Page 133 - Revista da Armada
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elementos das equipas vencedoras das duas informação o “skipper”
edições anteriores. da embarcação tomou
No início da final da Taça América, que come- uma posição a sotaven-
çou a disputar-se a 15 de Fevereiro, os indícios to, que parecia de iní-
da vitória caiam no “Alinghi”, tendo o cenário no cio menos favorável, (por gentileza do “Swiss Alinghi Team”)
golfo Hauraki, em Auckland, reunido milhares de mas que com um bor-
pessoas para assistirem à partida, cujo tiro de lar- do efectuado pelo lado
gada foi dado pela modelo Cindy Crawford. direito do percurso per-
Passaram rapidamente os momentos de felici- mitiu a vitória. Assim, a
dade dos adeptos neo-zelandeses, pois o “New informação recebida de
Zealand Team” e sua tripulação de luxo iriam viver Jon Bilger, chefe da equi- O “Team New Zealand” em treino de mar.
momentos muito difíceis com a entrada de muita pe de meteorologia do
água (acabaram por retirar cerca de 6 toneladas de “Alinghi”, foi verdadeiramente decisiva para mais pa do “Alinghi” dominou do princípio ao fim da
água) e com a extremidade da retranca partida, sol- uma vitória – a 3ª – com 24 segundos de vanta- regata, terminando vencedora com 45 segundos
tando-se logo a seguir uma das velas. O “skipper” gem sobre o “New Zealand Team”. de avanço sobre os neo-zelandeses.
Dean Barker estava desalentado com o sucedido, A quarta regata prevista para 21 de Fevereiro
mas tinha esperança que após esta 1ª derrota em teve de ser adiada devido ao vento fraco que se “ALINGHI” EM LISBOA
favor do “Alinghi”, os estragos seriam reparados e fez sentir no golfo de Hauraki. O “Alinghi Team”, vencedor da Taça América, e dado
que a 2ª regata lhes iria correr de feição. A falta de vento impossibilitou a realização da que o seu país – Suíça – não tem mar, aposta fortemente
Assim foi com relativa facilidade que os suíços regata que ficou adiada para o dia seguinte, no em Portugal, como país anfitrião para a futura realização
do “Alinghi” cortaram a linha de chegada, permi- entanto, deu-se novo adiamento nesse dia, de- da regata em 2006/2007. Apoiando a candidatura de
Portugal, trouxe a Lisboa uma réplica-modelo do “Alin-
tindo a Russel Couts alcançar a sua décima vitória vido ao golfo de Hauraki ter sido assolado por ghi”, exposto no Hotel D. Pedro, onde se realizou uma
consecutiva em regatas da Taça América (contando ventos fortes imprevisíveis. conferência de imprensa a 22 de Fevereiro.
com as nove vitórias nas duas edições de 1995 e No sentido de recuperar das três derrotas já so- O empresário Stephano Saviotti dirigiu algumas pa-
2000 a bordo do “New Zealand Team”). fridas a equipa da Nova Zelândia substituiu o seu lavras aos presentes, torcendo, com uma costela suíça,
Infelizmente para os neo-zelandeses a Taça “homem táctico” Hamish Pepper pelo “agressivo” para a realização das regatas na área ribeirinha da nossa
costa. Usaram também da palavra Pedro Pinto, da Asso-
América não começou bem, pois acabaram velejador francês Bertrand Pace. O “skipper” do ciação de Turismo de Lisboa e Luís Miguel Moreira, re-
por perder a segunda regata. Resta a consolação “New Zealand Team” considerou que foram dois cém reeleito Presidente da Federação Portuguesa de Vela.
do “Alinghi” ter vencido só com sete segundos erros tácticos fatais que os conduziram à derrota Ambos realçaram as potencialidades da costa portuguesa
de vantagem com uma final muito renhida entre nas duas últimas regatas. ao largo de Lisboa, bem como as infra-estruturas dispo-
níveis e todas as mais valias que seriam conseguidas se
as duas embarcações. A 4ª regata foi finalmente realizada no dia 28 a pré-selecção Taça Louis Vuitton e as regatas finais da
Russel Couts e sua tripulação do “Alinghi” par- de Fevereiro, ao fim de nove dias de interregno, Taça América tivessem lugar no nosso país.
tiram para a 2ª regata com 34 segundos de van- com quatro adiamentos consecutivos, primeiro, O modelo do “Alinghi” e o painel vertical com as
tagem, mas desta feita Dean Barker o “skipper” devido a ventos fracos e posteriormente, devido características da embarcação, a colocação dos seus 16
do “New Zealand Team” deu luta sem tréguas e a ventos muito fortes e instáveis. tripulantes a bordo e suas funções despertaram a curio-
sidade dos presentes.
o “Alinghi” cortou a linha de chegada com uns Foi de todas as regatas a mais acidentada, com
escassos sete segundos de vantagem, para cobrir mar muito agitado e ventos que chegavam a atingir
A vitória da Taça Louis Vuitton, que constitui as elimi-
as 18,5 milhas náuticas que completam o percur- os 26 nós. A formação da Nova Zelândia foi su- natórias de classificação que determinaram a escolha do
so. Esta segunda regata iniciou-se com cerca de perada desde o início pela formação suíça, tendo, concorrente pretendente à Taça América – o “Alinghi”
duas horas e meia de atraso pois foi necessário ao terceiro dos seis percursos previstos, o veleiro – a competir à melhor de nove regatas com o actual de-
“limpar” os cerca de 1500 barcos que tinham já neo-zelandês enfrentado uma série sucessiva de tentor do trofeu – o “New Zealand Team” só foi possível
invadido a baía de Hauraki . fortes vagas. O seu mastro não resistiu, partindo- sob o ponto de vista financeiro pelo patrocínio da UBS
(União de Bancos Suíços) que se empenhou fortemente
Calcula-se que cerca de 685.000 pessoas as- -se e projectando no mar três tripulantes que foram nas competições. A UBS foi escolhida para patrocinar as
sistiram pela televisão à regata. de seguida recolhidos, levando à sua desistência duas competições como espelho dos valores e dos de-
A terceira regata realizada a 18 de Fevereiro e conduzindo o “Alinghi” a sua 4ª vitória. Assim, sempenhos já há muito alcançados no campo da vela
teve como característica interessante uma previsão a última (5ª regata) poderia vir a ser a consagração dando todo o apoio financeiro nas áreas da tecnologia,
meteorológica transmitida pelo grupo responsável do team helvético como vencedor. inovação e treino de mar que envolveu todo o “Alinghi
Swiss Team”.
da meteorologia do “Alinghi”. Com esta preciosa Efectivamente, no domingo, 2 de Março, a equi-
Este resultado concludente de 5 vitórias conse-
cutivas tornaram os suíços do “Swiss Alinghi Team”
na primeira equipa europeia a conquistar a Taça
América (31ª edição) sobre os campeões em título
o “New Zealand Team”. Capitaneados pelo neo-
zelandês Russell Couts, que com a sua 14ª vitória
em regatas, bateu o recorde de 13 do norte-ame-
ricano Dennis Conner, os suíços alcançaram, sem
dúvida, uma vitória histórica. Ernesto Bertarelli, o
(por gentileza do “Swiss Alinghi Team”)
multi-milionário suíço, de ascendência italiana,
concretizou o sonho de erguer a Taça América,
fazendo regressar a competição à Europa, ao fim
de 152 anos. Embora nada ainda tenha decidido
quanto ao local da futura disputa, ele não deixou
de mencionar aos jornalistas presentes a possibi-
lidade de Lisboa ser escolhida como anfitriã da
competição em 2006/2007.
Z
Patrício Gorjão
CFR REF
O “Alinghi” em regata. (Colaboração do Jornal “A Bola” e “Bola 7”)
REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2003 23