Page 169 - Revista da Armada
P. 169
ACADEMIA DE MARINHA
Em Memória do Comandante Sousa Machado
A oficial de Marinha sobrepôs-se sempre ao ar-
Academia de Marinha promo-
tista, o que não impediu este de tirar partido
veu, no passado dia 5 de Abril,
uma sessão solene em memória
das oportunidades que as situações do serviço
do seu distinto académico efectivo e an- proporcionaram.
tigo Secretário-Geral, Comandante Raúl Foi um oficial reconhecidamente compe-
de Sousa Machado. tente, que correu toda a gama de situações
O evento, presidido pelo CEMA, Al- que podem caber a um oficial de Marinha,
mirante Vidal Abreu e que contou com foi um bom camarada, leal e de trato afável,
a presença de um número muito signi- foi artista de assinalável mérito, normalmente
ficativo de familiares e amigos do home- em benefício da Marinha.
nageado, foi iniciado com algumas pala- Ele será recordado por todos os que o co-
vras do Presidente da Academia. nheceram, mas será seguramente como artis-
O VALM Ferraz Sacchetti agradeceu ta que a sua memória perdurará no tempo e
aos presentes terem-se associado à ho- ficará registada nos anais da Corporação.
menagem ao Comandante Sousa Machado e Cuando-Cubango, tendo permanecido nestas Usou seguidamente da palavra o CALM
dirigindo-se à respectiva família disse: Muito funções durante seis anos em que devido à sua Roque Martins, Director da Revista da Arma-
nos apraz que possam testemunhar a amizade e a notável intervenção se verificou um evidente da, que rememoriou o percurso artístico do
consideração que nutriam pelo vosso ente querido progresso numa região que estava necessitada Comandante Sousa Machado ao longo da sua
recentemente desaparecido, todos aqueles que na de quase tudo. Foi salientado que até Setem- vida na Marinha, tendo trabalhado para a Re-
Marinha, e também fora da Marinha, o conheciam bro de 1974, data da sua passagem à Reserva, a vista da Armada durante 34 anos, onde escre-
e com ele privaram. A toda a Família renovo os actividade do Comandante Sousa Machado foi veu nas secções de Numismática, Filatelia e Assuntos
cumprimentos do Conselho Académico e a nossa sempre condicionada, como seria normal, pelas obri- Africanos. Redigiu histórias e episódios marítimos – e
solidariedade. Recordou depois o período em gações do serviço. Por isso ele dizia, com certa graça, no “Quarto de Folga”, com anedotas e passatempos,
que como chefe do Serviço de Navegação, a que era “um artista nas horas vagas” pois só fazia os sempre referidos a motivos navais. Era ainda respon-
bordo do contratorpedeiro “Dão”, teve como seus trabalhos fora das horas de serviço. sável pela Bibliografia, mas a sua intervenção mais
imediato o homenageado, com quem criou la- Fez notar o Comandante Martins e Silva que importante na Revista foi na área da ilustração, onde
ços de amizade sólidos e duradouros. o seu traço inconfundível e de uma enorme sim-
O Presidente da Academia terminou as plicidade preenche mais de 700 páginas. É um
suas palavras indicando que seguidamen- acervo notável onde não é possível fazer escolhas,
te o Comandante Martins e Silva abordará as- pois tudo o que desenhou é de enorme qualidade.
pectos mais genericamente ligados ao Homem Note-se que muitas vezes e não querendo tirar
e ao Marinheiro e o Almirante Roque Martins o mérito aos trabalhos escritos, a ilustração do
preocupar-se-á mais em salientar o artista, como Comandante Sousa Machado com a sua enorme
grande colaborador da Revista da Armada. sensibilidade, o seu espírito crítico, o seu humor,
O Comandante Martins e Silva, antigo por vezes mordaz e o seu humanismo, acabava
Director do Museu de Marinha, referiu-se por ser de vital importância para compreensão
então à carreira naval do homenageado. do texto e até para a sua complementaridade.
Dos seus embarques iniciais destacou o O CALM Roque Martins, depois de
do contratorpedeiro “Lima”, onde viveu focar diversos episódios passados na Re-
o conhecido episódio do temporal dos vista, concluiu a sua exposição evocando o
Açores, em 1943, ocasião em que o navio Grande Artista Plástico que foi o Comandante
sofreu uma inclinação de 67º e quando em Sousa Machado que, com o seu traço inconfun-
1945, no fim da II Guerra Mundial no Paci- dível, a enorme cultura naval de quem serviu
fico, a bordo do aviso “Gonçalves Zarco” devotadamente a Marinha toda uma vida, dei-
participou na expedição a Timor que per- xou uma obra imensa, que representa para nós
mitiu Portugal recuperar a soberania naquele a actividade artística do homenageado se inten- marinheiros, um elo da nossa própria identidade.
território. Foram citadas as várias comissões no sificou depois da passagem à Reserva, tendo Nós revemo-nos, realmente, nos seus trabalhos.
mar do Comandante Sousa Machado, nomea- enaltecido os seus numerosos trabalhos para o O Director da Revista da Armada enrique-
damente no contratorpedeiro “Dão” de Setem- Museu de Marinha, efectuados desde de 1977 ceu a sua exposição com a projecção de uma
bro 1955 a Agosto de 1957 e no navio-patrulha até praticamente à sua morte. Além da sua par- série de diapositivos com trabalhos do home-
“S. Nicolau” de que foi Comandante. ticipação no Museu foram destacados, não só os nageado os quais foi comentando.
Das comissões em terra, algumas no Conti- seus contributos nos vários departamentos cul- A encerrar a sua conferência o CALM
nente desempenhando actividades ligadas à turais da Marinha, nomeadamente a sua formi- Roque Martins, em seu nome pessoal, e no
sua especialidade em Artilharia, foram destaca- dável participação na Revista da Armada, como de inúmeros leitores da Revista da Arma-
das as que cumpriu em África. A primeira como também a sua obra vastíssima que inclui traba- da, considerou que o Comandante Sousa
Capitão dos Portos de Cabo Verde e a segunda lhos encomendados por vários organismos pú- Machado deixa um lugar de difícil, senão
no exercício do cargo de Capitão dos Portos e blicos e privados do país e do estrangeiro. impossível, preenchimento.
Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Ao terminar a sua exposição o Comandante A cerimónia terminou com a visita a uma pe-
durante um período difícil já que nele tiveram Martins e Silva afirmou: as duas vertentes da ac- quena exposição de obras do homenageado.
inicio as acções de guerrilha no território e por tividade de Sousa Machado, a profissional e a artísti- Z
último em 1964, o de Governador do distrito de ca, entrecruzaram-se sem nunca se chocar – Nele, o (Colaboração da Academia de Marinha)
REVISTA DA ARMADA U MAIO 2005 23