Page 127 - Revista da Armada
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A Escola dos Draga-Minas
A Escola dos Draga-Minas
J á vai longe o tempo em que a Marinha ferro, e ainda a carvão, o “S. Miguel”, o na construção dos draga-minas procurarem
de Guerra Portuguesa dispunha de uma
“Faial”, o “Terceira” eo “Santa Maria”, anti-
reduzir ao mínimo a sua assinatura mag-
Flotilha de Draga-minas. Com o auxílio gos patrulhas do tempo da 2ª Guerra nética natural. Por curiosidade recorde-se
aliado, a partir de 1953, sucessivamente, Mundial, de construção inglesa, da classe que, em tempo de guerra, seria interdito a
pôde a Marinha contar com 8 draga-minas “Trees”, o “Faial”, e da classe “Scottish Isles”, todo o pessoal levar para bordo, na sua
costeiros (MSC´s) e 4 draga-minas oceâni- os restantes, e que inicialmente foram desi- bagagem, qualquer material magnético,
cos (MSO´s) de origem americana e mais 4 gnados por P1, P2, P3 e P4. incluindo canivetes!
draga-minas costeiros de concepção inglesa. Classificados como draga-minas em 1951 Esta nova componente operacional da
Aos oceânicos, foram dados os nomes de e como caça-minas em 1956, designados Marinha, a guerra de minas e contramedi-
Ilhas dos Açores e aos costeiros, nomes de por classe “Faial”, foram sendo abatidos das foi levada muito a sério no interesse
cidades daquele mesmo arquipélago. dado o seu desgaste e por estarem comple- internacional, perante a ameaça sempre
Os MSC´s “Ponta Delgada”, “Horta”, tamente desactualizados para a guerra de presente da utilização destas armas, pois
“Angra do Heroísmo”, “Vila do Porto”, “Santa minas. Só o “Santa Maria” (abatido em 1971) mesmo as menos sofisticadas e mais baratas
Cruz”, “Velas”, “Lajes” e “S. Pedro” eram na- teve uma maior actividade integrado na podiam ter efeitos terrivelmente limitadores
vios de 405 toneladas de deslocamento, de Flotilha, como lançador de minas de exercí- da actividade marítima nos portos e seus
44 metros de comprimento fora a fora e 8.7 cio e de bóias e como patrulha das áreas de acessos e tinham sido muito empregues na
de boca, com uma velocidade de 13 nós e 40 exercício. 2ª Grande Guerra Mundial, com resultados
homens de guarnição, da classe “Bluebird” Os novos navios, de casco de madeira, altamente compensadores para o utilizador.
na Marinha dos EUA passaram a ser desig- constituídos em Flotilha, representaram É neste contexto que a Marinha Portu-
nados na nossa Marinha por Classe “Ponta uma época muito nobre da nossa Marinha, guesa assume a missão dos draga-minas,
Delgada”. Foram construídos a partir de não só pelo seu considerável número e pela fazendo-se assim compreender quanto
1950, nos EUA, para a Armada portuguesa, excelente escola de marinheiros que propor- entusiasmo e importância representava
ao abrigo de um Programa de Assistência cionou, mas também pelos elevados para os jovens oficiais, sargentos e praças,
Militar, e incorporados a partir de 1953 . padrões operacionais que as suas daqueles novos navios, trazidos recente-
Os MSO´s “S. Jorge”, “Pico”, “Graciosa” e guarnições alcançaram, tantas vezes testa- mente dos EUA e os de concepção inglesa
“Corvo”, eram navios de 780 toneladas de dos em exercícios nacionais e interna- que, embora construídos nos estaleiros da
deslocamento, de 52.4 metros de com- cionais. CUF em Portugal, eram normalmente refe-
primento fora a fora e 10.7 de boca, com Para isso, muito contribuiu uma eficaz ridos como “draga-minas ingleses”.
uma velocidade máxima de 13.7 nós e 70 organização que, ao longo dos anos, pôde Os navios americanos foram chegando
homens de guarnição, da classe “Agile” ou responder a todos os requisitos especializa- espaçados no tempo já com guarnições por-
“MSO 421” na Marinha dos EUA passaram dos que aqueles navios exigiam ao seu tuguesas, previamente ali deslocadas para o
a ser designados na nossa Marinha por aprontamento, que incluía a correcção das efeito. Dava gosto visitá-los, porquanto
Classe “S. Jorge”. Foram cedidos pela suas assinaturas magnéticas, normalmente constituíam uma enorme inovação técnica
Marinha dos EUA a Portugal em 1955 ao efectuadas nas carreiras de desmagnetiza- para a Marinha e representavam a esperança
abrigo do mesmo Programa. ção de Cádiz ou Toulon, onde se obtinham de uma nova missão, inteiramente assu-
Os MSC´s “S. Roque”, “Ribeira Grande”, os valores da corrente eléctrica a introduzir mida por Portugal como membro fundador
“Lagoa” e “Rosário” eram navios de 452 nos anéis de desmagnetização de cada da NATO, no auge da Guerra Fria entre os
toneladas de deslocamento, de 46 metros de navio, tendo em conta a sua área geográfica dois blocos.
comprimento fora a fora e 8.7 de boca, com de operação e os rumos. A família dos draga-minas, os chamados
uma velocidade de 14.7 nós e 47 homens de A crescente sensibilidade das minas ma- “homens de ferro em navios de madeira”(1), que
guarnição, foram construídos em 1954 em gnéticas assim o exigia, apesar do casco de tantas vezes a ouviram ranger quando
Portugal, segundo os planos dos navios madeira e dos outros materiais empregues debaixo de mau tempo, depressa granjeou
ingleses da enorme prestí-
classe “Ton”, gio na Marinha.
dois ao abrigo OS DRAGA-MINAS DA MARINHA PORTUGUESA Tal como ago-
do Programa ra, o espírito de
Nome Indicativo visual Local de construção Data de aumento ao efectivo Data de abate
de Assistência missão dos mi-
Militar e dois DRAGA-MINAS COSTEIROS DA CLASSE “PONTA DELGADA” (MSC’S) litares tem que
mandados cons- Ponta Delgada M405 EUA 7/4/53 20/2/74 ser satisfeito
1/9/76
truir pelo Go- Horta M406 EUA 13/7/53 20/2/74 com a eficácia e
Angra do Heroísmo
21/8/53
EUA
M407
verno Portu- Vila do Porto M408 EUA 9/10/53 1/9/76 esta era bem
Santa Cruz M409 EUA 1/3/54 7/1/76
guês. Designa- Velas M410 Dorchester, EUA 17/5/54 1/9/76 alcançada ao
Lages M411 Dorchester, EUA 1/9/54 7/1/76
dos na nossa S. Pedro M412 Dorchester, EUA 3/12/54 20/2/74 serviço dos dra-
Marinha por ga-minas.
Classe “S. Ro- DRAGA-MINAS OCEÂNICOS DA CLASSE “S. JORGE” (MCO’S) Os navios es-
que”, foram in- S. Jorge M415 Washington, EUA 1/6/55 20/2/74 tavam novos,
1/6/55
Washington, EUA
corporados na Pico M416 Philip Rhode, EUA 15/8/55 17/10/73 saiam regular-
M417
Graciosa
20/2/74
Armada a par- Corvo M418 Manitowoc, EUA 23/11/55 20/2/74 mente para o
tir de 1956. mar, semanas e
Todos estes DRAGA-MINAS COSTEIROS DA CLASSE “ S. ROQUE” semanas segui-
draga-minas S. Roque M401 CUF, Lisboa 4/6/56 14/1/92 das, conseguin-
Ribeira Grande M402 CUF, Lisboa 7/2/57 * 28/11/97
sucederam a Lagoa M403 CUF, Lisboa 10/8/56 19/10/92 do um apura-
Rosário M404 CUF, Lisboa 8/2/57 19/10/92
quatro navios mento técnico e
de casco de *Reclassificado como navio auxiliar em 30/11/92 um adestra-
REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2002 17