Page 165 - Revista da Armada
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mecanismos legais para a sua substituição, de  cerimónia. Exactamente por ser aqui forjada
                                            forma que “o imediato passa a substituir o  a alma dos nossos futuros oficiais, numa
                                            comandante” e a cerimónia marca uma trans-  continuidade de passagem de conhecimen-
                                            ferência de funções para o Vice-Chefe do  to, de cultura e, sobretudo, de valores morais
                                            Estado-Maior da Armada. A homenagem aos  que são garantia do amanhã digno do pas-
                                            mortos, contudo, viria imediatamente, e o  sado”. E esta foi – sem dúvida – a mensagem
                                            Almirante Matias interrompeu o seu discurso  mais importante que nos deixou o Almirante
                                            para ordenar ao comandante das Forças em  Matias. A Marinha sofreu nos últimos anos
                                            Parada: “Senhor comandante da Força, dê as  as maiores agruras devido a dificuldades
                                            ordens para home-
                                            nagem aos mortos.
                                            Ao Senhor capelão
                                            Chefe da Marinha
                                            peço para, durante
                                            o silêncio, fazer a
                                            evocação dos nos-
         O Vice-Almirante Mota e Silva proferindo a sua
         alocução.                          sos mortos”. A ce-
                                            rimónia de home-
         esquadra (já, de si, envelhecida) e sem investi-  nagem aos mortos
         mento de renovação. Foram palavras de  começa com o to-
         apreço que realçaram, sobretudo, a arte do  que de silêncio, a
         Almirante Matias para navegar em mar tem-  que se segue a ho-
         pestuoso, conduzindo a nau da Marinha nas  menagem, com as
         mais duras condições de mar e vento, e com  forças em “apresen-
         o aparelho para além dos limites.  tar arma” e todo o
           O Almirante CEMA falou imediatamente a  pessoal em con-  O Almirante Vieira Matias lendo o discurso de despedida.
         seguir e começou por assinalar ter sido sua  tinência, e, por fim,
         intenção, nesta cerimónia, “homenagear os  o toque de alvorada. O CEMA retomou, então  orçamentais – e o CEMA não esconde o seu
         nossos antepassados marinheiros” e “agrade-  o seu discurso: “Como repararam a cerimónia  desgosto por não ter “alcançado os objec-
         cer, pessoalmente, o desempenho de todos os  terminou com o toque de alvorada.  tivos que só o poder político podia ter tor-
         que [...] serviram o País na Marinha, ao longo  Simboliza-se com ele a continuação da vida e  nado exequíveis – mas o seu pessoal nunca
         dos últimos cinco anos”. Mas, as circunstân-  o renovar da esperança no novo dia que  esteve abaixo de nenhuma expectativa e
         cias levaram a que o seu mandato chegue ao  começa. E é exactamente porque quero  sempre dispôs dos “homens e mulheres [...]
         fim sem que tenham sido accionados os  deixar a Marinha com uma afirmação de fé e  prontos para qualquer das missões que o
                                                              de esperança num  País institucionalmente nos confia” e esse
                                                              futuro melhor que  desafio assumido foi vencido. Enquanto for
                                                              entendi ser a Escola  essa a postura por que se pauta o pessoal
                                                              Naval o local mais  da Marinha a esperança poderá ser sempre
                                                              adequado para esta  elevada, e a mesma instituição que no
                                                                                                 século XV abriu o
                                                                                                 caminho da Índia e
                                                                                                 do Brasil, continua-
                                                                                                 rá a encontrar as
                                                                                                 suas Índias e Brasís,
                                                                                                 onde quer que eles
                                                                                                 estejam.

                                                                                                 J. Semedo de Matos
         Desfile da Marinha.                                                                                CFR FZ

                                       A AORN e a Marinha de Guerra

            No passado dia 15 de Março, a Associação de Ofi-  tada pelas suas mais altas entidades, pudesse ser mani-  Ao Almirante Vieira Matias foi feita a oferta do
          ciais da Reserva Naval promoveu um jantar de con-  festado o empenhamento da sua Reserva Naval, na  Brasão de Armas da AORN e um quadro com a
          fraternização, no Hotel da Quinta da Marinha, em  defesa do Mar, dos princípios que desde sempre nor-  serigrafia “Rumos”, réplica do quadro a óleo especial-
          Cascais, com o objectivo de manifestar à Marinha de  tearam a sua acção e da Instituição a que pertencem.  mente pintado para a Associação pelos pintores Vieira
          Guerra Portuguesa o agradecimento da AORN pelo  Quarenta e cinco oficiais de Marinha tiveram opor-  Baptista, Victor Laje e Gustavo Fernandes.
          apoio que recebeu ao longo dos últimos cinco anos  tunidade de conviver com uma centena de associados  No agradecimento do Almirante Nuno Vieira
          da sua existência.                 da AORN, testemunhando um acto demonstrativo de  Matias, ficou bem claro o sentimento de orgulho da
            A presença do Almirante Nuno Vieira Matias,  que a sociedade civil, representada nesta Associação,  Marinha de Guerra na sua Reserva Naval, e o reco-
          Chefe do Estado-Maior da Armada, conferiu ao acto o  mantém vivo o espírito solidário e amigo, iniciado  nhecimento do papel desempenhado pela AORN na
          maior simbolismo, sendo especialmente relevante a  quando em plena juventude franquearam pela  divulgação da Instituição junto da população, com
          comparência maciça dos Almirantes, dos coman-  primeira vez os portões da Escola Naval.  realce para o meio universitário, e na defesa do Mar.
          dantes das unidades e directores dos serviços, que ao  No uso da palavra, o Professor Ernâni Rodrigues  Realçou o desgosto por deixar a chefia da Marinha
          longo do referido período, mais directa e assidua-  Lopes, Presidente da Assembleia Geral da AORN, fez  numa fase extraordinariamente difícil da sua existên-
          mente mantiveram contacto com a Associação dos  uma detalhada exposição acerca dos objectivos que  cia, com uma visível indefinição da política nacional
          Oficiais da Reserva Naval.         norteiam a Associação, realçando o perfeito entendi-  no respeitante às Forças Armadas e, com consequên-
            Pretendeu a AORN, que a saída do Almirante Nuno  mento com a Marinha e garantindo a continuação da  cias muito graves para o futuro da Marinha de Guerra
          Vieira Matias da chefia do Estado-Maior da Armada, por  acção dos seus membros, na senda da divisa que em  Portuguesa, manifestando, no entanto, a sua esperan-
          força do limite de tempo legal naquele cargo, fosse assi-  boa hora escolheram “... e bem serviram sem cuidar  ça de ainda uma vez mais, os portugueses saberem
          nalada com um encontro, em que à Marinha, represen-  recompensa”.    encontrar força e lucidez para vencer esta crise.

                                                                                       REVISTA DA ARMADA • MAIO 2002  19
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