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Esquemas de Separação de Tráfego
          Esquemas de Separação de Tráfego

                               na Costa Portuguesa
                               na Costa Portuguesa




         INTRODUÇÃO                         que em 1989 provocou um derrame de  dificuldades materiais, estas duas estações
                                            30.000 Ton. do mesmo produto na Ilha de  nunca foram instaladas e a estação do
           As águas portuguesas, são sulcadas  Porto Santo.                    Cabo da Roca viria, mais tarde a ser de-
         diariamente, por largas dezenas de                                    sactivada.
         navios, sendo muitos deles navios  EVOLUÇÃO DO CONTROLO                 A situação portuguesa é pois algo con-
         petroleiros. Muito do tráfego de crude  DO TRÁFEGO MARÍTIMO           troversa. Existem EST implementados nos
         desde os centros de produção até aos  EM PORTUGAL                     pontos mais críticos, mas não existe qual-
         grandes centros de consumo, como é o                                  quer controlo sobre o cumprimento ou
         caso do Norte da Europa, passa ao largo  A partir dos finais da década de  incumprimento das rotas a seguir naque-
         da costa portuguesa. Esta realidade é  cinquenta, sentiu-se a necessidade de  las áreas.
         indissociável do facto de genericamente  implementar, com o auxilio da IMO  Na vizinha Espanha existem já VTS
         o crude ao ser extraído não ser transfor-  (International Maritime Organization)  costeiros nos pontos mais críticos
         mado no local de extracção ou nas suas  Esquemas de Separação de Tráfego  (GIBRALTAR e FINISTERRA), integrados
         imediações, mas sim trans-                                                     no Plan Nacional de Salva-
         portado por mar em longas                                                      mento Marítimo y Lucha con-
         distancias até zonas do Globo                                                  tra la Contaminacion, o que
         fortemente industrializadas,                                                   contrasta com o vazio da
         onde se situam as grandes                                                      costa portuguesa.
         refinarias, como é o caso do
         Norte da Europa.                                                               FLUXOS E ESQUEMAS
           Admite-se sem margem para                                                    DE SEPARAÇÃO DE
         dúvidas que a densidade de                                                     TRÁFEGO (EST) NA
         tráfego marítimo na nossa                                                      COSTA PORTUGUESA
         costa, está em 3º lugar nas
         águas europeias, logo a seguir                                                   A Figura 1 ilustra os fluxos
         ao Canal da Mancha e ao                                                        de tráfego na nossa costa.
         Estreito de Gibraltar.                                                         Com efeito, constatamos que
           Dados recolhidos em 1986                                                     todo o tráfego proveniente do
         por uma Estação Radar experi-                                                  Atlântico Sul, Mediterrâneo e
         mental instalada no Cabo da                                                    Continente Americano com
         Roca, permitiram concluir que                                                  destino ao Norte da Europa e
         no mês de Maio daquele ano,  Figura 1: Transporte do Crude por via Marítima (in IMO NEWS, n3, 1999, 21p.)  vice-versa passa nas nossas
         passaram no Esquema de                                                         águas.
         Separação de Tráfego nas ime-                                                    Também é notória a proxi-
         diações daquele Cabo 2132 navios, o que  Marítimo (EST) em alguns locais da Costa  midade dos EST da costa, onde por exem-
         nos dá uma média diária de 69 navios.  Portuguesa. Assim temos o seguinte:  plo em S. Vicente o corredor ascendente
           Por outro lado, dados recolhidos no                                 está colocado a cerca de 5 milhas. No
         VTS (Vessel Traffic System) de Tarifa,  1968 - Estabelecimento, pela IMO, dos  resto da Europa, de uma forma geral os
         mostram que no ano de 1994, entraram e   EST do Cabo da Roca e Cabo S.  EST estão mais afastados. Em Finisterra o
         saíram do estreito de Gibraltar, uma     Vicente.                     EST, foi afastado há alguns anos, de tal
         média de 111 navios/dia.           1976 - Portugal adere à IMO.       forma que o corredor mais próximo da
           Admitindo um aumento para os dias de  1978 - Propostos e aprovados pela IMO  costa, está colocado a mais de 20 milhas.
         hoje, se considerarmos uma média de      novos EST para a Costa do    Casos há, em que por razões geográficas
         100 navios/dia pensamos que não          Continente:                  não é possível o afastamento, como por
         andamos longe da realidade. Desco-      • Afastamento dos EST do Cabo da  exemplo Gibraltar, o que não é o caso da
         nhecemos se existem dados mais actua-     Roca  e Cabo de S. Vicente  nossa costa, onde não existe qualquer aci-
         lizados, relativamente à Costa Portuguesa  • Implementação de um novo EST  dente geográfico que impeça o afasta-
         contudo são irreais valores já apresenta-  ao largo das Berlengas.    mento.
         dos na comunicação social que apontam  1979 - Entrada em vigor da proposta
         para largas centenas de navios/dia, não  Portuguesa.                  NECESSIDADE DE AFASTAR OS EST
         deixando no entanto a média de 100 na-                                DA COSTA PORTUGUESA - EST DO
         vios/dia de ser preocupante, em termos de  Em meados da década de 80 foi instala-  CABO DE S. VICENTE - RISCOS
         concentração de tráfego marítimo.  da no CABO DA ROCA a já referida   ACRESCIDOS
           Não é por acaso, que as águas Portu-  estação radar, com a finalidade de contro-
         guesas, foram palco nas últimas décadas  lar a navegação no EST do referido Cabo.  Como já vimos, toda a navegação
         de  vários acidentes marítimos com con-  Esta estação constituiu como que um  proveniente do Mediterrâneo e Norte de
         sequências negativas para o meio ambi-  embrião de um VTS. Havia intenção de  África, com destino ao Norte da Europa e
         ente, dos quais destacamos o JACOB  instalar mais duas estações, uma em S.  vice-versa, passa ao largo do Cabo de S.
         MAERSK que provocou em 1975 um der-  VICENTE e outra nas BERLENGAS para  Vicente (ver Figura 2). Neste sentido, e
         rame de 50.000 Ton. de crude junto ao  controlo dos respectivos EST.  conforme já foi referido, foi proposto e
         Porto de Leixões, assim como o ARAGON  Infelizmente, ao que tudo indica por  aprovado pela IMO o respectivo EST.

         14 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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