
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Esquemas de Separação de Tráfego
Esquemas de Separação de Tráfego
na Costa Portuguesa
na Costa Portuguesa
INTRODUÇÃO que em 1989 provocou um derrame de dificuldades materiais, estas duas estações
30.000 Ton. do mesmo produto na Ilha de nunca foram instaladas e a estação do
As águas portuguesas, são sulcadas Porto Santo. Cabo da Roca viria, mais tarde a ser de-
diariamente, por largas dezenas de sactivada.
navios, sendo muitos deles navios EVOLUÇÃO DO CONTROLO A situação portuguesa é pois algo con-
petroleiros. Muito do tráfego de crude DO TRÁFEGO MARÍTIMO troversa. Existem EST implementados nos
desde os centros de produção até aos EM PORTUGAL pontos mais críticos, mas não existe qual-
grandes centros de consumo, como é o quer controlo sobre o cumprimento ou
caso do Norte da Europa, passa ao largo A partir dos finais da década de incumprimento das rotas a seguir naque-
da costa portuguesa. Esta realidade é cinquenta, sentiu-se a necessidade de las áreas.
indissociável do facto de genericamente implementar, com o auxilio da IMO Na vizinha Espanha existem já VTS
o crude ao ser extraído não ser transfor- (International Maritime Organization) costeiros nos pontos mais críticos
mado no local de extracção ou nas suas Esquemas de Separação de Tráfego (GIBRALTAR e FINISTERRA), integrados
imediações, mas sim trans- no Plan Nacional de Salva-
portado por mar em longas mento Marítimo y Lucha con-
distancias até zonas do Globo tra la Contaminacion, o que
fortemente industrializadas, contrasta com o vazio da
onde se situam as grandes costa portuguesa.
refinarias, como é o caso do
Norte da Europa. FLUXOS E ESQUEMAS
Admite-se sem margem para DE SEPARAÇÃO DE
dúvidas que a densidade de TRÁFEGO (EST) NA
tráfego marítimo na nossa COSTA PORTUGUESA
costa, está em 3º lugar nas
águas europeias, logo a seguir A Figura 1 ilustra os fluxos
ao Canal da Mancha e ao de tráfego na nossa costa.
Estreito de Gibraltar. Com efeito, constatamos que
Dados recolhidos em 1986 todo o tráfego proveniente do
por uma Estação Radar experi- Atlântico Sul, Mediterrâneo e
mental instalada no Cabo da Continente Americano com
Roca, permitiram concluir que destino ao Norte da Europa e
no mês de Maio daquele ano, Figura 1: Transporte do Crude por via Marítima (in IMO NEWS, n3, 1999, 21p.) vice-versa passa nas nossas
passaram no Esquema de águas.
Separação de Tráfego nas ime- Também é notória a proxi-
diações daquele Cabo 2132 navios, o que Marítimo (EST) em alguns locais da Costa midade dos EST da costa, onde por exem-
nos dá uma média diária de 69 navios. Portuguesa. Assim temos o seguinte: plo em S. Vicente o corredor ascendente
Por outro lado, dados recolhidos no está colocado a cerca de 5 milhas. No
VTS (Vessel Traffic System) de Tarifa, 1968 - Estabelecimento, pela IMO, dos resto da Europa, de uma forma geral os
mostram que no ano de 1994, entraram e EST do Cabo da Roca e Cabo S. EST estão mais afastados. Em Finisterra o
saíram do estreito de Gibraltar, uma Vicente. EST, foi afastado há alguns anos, de tal
média de 111 navios/dia. 1976 - Portugal adere à IMO. forma que o corredor mais próximo da
Admitindo um aumento para os dias de 1978 - Propostos e aprovados pela IMO costa, está colocado a mais de 20 milhas.
hoje, se considerarmos uma média de novos EST para a Costa do Casos há, em que por razões geográficas
100 navios/dia pensamos que não Continente: não é possível o afastamento, como por
andamos longe da realidade. Desco- • Afastamento dos EST do Cabo da exemplo Gibraltar, o que não é o caso da
nhecemos se existem dados mais actua- Roca e Cabo de S. Vicente nossa costa, onde não existe qualquer aci-
lizados, relativamente à Costa Portuguesa • Implementação de um novo EST dente geográfico que impeça o afasta-
contudo são irreais valores já apresenta- ao largo das Berlengas. mento.
dos na comunicação social que apontam 1979 - Entrada em vigor da proposta
para largas centenas de navios/dia, não Portuguesa. NECESSIDADE DE AFASTAR OS EST
deixando no entanto a média de 100 na- DA COSTA PORTUGUESA - EST DO
vios/dia de ser preocupante, em termos de Em meados da década de 80 foi instala- CABO DE S. VICENTE - RISCOS
concentração de tráfego marítimo. da no CABO DA ROCA a já referida ACRESCIDOS
Não é por acaso, que as águas Portu- estação radar, com a finalidade de contro-
guesas, foram palco nas últimas décadas lar a navegação no EST do referido Cabo. Como já vimos, toda a navegação
de vários acidentes marítimos com con- Esta estação constituiu como que um proveniente do Mediterrâneo e Norte de
sequências negativas para o meio ambi- embrião de um VTS. Havia intenção de África, com destino ao Norte da Europa e
ente, dos quais destacamos o JACOB instalar mais duas estações, uma em S. vice-versa, passa ao largo do Cabo de S.
MAERSK que provocou em 1975 um der- VICENTE e outra nas BERLENGAS para Vicente (ver Figura 2). Neste sentido, e
rame de 50.000 Ton. de crude junto ao controlo dos respectivos EST. conforme já foi referido, foi proposto e
Porto de Leixões, assim como o ARAGON Infelizmente, ao que tudo indica por aprovado pela IMO o respectivo EST.
14 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA