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Dia da Marinha 2003 – Ílhavo
Dia da Marinha 2003 – Ílhavo
ÍLHAVO: A RIA E O MAR partiam a caminho da Terra Nova, trazendo do que foi a chegada de Vasco da Gama a
os porões carregados com o peixe salgado Calecut, em 20 de Maio de 1498. Sentem-
A Marinha em festa no passado dia 20 de que ficava depois a secar até poder ser con- -no no mesmo ar do mar, no sabor frio da
Maio leva às gentes de Ílhavo a sua homena- sumido ao gosto português. surriada, no desconforto das fainas noctur-
gem, em preito de nas, no balanço das
reconhecimento ondas e em todos
à terra que tantos os pormenores que
marinheiros deu, e são a essência da
que tem a sua pró- vida de qualquer
pria saga marítima, marinheiro, seja
tão grande como as ele de onde fôr. E
maiores, orgulho Ílhavo teve-os dos
para todos os por- melhores. Os gran-
tugueses. As cara- des veleiros da Fro-
velas daquela re- ta Branca, que par-
gião não partiam tiam em Abril em
para a Índia, mas direcção aos ma-
no mesmo século res do Atlântico
XVI, sulcavam o Noroeste, primei-
Atlântico até à Ter- ro para o Grande
ra Nova para pes- Banco da Terra
carem o que ainda Nova, e avançan-
ninguém chamava do à medida que
de “fiel amigo”, recuavam os ge-
mas que era já uma los, até alcançar
riqueza tão conside- O Ministro da Defesa passa revista ao Batalhão da Marinha. o assustador mar
rável, que merecia a da Groenlândia.
atenção legislativa rigorosa de todos os reis O Dia da Marinha tem sido sempre vi- Dos grandes navios, todos os dias em
desse tempo. Bacalhau salgado e seco, conser- vido para além do simbólico Portão Ver- que o tempo o permitia, arriavam os pe-
vado para os dias de jejum quenos dories, e cada um
religioso e fonte importan- entregue ao seu destino
te de proteínas que deu de desapareciam na bruma
comer à Europa cristã du- à procura do melhor lo-
rante séculos, mau grado cal para largar o “trol” de
o afastamento português mil anzóis iscados. Nos
dessa rota, desde o final melhores dias, depois de
dos anos quinhentos até 10, 12 ou 14 horas podiam
há cerca de cem anos vir carregados até à bor-
atrás, quando foi reto- da, preparados para fazer
mada a actividade onde a escala do peixe, para o
os ílhavos voltam a estar arrumar salgado nos po-
na primeira linha. O sal rões. E assim se seguiam
da ria, a vocação maríti- os dias de grande parte
ma, o olhar cavado para o dos ílhavos, até Setembro
sol poente, que afunda as ou Outubro, deixando o
rugas da pele curtida pelo descanso esquecido em
ar do mar e desperta de- terra. Quatro horas da
sejos de viagens cujo fim Integração do Bloco de Bandeiras. manhã, chama o vigia:
pouco importa, são os ele- “Seja louvado e adora-
mentos que criaram a saga pouco recorda- de, em festa partilhada com as gentes que, do Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, va-
da das gentes de Ílhavo, que todos os anos como nós, sentem o verdadeiro significado mos arriar”. E pouco depois lá vão os dó-
Condecoração de militares e civis.
18 JUNHO 2003 U REVISTA DA ARMADA