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A Escola dos Draga-Minas
                  A Escola dos Draga-Minas



         J  á vai longe o tempo em que a Marinha  ferro, e ainda a carvão, o “S. Miguel”, o  na construção dos draga-minas procurarem
            de Guerra Portuguesa dispunha de uma
                                            “Faial”, o “Terceira” eo “Santa Maria”,  anti-
                                                                               reduzir ao mínimo a sua assinatura mag-
            Flotilha de Draga-minas. Com o auxílio  gos patrulhas do tempo da 2ª Guerra  nética natural.  Por curiosidade recorde-se
         aliado, a partir de 1953, sucessivamente,  Mundial, de construção inglesa, da classe  que, em tempo de guerra, seria interdito a
         pôde a Marinha contar com 8 draga-minas  “Trees”, o “Faial”, e da classe “Scottish Isles”,  todo o pessoal levar para bordo, na sua
         costeiros (MSC´s)  e 4 draga-minas oceâni-  os restantes, e que inicialmente foram desi-  bagagem, qualquer material magnético,
         cos (MSO´s)  de origem americana e mais 4  gnados por P1, P2, P3 e P4.   incluindo canivetes!
         draga-minas costeiros de concepção inglesa.  Classificados como draga-minas em 1951  Esta nova componente operacional da
         Aos oceânicos, foram dados os nomes de  e como caça-minas em 1956, designados  Marinha, a guerra de minas e contramedi-
         Ilhas dos Açores e aos costeiros, nomes de  por classe “Faial”,  foram sendo abatidos  das foi levada muito a sério no interesse
         cidades daquele mesmo arquipélago.  dado o seu desgaste e por estarem comple-  internacional, perante a ameaça sempre
           Os MSC´s “Ponta Delgada”, “Horta”,  tamente desactualizados para a guerra de  presente da utilização destas armas, pois
         “Angra do Heroísmo”, “Vila do Porto”, “Santa  minas. Só o “Santa Maria” (abatido em 1971)  mesmo as menos sofisticadas e mais baratas
         Cruz”, “Velas”, “Lajes” e “S. Pedro” eram na-  teve uma maior actividade integrado na  podiam ter efeitos terrivelmente limitadores
         vios de 405 toneladas de deslocamento, de  Flotilha, como lançador de minas de exercí-  da actividade marítima nos portos e seus
         44 metros de comprimento fora a  fora e 8.7  cio e de bóias e como patrulha das áreas de  acessos e tinham sido muito empregues na
         de boca, com uma velocidade de 13 nós e 40  exercício.                2ª Grande Guerra Mundial, com resultados
         homens de guarnição, da classe “Bluebird”  Os novos navios, de casco de madeira,  altamente compensadores para o utilizador.
         na Marinha dos EUA  passaram a ser desig-  constituídos em Flotilha, representaram  É neste contexto que a Marinha Portu-
         nados na nossa Marinha por Classe “Ponta  uma época muito nobre da nossa Marinha,  guesa assume a missão dos draga-minas,
         Delgada”.  Foram construídos a partir de  não só pelo seu considerável número e pela  fazendo-se assim compreender quanto
         1950, nos EUA, para a Armada portuguesa,  excelente escola de marinheiros que propor-  entusiasmo e importância representava
         ao abrigo de um Programa de Assistência  cionou, mas também pelos elevados  para os jovens oficiais, sargentos e praças,
         Militar, e incorporados a partir de 1953 .  padrões operacionais que as suas  daqueles novos navios, trazidos recente-
           Os MSO´s “S. Jorge”, “Pico”, “Graciosa” e  guarnições alcançaram, tantas vezes testa-  mente dos EUA e os de concepção inglesa
         “Corvo”, eram navios de 780 toneladas de  dos em exercícios nacionais e interna-  que, embora construídos nos estaleiros da
         deslocamento, de 52.4 metros de com-  cionais.                        CUF em Portugal, eram normalmente refe-
         primento fora a fora e 10.7 de boca, com  Para isso, muito contribuiu uma eficaz  ridos como “draga-minas ingleses”.
         uma velocidade máxima de 13.7 nós e 70  organização que, ao longo dos anos, pôde  Os navios americanos foram chegando
         homens de guarnição, da classe “Agile” ou  responder a todos os requisitos especializa-  espaçados no tempo já com guarnições por-
         “MSO 421” na Marinha dos EUA passaram  dos que aqueles navios exigiam ao seu  tuguesas, previamente ali deslocadas para o
         a ser designados na nossa Marinha por  aprontamento, que incluía a correcção das  efeito. Dava gosto visitá-los, porquanto
         Classe “S. Jorge”. Foram cedidos pela  suas assinaturas magnéticas, normalmente  constituíam uma enorme inovação técnica
         Marinha dos EUA a Portugal em 1955 ao  efectuadas nas carreiras de desmagnetiza-  para a Marinha e representavam a esperança
         abrigo do mesmo Programa.          ção de Cádiz ou Toulon, onde se obtinham  de uma nova missão, inteiramente assu-
           Os MSC´s “S. Roque”, “Ribeira Grande”,  os valores da corrente eléctrica a introduzir  mida por Portugal como membro fundador
         “Lagoa” e “Rosário” eram navios de 452  nos anéis  de desmagnetização de cada  da NATO, no auge da Guerra Fria entre os
         toneladas de deslocamento, de 46 metros de  navio, tendo em conta a sua área geográfica  dois blocos.
         comprimento fora a fora e 8.7 de boca, com  de operação e os rumos.     A família dos draga-minas, os chamados
         uma velocidade de 14.7 nós e 47 homens de  A  crescente sensibilidade das minas ma-  “homens de ferro em navios de madeira”(1), que
         guarnição, foram construídos em 1954 em  gnéticas assim o exigia, apesar do casco de  tantas vezes a ouviram ranger quando
         Portugal, segundo os planos dos navios  madeira e dos outros materiais empregues  debaixo de mau tempo, depressa granjeou
         ingleses  da                                                                               enorme prestí-
         classe  “Ton”,                                                                             gio na Marinha.
         dois ao abrigo                 OS DRAGA-MINAS DA MARINHA PORTUGUESA                        Tal como ago-
         do Programa                                                                                ra, o espírito de
                             Nome         Indicativo visual  Local de construção  Data de aumento ao efectivo  Data de abate
         de Assistência                                                                             missão dos mi-
         Militar e dois               DRAGA-MINAS COSTEIROS DA CLASSE “PONTA DELGADA” (MSC’S)       litares tem que
         mandados cons-  Ponta Delgada      M405           EUA            7/4/53        20/2/74     ser satisfeito
                                                                                         1/9/76
         truir pelo Go-  Horta              M406           EUA            13/7/53       20/2/74     com a eficácia e
                         Angra do Heroísmo
                                                                          21/8/53
                                                           EUA
                                            M407
         verno Portu-    Vila do Porto      M408           EUA            9/10/53        1/9/76     esta era bem
                         Santa Cruz         M409           EUA            1/3/54         7/1/76
         guês.  Designa-  Velas             M410         Dorchester, EUA  17/5/54        1/9/76     alcançada ao
                         Lages              M411         Dorchester, EUA  1/9/54         7/1/76
         dos na nossa    S. Pedro           M412         Dorchester, EUA  3/12/54       20/2/74     serviço dos dra-
         Marinha por                                                                                ga-minas.
         Classe “S. Ro-                 DRAGA-MINAS OCEÂNICOS DA CLASSE “S. JORGE” (MCO’S)            Os navios es-
         que”, foram in-  S. Jorge          M415        Washington, EUA   1/6/55        20/2/74     tavam novos,
                                                                          1/6/55
                                                        Washington, EUA
         corporados na   Pico               M416        Philip Rhode, EUA  15/8/55      17/10/73    saiam regular-
                                            M417
                         Graciosa
                                                                                        20/2/74
         Armada a par-   Corvo              M418         Manitowoc, EUA  23/11/55       20/2/74     mente para o
         tir de 1956.                                                                               mar, semanas e
           Todos estes                     DRAGA-MINAS COSTEIROS DA CLASSE “ S. ROQUE”              semanas segui-
         draga-minas     S. Roque           M401          CUF, Lisboa     4/6/56        14/1/92     das, conseguin-
                         Ribeira Grande     M402          CUF, Lisboa     7/2/57        * 28/11/97
         sucederam a     Lagoa              M403          CUF, Lisboa     10/8/56       19/10/92    do um apura-
                         Rosário            M404          CUF, Lisboa     8/2/57        19/10/92
         quatro navios                                                                              mento técnico e
         de casco de    *Reclassificado como navio auxiliar em 30/11/92                             um adestra-
                                                                                        REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2002 17
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