Page 168 - Revista da Armada
P. 168
ACADEMIA DE MARINHA
Sessões Culturais
Sessões Culturais
o passado dia 25 de Janeiro realizou- Citou o caso particular da Marinha cuja
-se mais uma das habituais sessões actuação “da vigilância nos espaços marítimos
Nculturais, cujo tema saiu um pouco tem a devida cobertura legal” e cujo ”quadro
fora dos moldes navais, pois foi tratado o as- legislativo foi actualizado, daí reservando uma
sunto “As Forças Armadas e o Terrorismo” melhor clarificação na articulação dos meios na-
pelo convidado CALM José Augusto Brito. vais com as outras entidades e órgãos que detêm
O Presidente da AM, VALM Ferraz Sac- competências no mar”.
chetti, iniciou a sessão fazendo algumas con- Focou o facto de as entidades responsáveis
siderações sobre o terrorismo actual, após o da DN terem sido alertadas, pelos aconteci-
que apresentou o orador que, se encontra a mentos do 11 de Setembro nos EUA, para
prestar serviço na DIVOP’s do EMGFA. a necessidade de ser atribuída uma maior
Seguidamente, o orador iniciou a sua prioridade à temática do terrorismo cujas
apresentação focando o desenvolvimen- acções de prevenção e combate se revestem
to das medidas de contenção do terroris- de complexidade pela sua especial sensibi-
mo levados a cabo, quer pela NATO quer lidade na frente interna. Ligou este facto à
por outro tipo de organizações. Evocou a de agressões terroristas”. Mencionou ainda missão das FA’s e às tarefas que lhes estão
característica transnacional desta ameaça as medidas promulgadas pela União Euro- atribuídas, tendo concluído por afirmar que
prioritária e do quando se impõe reflectir peia, tendo citado como exemplos a actua- “a formação e treino conjunto das forças militares
sobre o emprego, neste combate assimé- ção de forças militares no Afeganistão e na e policiais deverá constituir um objectivo perma-
trico, das Forças Armadas, das Forças de vigilância no Mediterrâneo Oriental, na qual nente” bem como a imperiosa necessidade da
Segurança e das necessidades que daqui intervieram meios navais adequados de Por- consciencialização da população nesta luta.
remetem a favor da doutrina e cooperação tugal, Espanha, França e Itália. Encontravam-se presentes além dos
entre elas, aliadas a uma preparação ade- Abordou ainda o quadro legal de enqua- membros da Academia, outros convidados
quada da população. dramento das FA’s e o papel importante do e militares, que interrogaram o orador so-
Referiu-se ainda ao processo de gestão de Conceito Estratégico Militar que “ identifica bre alguns aspectos da sua exposição, ten-
crises com os medidas civis e militares que missões respeitantes à prevenção e combate às do proporcionado uma boa ocasião para se
disso resultam quanto “ à prevenção, dissua- novas ameaças – a terrorista, o crime organizado esclarecerem melhor alguns pontos mais
são, centralização, contenção e recuperação e a proliferação”. controversos. Z
o passado dia 15 de Fevereiro teve de como a sua presença entre nós viria a ser
lugar, mais uma conferência, des- mais tarde uma fonte de atritos com os outros
Nta vez proferida pelo convidado oficiais da esquadra de Nelson.
Cte Jorge Manuel Moreira Silva acerca do Referiu-se à participação do Marquês de
tema “O Marquês de Nisa: o Homem e o Nisa nas campanhas terrestres do Roussi-
seu Tempo”. lhão e Catalunha e do seu posterior regresso
O Presidente da Academia, VALM Ferraz à Armada Real actuando na zona de Gibraltar,
Sacchetti, abriu a sessão e referiu-se ao fac- com a promoção ao posto equivalente a Co-
to de Portugal nunca ter deixado de parti- modoro, com 30 anos ainda incompletos.
cipar nos assuntos europeus, tendo citado, O Marquês foi nomeado entretanto ins-
como exemplo mais recente, os conflitos pector da então criada Real Brigada de Ma-
da Bósnia e do Kosovo. Abordou a nossa rinha, uma antepassada dos reais Fuzileiros,
presença no Mediterrâneo no Séc. XVI e no tendo seguidamente actuado no Mediterrâ-
séc. XVIII, na qual se salientou a figura do neo, já como CALM, com a espada de Nel-
Marquês de Nisa. son, o que deu lugar a vicissitudes diversas e
Depois de feita a sua apresentação, o O orador referiu a situação familiar e a aspectos controversos. Logo no início do séc.
orador referiu-se aos autores que se dedi- admis são de D. Domingos, na Marinha, como XIX (1800), D. Domingos foi nomeado Em-
caram à figura de D. Domingos Xavier de “voluntário exercitante” que equivaleria, nos baixador junto da corte do Czar (Alexandre
Lima tais, como, o Cte Marques Esparteiro novos tempos, ao posto de grumete, o que no I), cargo que muito ilustrou, tendo falecido
e o VALM Cruz Júnior, que traçaram “ um entanto “dava acesso à carreira de oficial”, assim de varíola na Alemanha, quando regressa-
fiel e minucioso retrato do ambiente marítimo, D. Domin gos foi um dos primeiros alunos va a Portugal.
naval e político que envolveu o nosso home- a frequentar a Real Academia dos Guarda- A concluir, o orador recordou as dificul-
nageado”. Descreveu a participação nacio- -Marinhas. Serviu depois em vários navios dades económicas da viúva do Marquês, ela
nal por pressão da Espanha, na desastro- e participou no ataque a Argel contra os pi- própria descendente de Vasco da Gama, e ao
sa campanha do Roussilhão e Catalunha, ratas argelinos, após o que “pela elevada com- esquecimento a que esta figura da Armada
de que resultou uma forte hostilidade da petência” foi nomeado chefe do estado-maior Real parece votada. No período de pergun-
França e, mais tarde até dos próprios espa- da esquadra portuguesa e, posteriormente tas e respostas houve a oportunidade de se
nhóis, após estes se terem entendido com promovido a capitão-tenente por decreto do esclarecer alguns aspectos do tema, muito
os inimigos da véspera, o que implicou futuro D. João VI. embora subsistam ainda aspectos de certo
uma maior dependência do nosso País em O orador aludiu ao problema dos oficiais modo controversos da actuação de Nelson
relação ao Reino Unido. da Royal Navy servindo na Armada Real e para com o Marquês de Nisa. Z
22 MAIO 2005 U REVISTA DA ARMADA