Page 301 - Revista da Armada
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de Gibraltar e no Mediterrâ- na sua adriça o distintivo
neo Oriental, nomeadamen- da NATO. Para trás ficam
te nas aproximações Norte mais de 2000 horas de na-
ao canal do Suez, garantin- vegação, correspondendo a
do assim o fluxo estável de 63% do período de missão
todo o transporte de merca- no mar, tendo o helicóptero
dorias e matérias primas, e embarcado voado cerca de
a consequente estabilidade 140 horas. Foram controla-
das economias ocidentais, dos 761 navios mercantes e
em face da elevadíssima de- efectuadas duas abordagens
pendência do transporte ma- a navios de interesse.
rítimo (3). Assinale-se que, Concluiu-se assim um total
devido ao envolvimento da de sete meses de empenha-
NATO e das nações ribeiri- mento numa Operação que
nhas neste esforço de segu- se caracteriza pela discrição,
rança, o preço de custo do mas que da qual grandes di-
seguro de transporte maríti- videndos são colhidos para
mo tem-se mantido estável desde os acon- a segurança e estabilidade do flanco Sul da
tecimentos de Setembro de 2001. Europa.
UM ENCONTRO NO MEDITERRÂNEO
Finalmente, a partilha de informação dispo- Z
No dia 12 de Abril de 2003, quando patrulhava nível entre os Aliados e as diversas agências, (Colaboração do Comando do NRP ”Vasco da Gama”)
o estreito entre as ilhas gregas de Rodes e Carpá- relativa a navios, organizações e indivíduos
tos, a “Vasco da Gama” cruzou-se com uma Força cujas actividades nos permitem referenciar Notas
de superfície da Marinha Russa, em trânsito para (1) A título de exemplo refira-se que atravessam as
o Canal do Suez. como estando ligados, ou sendo suspeitos de águas do Estreito de Gibraltar cerca de 1000 navios-
Esta Força, pertencente à Esquadra do Mar Ne- ligações ao terrorismo, tráfico de armamento, tanque por ano, transportando para o Ocidente entre
gro e baseada em Sevastopol, era composta pelo ou outras, como o tráfico de seres humanos 3.2 e 3.3 milhões de barris de petróleo por dia.
cruzador “Moskva”, da classe Slava, pelo destroyer e a imigração clandestina, consubstanciando (2) São disto exemplos o ataque terrorista ao des-
“Smetlivyy”, da classe Kashin, e pela fragata “Pytli- troyer USS “Cole”, quando manobrava no interior do
vyy”, da classe Krivak II. Estas unidades, em con- uma das aspirações do pós-11 de Setembro, porto de Áden, no Iémen, os ataques infligidos pelo
junto com outras da Esquadra do Pacífico, partici- que se estende agora a esta área. Tigres Tamil à Marinha do Sri-Lanka ou os diversos in-
param num exercício combinado com unidades Trata-se, no fundo, de empregar o poder cidentes ocorridos entre a Marinha Israelita e embar-
navais indianas durante o mês de Maio, em águas naval em profundidade, nas fronteiras do cações palestinianas no Mediterrâneo
internacionais ao largo da Índia. espaço estratégico de interesse nacional (3) Exemplo deste facto é o ataque ao super-petro-
Foi uma oportunidade rara para navegar em com- leiro francês “Limburg”, ocorrido em 6 de Outubro de
panhia de unidades navais da Marinha Russa, tendo conjuntural. 2002, ao largo do Iémen. Imagine-se o impacte no pre-
sido conduzidos alguns exercícios de comunica- Em 14 de Julho a Vasco da Gama regres- ço do petróleo se este tipo de ataques se repetisse em
ções, utilizando morse luminoso e bandeiras. sou a Lisboa para um curto período de ma- outros pontos do globo, nomeadamente nos utilizados
nutenção assistida, permanecendo içado para abastecimento de petróleo ao ocidente.
Partiu um Homem Bom,
Partiu um Homem Bom,
artiu um homem bom. ta dele – sempre procurou a paz
Conheci-o em Timor. Ti- e o entendimento...Ficará, con-
Pnha um carisma especial, tudo, para sempre, um mito, na
inexplicável, como têm muitos memória dos justos deste mun-
daqueles em quem reconhe- do. Na verdade nenhuma estra-
cemos, de imediato, valor... tégia de terror conseguirá apagar
Falámos apenas duas vezes, a obra de um homem: em parti-
circunstancialmente, na visita cular de um Homem Bom...
a um Hospital em Manatuto. E eu, homem simples, vou
Nesses contactos, ficou uma guardá-lo na alma e no espírito,
marca indelével, de um ho- no mesmo local em que guardo
mem culto, afável, que falava as recordações dos homens que
de igual modo com pequenos respeito e admiro. Vou falar dele
e grandes. Atento, de forma dis- aos meus filhos e aos meus ami-
creta, a pormenores que esca- gos. Falarei dele, com o orgulho
pariam a outros homens impor- de o ter conhecido, como o fa-
tantes, como ele o era... rão, seguramente, muitos outros,
Impressionou-me o modo particularmente muitos timoren-
como se dirigia aos humildes, com que se pelo nome, caracteristicamente português. ses, que também dele vão lembrar os seus fi-
ia cruzando, sem aquele tom de “caridade- Era como se fosse um de nós. lhos, os netos e os bisnetos destes, num ciclo
zinha”, ou de “grande eloquência”, tão co- No dia em que morreu, havia-o eu elogia- interminável - contra o qual qualquer bom-
mum nos responsáveis políticos do nosso do em conversa com outro digno marinhei- ba é inútil...
tempo – quando se dirigem a pessoas que, ro, que também se interessa pela realidade É esta a força dos Homens Grandes. É este
intimamente, talvez achem incapazes de Timorense. Fiquei chocado. Como ficaram o legado de Sérgio Vieira de Mello.
maior compreensão, ou apenas meros núme- certamente muitos dos que, pessoalmente, o Z
ros no jogo, bem encenado, dos votos...Aos conheceram...Foi um acto cobarde e atroz. In- Luís Bronze Carvalho
portugueses, julgo eu, tocava-nos também justo para um homem que – sentíamos à vol- CTEN MN
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2003 11