Page 128 - Revista da Armada
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e da máxima que “o primeiro erro é normal-
mente o último”, se foi ganhando prática e
saber, com algumas dificuldades e “sustos”
pelo meio, mas que foram sendo supera-
dos pela dedicação, profissionalismo e
empenhamento dos oficiais, sargentos e
praças envolvidos nesta actividade.
E um bom exemplo do superar de difi-
culdades foi o estudo e manufactura de
um sistema com redes que permitia, uti-
lizando apenas meios de bordo, o embar-
que e o desembarque, de um “Land Rover”
num draga-minas inglês, para um melhor
apoio aos estágios na Ilha da Culatra. Não
só para o transporte local de material e
explosivos, que até aí eram transportado
pelo areal à mão e numa padiola im-
provisada no navio, mas também para
uma maior rapidez na assistência a qual-
quer acidente, o que felizmente nunca se
NRP “Ponta Delgada”. tornou necessário.
Os “sustos” estiveram sempre associa-
mento verdadeiramente excepcional, tendo de Minas, inicialmente obtido em Escolas dos à montagem, à superfície ou submari-
em conta o início da utilização e emprego estrangeiras e em exercícios no mar, e de o na, de cargas de contraminagem ou de de-
dos procedimentos NATO. A avaliação do desenvolver e adaptar às características do molição que tinham falhas de fogo ou por
treino era muitas vezes testada em exercí- nosso teatro de operações. Beneficiando do deficiências do material ou resultado de
cios de manobras e evoluções que, atenden- entusiasmo, dedicação e competência improvisos que tinham que ser ensaiados e
do às suas características evolutivas, resul- profissional do pessoal dos draga-minas experimentados para responder a necessi-
tavam de forma surpreendente. que veio a preencher o seu quadro de dades de utilização ou de aprendizagem.
Na sua actividade específica tinham pos- instrutores e auxiliares de instrução, muitos Essas falhas obrigavam sempre ao des-
sibilidades de efectuar rocegas de minas deles em acumulação. montar desse material “vivo” ou à colo-
fundeadas e de minas de fundo acústicas e Em 1965 o CIMCM estendia o seu ensi- cação, sobre ele, de cargas de contrami-
magnéticas, rebocando dispositivos ade- no à Identificação e Inactivação de nagem.
quados para rocegar cada um destes tipos Armamento, desenvolvendo praticamente É de salientar, ainda, que, com o evoluir
de minas, isoladamente ou combinados. E de raiz, e em estreito contacto com a Escola dos tempos e da electrónica, a sofisticação
se o lançamento e recolha de cada rocega, de Mergulhadores e com a Escola de cada vez maior das minas marítimas apon-
nem sempre em boas condições de mar e Fuzileiros, cursos para preparar pessoal tava já para evolução das suas contramedi-
tempo, obrigavam a fainas que punham à para as delicadas missões, de identificação das passarem pela substituição das rocegas
prova as qualidades marinheiras da e inactivação de minas marítimas, de e dos draga-minas, especialmente em
guarnição, o lançamento e recolha de roce- minas e armadilhas terrestres e de objectos águas mais restritas, por sistemas de
gas combinadas exigiam uma perícia notá- suspeitos dados à costa. Ao mesmo tempo detecção, localização e contraminagem de
vel e um empenhamento árduo dessas que se empenhava em desenvolver, em minas, desenvolvidos a partir de navios,
qualidades que ia desde o Comandante na paralelo, as bases de uma cuidada que viriam a ser designados novamente
ponte e passava pelo Imediato e pelo instrução na utilização de material de por caça-minas, e com um maior empenho
Mestre até ao grumete mais “marreta” na demolição. de mergulhadores e/ou veículos controla-
tolda. O que tornava estes navios uma Para o desenvolvimento deste ensino foi dos a distância. Ou ainda pela instalação
autêntica “escola de mar”. ainda muito importante a criação do desses sistemas a bordo de navios com
Em complemento das tarefas específicas Campo de Treino de Minas e Demolições capacidade de fazer rocegas, tornando-os
como draga-minas, que exigiam uma rigo- da Ilha da Culatra onde, partindo do zero ambivalentes.
rosa navegação, método e muita perseve- em instalações e do princípio que era uma As velhas limitações financeiras, deste
rança(2), a operacionalidade alcançada com matéria que só fazendo se podia aprender “país à beira mar plantado”, e que levaram
base na doutrina emanada das publicações
de comunicações e de outros procedimen-
tos NATO, bem como na importante área
da limitação de avarias, permitia atribuir a
estes navios outras missões.
Essas missões englobavam não só a de
soberania ao longo de toda a costa por-
tuguesa, mas também a sua integração em
exercícios nacionais e internacionais, tantas
vezes configurando comboios e, ainda,
eram ordenados, a par de outros navios de
maior tonelagem, para as missões de
serviço público, incluindo o serviço SAR.
A criação do Centro de Instrução de
Minas e Contramedidas (CIMCM) em 1964,
adstrito ao Comando Naval do Continente,
veio permitir a possibilidade de sedimentar
e transmitir todo o conhecimento de Guerra NRP “Corvo”.
18 ABRIL 2002 • REVISTA DA ARMADA