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DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
                        DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

                        À COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR
                         À COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR

         INTRODUÇÂO                                                            tudos e Cooperação Militar lançou as propostas
                                                                               que permitiram definir a política de CTM com
           A cooperação, enquanto conceito e instru-                           os PALOP, os objectivos permanentes - políticos
         mento das relações internacionais, tem um                             e estratégicos - e a metodologia da execução
         historial relativamente curto, pelo que o alarga-                     técnica de tal política, em estreita articulação
         mento do seu âmbito de aplicação ao domínio                           com os órgãos e serviços congéneres do Mi-
         técnico militar e a teorização da sua dimensão                        nistério dos Negócios Estrangeiros.
         estratégica, apenas adquire uma consagração                             O primeiro Programa-Quadro/PQ de CTM foi
         formal nas décadas finais do passado século.                           aprovado em Outubro de 1990, entre os Minis-
           De facto, os parâmetros estabelecidos pelo                          térios de Defesa de Portugal e da Guiné-Bissau,
         plano Marshall no final da II Guerra Mundial,   São Tomé e Príncipe, Farol de S. Sebastião  seguindo-se-lhe, ainda em 1990, os primeiros
         que centravam a cooperação no plano da ajuda                          PQ de CTM luso-caboverdeano, luso-moçambi-
         ao desenvolvimento e numa lógica de donativos                         cano e, em 1991, ficou estabelecido o primeiro
         e empréstimos de recursos materiais ou finan-                          PQ de CTM luso-santomense.
         ceiros, prevalecem até aos anos 70. Assim,só a                          Estes Programas-Quadro são enformados
         partir do processo de descolonização africano,                        por projectos cuja execução integra as seguin-
         nas décadas de 60 e 70, a vertente técnico-mili-                      tes componentes: formação de pessoal, presta-
         tar ganha espaço nas políticas de cooperação.                         ção de serviços, recuperação de infra-estruturas
           Com o fim da guerra fria é reconhecida a                             e fornecimento de material, sendo excluído o
         relevância da segurança cooperativa, a coope-                         fornecimento de armamento.
         ração técnico-militar (CTM) adquire crescente   Guiné-Bissau, Lanchas de fiscalização  Com Angola, a CTM desenvolveu-se entre
         expressão, ao mesmo tempo que os efeitos da                           1991 (Acordo de Paz de Bicesse) e 1995 (esta-
         globalização se tornam mais perceptíveis, obri-                       belecimento do Protocolo de Lusaka) através de
         gando os Estados a redefinir as suas “fronteiras”                      Programas-Quadro Específicos, com o objectivo
         e a desvalorizar nesse exercício a geografia da                        de flexibilizar os procedimentos em permanen-
         soberania, adoptando em sua substituição um                           te adequação às necessidades decorrentes do
         modelo de geografia variável em que os diferen-                        complexo processo de paz angolano.
         tes espaços são demarcados segundo as áreas                             As actividades de cooperação técnico-militar
         onde incidem os seus interesses funcionais: po-                       em Timor-Leste têm sido levadas a cabo na se-
         líticos, económicos ou de segurança.                                  quência do acordo de cooperação assinado em
           Para Portugal, país europeu da plataforma                           Maio de 2002, tendo o Programa-Quadro sido
         atlântica, releva também a fronteira cultural,   Moçambique, Formação de Fuzileiros  assinado em 1 de Fevereiro de 2005
         que contorna o espaço da lusofonia e envolve
         mais de 200 milhões de seres humanos distri-                          CABO VERDE
         buídos por 4 continentes. É com este pano de
         fundo que as Forças Armadas, a partir de 1984,                          Na República de Cabo Verde e até à actua-
         passam a desenvolver Programas de Coopera-                            lidade, a Marinha Portuguesa realizou diversas
         ção Técnico-Militar com os países africanos de                        acções de cooperação que, no essencial, permi-
         língua oficial portuguesa (PALOP) e, a partir de                       tiram: apoiar a componente de Guarda Costeira
         2001, com Timor Leste, em conformidade com                            e Unidade de Fuzileiros, e a participação de Uni-
         as missões específicas que reiteradamente lhes   Angola, Acção de Formação  dades em Operações de Manutenção de Paz. O
         estão atribuídas, no âmbito do apoio que pres-                        Programa-Quadro 2003-2005 tem como princi-
         tam à política externa do Estado.                                     pais objectivos apoiar o processo de restruturação
           A participação da Marinha neste processo                            orgânica  da Guarda Costeira de Cabo Verde, e a
         traduz-se na execução continuada, ao longo de                         edificação de uma Unidade de Fuzileiros.
         mais de 20 anos, de um diversificado conjunto                            No âmbito da reestruturação orgânica da
         de acções, porventura pouco conhecido, o que                          Guarda Costeira (integrada na reestruturação
         motiva esta apresentação aos leitores da Revista                      das Forças Armadas de Cabo Verde) foram de-
         da Armada, com a perspectiva de que, para gran-                       senvolvidas acções de assessoria técnica local
         de parte, cujo passado militar lhes propiciou um   Timor Leste, Lancha “Ataúro” a navegar  ao Comando da Guarda Costeira.
         contacto com aqueles países, poderá despertar                           O processo de edificação de uma Unidade
         alguns interesses e uma recordação desse tempo,  a entrada em vigor do Decreto Regulamentar  de Fuzileiros tem vindo a ser prosseguido, atra-
         que se inscreve no nosso imaginário colectivo.  nº32/89, de 27 de Outubro - que estabeleceu as  vés da formação de pessoal. Presentemente en-
                                            atribuições, competências genéricas e específi-  contram-se em curso: actividades de instrução
         ESTRUTURAÇÃO                       cas dos Órgãos e Serviços Centrais do Ministé-  de Fuzileiros no Centro de Instrução do Morro
                                            rio da Defesa Nacional, ficou criado um serviço  Branco (Mindelo).
           Desde as independências dos países africa-  específico para o estudo, análise, planeamento
         nos de língua portuguesa (1975) até à assinatura  e coordenação da política de Cooperação Téc-  GUINÉ-BISSAU
         dos primeiros Acordos de Cooperação Técnico-  nico-Militar com os PALOP. Esse serviço era a
         -Militar com os PALOP (1988 e 1989), a CTM  Divisão de Estudos e Cooperação Militar/DECM   A cooperação técnico-militar com a Guiné-
         Portuguesa processava-se de uma forma avul-  da então criada Direcção-Geral de Política de  -Bissau permitiu desenvolver, entre outras, as
         sa, reduzindo-se, na prática, à oferta de forma-  Defesa Nacional /DGPDN.  seguintes acções: apoio à organização e estru-
         ção militar em Portugal. A partir de 1989, com   Ao longo de 1990 e de 1991 a Divisão de Es-  turação da Marinha Nacional, e Formação Pro-

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