Page 129 - Revista da Armada
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ções, que incluíam os estágios na Ilha da
                                                                               Culatra, e outras actividades do CIMCM,
                                                                               como os estágios anuais na Escola de
                                                                               Guerra de Minas em Ostende.
                                                                                 Para além de missões  SAR e de fiscali-
                                                                               zação da costa, já mencionadas, foram
                                                                               ainda aproveitados de forma regular para
                                                                               reboque de alvos em exercícios de arti-
                                                                               lharia costeira, treino de mar de alunos da
                                                                               Escola Naval e cooperação com o Instituto
                                                                               Hidrográfico na realização de perfis
                                                                               batitermográficos.
                                                                                 Bons navios para o mar, embora nem
                                                                               sempre para os estômagos, aguentando
                                                                               bem o SW rijo  do Inverno e as fortes nor-
                                                                               tadas do Verão, podemos dizer que se
                                                                               tornaram “pau para toda a obra” ou “Jack of
                                                                               all trades”, como diriam os ingleses e,
                                                                               talvez por isso, foram os últimos draga-
         NRP “Rosário”.
                                                                               -minas a ser abatidos ao efectivo dos na-
         ao abandono do material, do saber e da  Entre 1974 e 76, a seguir aos seus irmãos  vios da Armada. Em 1992 foram abatidos
         prática ligados à guerra de minas, já não  oceânicos, foram todos abatidos ao efec-  3, sobrevivendo apenas o “Ribeira Grande”
         nos permitiram atingir o patamar seguinte.   tivo dos navios da Armada, devido ao des-  que foi reclassificado como navio auxiliar.
           Os draga-minas oceânicos foram os  gaste e à desactualização do seu equipa-  E o CIMCM, que era o repositório do
         primeiros a sofrer as consequências do  mento. Outras opções impuseram à  saber e da prática da guerra de minas, para
         esforço que era despendido em África e da  Marinha que não fossem substituídos.  uma eventual reactivação de meios, sem
         escassez de pessoal para os guarnecer.  Os draga-minas costeiros ingleses foram  estes à vista no horizonte acabou por  ser
         Cedo encostaram depois de uma activi-  os que ficaram mais cedo com as suas roce-  extinto nas disposições finais e transitórias
         dade que os levou a participar nos pri-  gas de influência desactualizadas, especial-  de um Decreto Regulamentar de 1 de Se-
         meiros exercícios, em águas espanholas,  mente a acústica, que era rebocada à  tembro de 1994.  Nessas disposições as
         francesas e inglesas, e a viagens aos Açores  borda, e que também as dificuldades  suas competências foram diluídas pela
         e Madeira. Em finais dos anos sessenta  financeiras impediram de substituir. Mas  Escola de Mergulhadores, pela Escola de
         constituíam o Agrupamento n.º 1 de Dra-                               Armas Submarinas e pelo CITAN
         ga-minas que tinha um mínimo de guar-                                   Terminava assim a saga dos draga-
         nição com objectivo de mantê-los “em con-                             -minas, sem glória, mas deixando atrás de
         serva”, de modo a poderem ser reactivados                             si uma esteira de bons serviços, de árdua
         se necessário, mas vieram todos a ser                                 escola de marinheiros, com a qual só o
         abatidos ao efectivo dos navios da Arma-                              N.E. “Sagres” rivalizava, e de grande
         da entre 1973 e 74.                                                   saudade com um enorme sabor a mar para
           Nos draga-minas costeiros americanos,                               todos os que tiveram o privilégio de neles
         que foram aqueles que mantiveram du-                                  servir nos seus tempos de operaciona-
         rante mais tempo a sua capacidade opera-                              lidade.
         cional como draga-minas, havia um Co-                                   Há inúmeras histórias de marinheiros
         mandante para cada dois, ficando um                                   tendo quase sempre o mar por referência,
         navio de reserva.  Os terceiros oficiais                              relacionadas com os draga-minas e con-
         mudavam de um navio para outro, per-                                  tadas por tantas gerações de oficiais, sar-
         mitindo assim o treino continuado das                                 gentos e praças que por ali passaram
         duas guarnições.                                                      durante os cerca de vinte anos da sua
           Existia um espírito de equipa muito                                 existência, mas não resisto  a deixar de
         forte, sempre bem patenteado no bom                                                     contar uma bem
         relacionamento das guarnições quando ao                                                 diferente, a história
         início da noite, se recreavam passeando                                                 do “Scotch”.
         por Setúbal ou Sesimbra depois do tradi-                                                  O  “Scotch” era
         cional telefonema para a família. Todos                                                 um cão de água de
         sentiam orgulho do seu navio e a com-  continuaram                                      raça cocker, de cor
         petição era notável no bom sentido, pois  sempre a sua                                  preta, de estatura
         testemunhavam uma mística própria de  actividade na                                     média, que veio
         quem faz bem feito, vivendo-se um excep-  área das minas                                ainda cachorro dos
         cional ambiente de trabalho e de cama-  e contramedi-                                   EUA com o “Ponta
         radagem entre as guarnições.       das, mantendo                                        Delgada”, chegado
           Foi neste ambiente de trabalho que mui-  o treino da ro-                              a Lisboa em 31 de
         tos jovens oficiais, ainda longe de serem  cega de minas                                Agosto de 1953 e
         Comandantes, tiveram oportunidade de  fundeadas,                                        que, passado pou-
         experimentar e aprender a atracar os seus  lançando e re-                               co tempo, pelo seu
         próprios navios, sendo esta prática fre-  colhendo bóias                                dedicado compor-
         quente nos draga-minas, o que muito con-  de balizagem, patrulhando áreas de exercí-  tamento se tornou mascote, não só do seu
         tribuiu para o desembaraço, neste particu-  cios de rocegas e apoiando  mergulhadores  navio, como da própria Flotilha. Este mag-
         lar, de muitos oficiais da classe de  sapadores e exercícios de inactivação de  nífico cão reagia efusivamente ao apito
         Marinha.                           minas e de outro armamento e de demoli-  para a faina, ocupando de imediato o seu
                                                                                        REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2002 19
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