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Teixeira da Mota ao posto de vice-almirante dade e com orgulho”.
veio chamar a atenção para uma figura de Hoje 20 anos decorri-
proa da cultura portuguesa que prestou re- dos, posso acrescentar:
levantes serviços ao País no campo da in- pelo que conhecemos
vestigação”. dele e da sua obra, pelas
Salientou também a notícia da sua morte reacções suscitadas com
publicada no respeitável e circunspecto jornal o seu desaparecimento
londrino Times (23.04.1982), geralmente em diversos meios cientí-
parco e prudente em referências obituárias: “O ficos e, sobretudo, pelo
Vice-Almirante Teixeira da Mota, falecido em vazio que indubitavel-
12 de Abril de 1982, era um notável académi- mente deixou em alguns
co e homem de acção que, nalguns aspectos ramos da sua especiali-
lembrava os pioneiros da Renascença por- dade, designadamente
tuguesa, acerca dos quais escrevia tão bem”. nesta Academia, a morte
O Times lembrava ainda que o falecido publi- de Teixeira da Mota foi Aspecto da assistência.
cou centenas de ensaios, artigos, monografias muito mais do que uma
e livros de elevada qualidade “ pela amplitude perda nacional”. aspectos diversos da obra de Teixeira da
do seu âmbito e profundidade da sua Usou seguidamente da palavra o académi- Mota, o orador terminou considerando-o “....
erudição”, lembrando ainda que Teixeira da co Professor Doutor Dias Farinha que se marinheiro e historiador para todo o sempre
Mota se distinguiu não só como historiador referiu ao homenageado considerando-o um de memória abençoada”.
mas também como antropólogo e cientista notabilíssimo historiador a nível nacional e O auditório, não conseguiu conter todos os
náutico e que “tinha poucos iguais e nenhum internacional e cuja obra, nos seus múltiplos presentes, que se espalhavam no seu exterior
superior” nos vários ramos a que se dedicou. aspectos, muitíssimo contribuiu para o desen- onde puderam seguir, no entanto, a sessão
A concluir a sua intervenção, o Coman- volvimento das ciências históricas, mormente através de projecção de TV cedida e montada
dante Serra Brandão afirmou: “Avelino Teixei- da Ciência Náutica e da Cartografia Antiga. pelo CNED. Estiveram presentes os Presi-
ra da Mota morreu em 12 de Abril de 1982, O académico Professor Doutor Veríssimo dentes da Sociedade de Geografia e da
com 61 anos; jovem de idade perante o muito Serrão abordou, então, a personalidade e a Sociedade Histórica da Independência de
que havia ainda a esperar da sua inteligência obra do homenageado, afirmando ter acom- Portugal e os representantes da Academia das
e do seu talento; jovem de espírito pois con- panhado de perto os trabalhos deste ilustríssi- Ciências e da Comissão das Comemorações
servava o entusiasmo pelo trabalho, a vivaci- mo historiador e da sua contribuição e dos Descobrimentos Portugueses, além de ofi-
dade da conversa, a riqueza do comentário. empenhamento para o desenvolvimento das ciais dos cursos da Escola Naval contemporâ-
Na qualidade de seu amigo, contemporâ- ciências históricas. neos do Vice-Almirante Teixeira da Mota,
neo no Alfeite, colega no corpo docente da Afirmou estarmos a viver “numa época familiares e amigos do homenageado, cadetes
Escola Naval, companheiro de trabalho nas cada vez mais ausente dos valores, do afecto da Escola Naval e da Academia Militar e
Comemorações Henriquinas, sócio na e em que o pecado da ingratidão pesa sobre muitas outras entidades militares e civis que
Sociedade de Geografia e confrade nesta muitas figuras dignas de lembrança” acres- contactaram com o Vice-Almirante Teixeira
Academia, tive a honra e a responsabilidade centando, ainda, que, para si, “os marinhei- da Mota em situações diversas.
de ser convidado para redigir a triste notícia ros receberam uma aprendizagem que lhes A propósito desta sessão de homenagem, a
da sua morte nos Anais do Clube Militar permite ser diferentes dos outros homens na Academia de Marinha, em colaboração com
Naval que assim terminava: “Quem tiver vida e na captação do destino”. outros organismos da Marinha (EMA, BCM,
conhecido bem o investigador da cartografia Quanto ao homenageado, afirmou que E. Naval) exibiu fotografias e documentos
portuguesa dos séculos XV e XVI sabe que “conseguiu impor-se como um dos mais respeitantes a aspectos diversos da vida do
Teixeira da Mota já era almirante quando foi dignos e prestantes historiadores portugueses homenageado e ainda alguns exemplares dos
promovido a guarda-marinha. Ele é uma da segunda metade do séc. XX” ficando principais trabalhos da sua valiosa e vasta
daquelas figuras, como Fontoura da Costa e “como exemplo da argúcia crítica no apura- obra científica.
Gago Coutinho, de quem a Marinha, através mento das viagens marítimas do séc. XV”.
dos tempos, se lembrará sempre com sau- Após tecer mais considerações sobre (Colaboração da Academia de Marinha)
Condecoração do Presidente da Academia de Marinha
O Chefe do Estado-Maior da Armada, no fim da sessão e imprevistamente, saiu da mesa de
presidência e usou da palavra referindo-se “ao brilho e extensa actividade desenvolvida pela
Academia” e ao seu Presidente como “gerador de sinergias e proveito do prestígio da
Academia”, citando em termos elogiosos as reuniões de carácter científico e cultural que nela
têm usualmente lugar.
Acerca do Contra-Almirante Rogério de Oliveira, aludiu ao prestígio nacional e interna-
cional de que se rodeou a sua actividade de engenheiro construtor-naval e à sua brilhante
docência na Escola Naval, pelo que cumprindo um “dever de justiça” ia louvá-lo “pelo bri-
lhante e extraordinário exercício da presidência da Academia de Marinha que levou a cabo ao
longo dos cinco anos em que estou investido no presente cargo”.
Seguiu-se então a leitura dum louvor pelo Comandante Sanches de Baena, após o que o
Almirante CEMA impôs ao Presidente da Academia de Marinha a Medalha de Ouro de Serviços
Distintos, o que foi sublinhado com uma longa salva de palmas por toda a assistência, de pé.
O Presidente da Academia, emocionado e em resposta às palavras e à condecoração que
lhe tinha sido imposta pelo Almirante CEMA, aludiu num improviso à “sua paixão pela
Marinha e pela sua carreira profissional o que o tinha sempre levado a nunca aceitar convites
para sair da Marinha”.
Agradeceu lisonjeado a condecoração recebida considerando, no entanto, que é à
Academia que ela é de facto dirigida e “aos membros que mais se dedicam com o seu labor, a
sua inteligência, o seu espírito naval, os que diariamente prestam o seu contributo à Academia
de Marinha”, terminando por agradecer, mais uma vez, ao Almirante CEMA o “notável desen-
volvimento que imprimiu à cultura, o que a Academia de Marinha muito apreciou”.
O Almirante CEMA impondo a condecoração ao Presidente da Academia.
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2002 21