Page 346 - Revista da Armada
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Que fosse apenas o mais pequeno dos assim demonstrar a
oceanos com uma enorme massa de água existência de uma
em vários estádios de congelação, flu- corrente, interes-
tuando sobre fundos até 5.500 metros, só sando todo o Ocea-
muito mais tarde foi acertado pelo ex- no Árctico em tor-
plorador norueguês Fridtjof Nansen no do Pólo, no sen-
(1861-1930), já nos finais do Sec. XIX. tido contrário ao
Muito posteriormente uma simulação da dos ponteiros do
deslocação dos gelos foi efectuada pelo relógio, que flui na
quebra-gelos canadiano “Dês Groseillers”, direcção da costa
que durante os 13 meses da experiência Leste da Groenlân-
percorreu cerca de 2.700 mi. Em linhas dia, saindo de novo
gerais o percurso dos gelos flutuantes é para o Atlântico
na direcção noroeste a partir das costas através do Estreito
russas até atingir o extremo nordeste da de Davis. Esta cor-
Groenlândia. A circulação da água é rente é responsável
especialmente influenciada pelo braço da pela introdução de Fig. 8 – Plataforma petrolífera, símbolo da nova riqueza do Árctico.
corrente do Golfo que entra no Árctico muitos icebergues
entre a Groenlândia e a Noruega e que, no Atlântico Norte, na zona do Labrador, salvar os sobreviventes do dirigível
com a diminuição da temperatura, se com graves consequências para a nave- “Itália”, nomeadamente o General Ita-
afunda retornando ao Atlântico através gação ao longo dos tempos. Alguns liano Umberto Nobile com quem tivera
do Estreito de Davis, acompanhado de destes icebergues, depois de estudos ou graves desentendimentos.
muitos icebergues. pseudo estudos para serem rebocados Nos últimos anos já houve um número
para o Golfo Pérsico, acabaram actual- tão elevado de visitas ao Pólo Norte e va-
EXPLORADORES MAIS RECENTES mente por serem transformados em água riadas proezas relacionadas com ele, que
que é engarrafada para alguns “Snobs” se torna difícil enumerá-las e ainda mais
Depois da malograda viagem de John internacionais matarem a sede e afir- criar qualquer escala de mérito. Para os
Franklin dá-se um interregno de cerca de marem a sua riqueza. apaixonados das estatísticas apresentamos
38 anos nas viagens de descoberta da Durante esta viagem Nansen, partin- alguns dados do “Scott Polar Institute”
Passagem a Nordeste. do do ponto mais a Norte da rota do referidos a Julho de 1999. Total: cerca de
Documentação muito antiga, caldeada navio, deslocou-se de trenó com outro 9.000 pessoas, das quais aproximadamente
com superstições recorrentemente parti- membro da expedição em direcção ao 4.500 de submarino, embarcadas em 40
lhadas pelas etnias dos três continentes Norte, conseguindo atingir a latitude de submarinos americanos, 20 russos e 7
que circundam o Pólo Norte, já referia a 86° 13´N, valor mais a Norte até então ingleses, depois da viagem transpolar do
existência de uma considerável massa de alcançado. Nansen, homem de grande “Nautilus” em Agosto de 1958.
gelos a norte das terras boreais mais co- cultura, foi o primeiro Embaixador da É interessante mencionar que no ano
nhecidas. A sua extensão, condições cli- Noruega em Inglaterra e trabalhou para corrente está em curso uma tentativa de
matéricas e movimentos eram contudo várias organizações internacionais, cooperação entre os diversos grupos
praticamente ignotos. O recomeço das nomeadamente no repatriamento dos pri- indígenas para defesa dos seus interesses
explorações, com novos tipos de navios e sioneiros da Primeira Guerra Mundial. na região, onde se encontram dispersos
equipamentos, verifica-se pela iniciativa Roald Amundsen (1923-1928) nasceu pela Rússia, num arco de paralelo de
do Norueguês Fridjoft Nansen (1861- perto de Cristiana, actual Oslo. Estu- 165°, pela Groenlândia, Alasca e Sibéria.
-1930) que já atravessara os gelos da dante de medicina, cedo se apaixonou Este esforço de aproximação é todavia
Groenlândia de Leste para Oeste, du- pelas explorações polares, embarcando dificultado pela existência de dialectos e
rante os anos de 1888-9. como marinheiro na expedição belga tipos de escrita diferentes. Como ponto
Em 1893, com a viagem do seu navio de Guerlache de 1897, primeira que de reflexão nota-se que os habitantes
“Fram”, mantido hoje em exposição num hibernou no Árctico, após uma imobi- recém-chegados ao Árctico, vindos do
museu de Oslo, este cientista materializou lização forçada nos gelos do “Bélgica”. Sul, são cerca de sete vezes mais que os
a ideia de deixar um navio, suficiente- De 1903 a 1906 navegou pela Passagem indígenas.
mente reforçado para suportar as pressões de Noroeste. Aspirando ser o primeiro Com o passar dos séculos os conheci-
previsíveis dos gelos, à deriva numa cor- na conquista de um dos Pólos e, após mentos geográficos e os meios de trans-
rente do Árctico para Norte. Conseguiu uma vasta experiência Árctica, ao saber porte e pesquisa científica foram sendo
dos preparativos de mais elaborados. Consequentemente os
Shackleton para atin- desafios restringem-se a áreas circumpo-
gir o Pólo Sul, alte- lares cada ano mais reduzidas, qual
rou os seus projectos gigantesco diafragma fotográfico, em
e iniciou os prepa- inexorável oclusão. Esta corrida para o
rativos para a con- Pólo em pequenos grupos representou,
quista das vastidões ainda nos séculos XIX e XX, um dos
Antárcticas, permi- desafios mais empolgantes para os
tindo-lhe ser o pri- sonhadores de silêncios dos últimos con-
meiro a atingir o Pólo fins. Urge agora que um turismo morige-
Sul. Tal feito será o rado e a vontade firme dos homens não
tema de um próximo banalizem povos, culturas e paisagens
trabalho. ainda incontaminados.
Veio a falecer num
desastre de avião J. Baião do Nascimento
próximo de Tromso CMG ECN
Fig. 9 – Monumento na fronteira da Noruega com a Rússia. quando procurava (Fotos do autor)
20 NOVEMBRO 2002 • REVISTA DA ARMADA