Page 223 - Revista da Armada
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REFLECTINDO…
Visita Oficial do Almirante CEMA
Visita Oficial do Almirante CEMA
O à Marinha do Paquistão
desenvolvimento dos órgãos de comu-
à Marinha do Paquistão
nicação social e a preponderância dos
noticiários e programas de rádio e tele-
visão permitem a rápida divulgação e intensa
utilização de conceitos cujo entendimento não Almirante Chefe
é bem conhecido ou não é consensual. O
do Estado-Maior
Na verdade, a língua usa palavras que têm um da Armada visi-
significado, que vem no dicionário e é aceite por tou oficialmente a Mari-
todos os falantes dessa língua. Já a linguagem re- nha Paquistanesa, de 10
corre a conceitos que devem constar de glossá- a 14 de Abril de 2005,
rios, onde é expresso um entendimento que não a convite do respectivo
obriga todos os que o usam, pois esse entendi- Chefe do Estado-Maior
mento depende muito dos autores, das ciências
ou das escolas de pensamento que o criaram. da Armada, Almirante
Um conceito poderá não ter definição, mas de- Shahid Kharimullah.
verá ter um entendimento, uma explicação, até A visita, a primeira
ser naturalmente aceite, sem incertezas e com a de um Chefe do Estado-
profundidade que ele evoca. -Maior da Armada por-
A “má” utilização dos conceitos é frequentís- tuguês, realizou-se com
sima e, muitas vezes, nem sequer há glossário a a finalidade de explorar
que possamos recorrer. hipóteses de cooperação O ALM CEMA é recebido pelo ALM Shahid Kharimullah.
Sentindo esta dificuldade, Humberto Eco es- entre as duas Marinhas
creveu: “para se poder comunicar não basta no domínio da operação e manutenção das respectivas esquadrilhas de submarinos tipo
conhecer a mesma língua, é necessário que os Daphné, ambas a aproximar-se do fim do seu ciclo de vida, designadamente no âmbito da
falantes possuam um fundo genérico de conhe- cedência recíproca de sobresselentes essenciais. A possibilidade de encetar a cooperação
cimentos, pressupostos comuns. De outro modo, bilateral noutras áreas a identificar através do aprofundamento do conhecimento mútuo das
corremos o risco de cair constantemente em equí- Marinhas, das suas missões e capacidades e do quadro regional e global em que realizam
vocos” (Diário de Lisboa, 2 de Janeiro de 1990). aquelas missões, constituiu-se como mais valia complementar a explorar.
Esta coluna pretende apenas apresentar re- Do antecedente, o relacionamento entre as duas Marinhas restringiu-se a contactos episó-
flexões pessoais sobre alguns conceitos. dicos, ao tempo da crise dos territórios ultramarinos da Índia Portuguesa e na década de 70,
quando o submarino “Cachalote” foi cedido à Marinha Paquistanesa, através da França.
CIDADANIA A visita iniciou-se na cidade capital do Paquistão, onde o Alm CEMA recebeu as honras
E IDENTIDADE proto colares no Estado-Maior da Armada, tendo posteriormente recebido um briefing sobre a
Marinha Paquistanesa e sobre os seus planos de desenvolvimento futuros. Seguiram-se, ainda
em Islamabad, um conjunto de encontros com os mais elevados responsáveis do Estado, in-
CIDADANIA cluindo o Presidente Pervez Mhusharraf, o Ministro da Defesa, o CEMGFA e o CEMFA, os quais
Admitir o pluralismo de ideias possibilita o diá- decorreram em ambiente de grande cordialidade e abertura tendo sido abordados com bastante
logo, o relacionamento e o respeito mútuo. detalhe as perspectivas estratégicas actuais do Paquistão, designadamente no sentido de abrir
Por outro lado, a igualdade perante a Lei con- o leque de países da União Europeia com os quais cooperam. Em Islamabad, a visita terminou
tribui para a coesão da Nação. na Organização
O diálogo e a coesão favorecem o sentimen- para a Promo-
to de pertença. ção da Expor-
O sentimento de pertença, o diálogo e a tação de Arma-
coesão, facilitam a construção de um futuro mento, na qual
comum. foram demons-
A memória do passado colectivo, a evocação tradas as capaci-
dos grandes que nos antecederam e a preserva- dades industriais
ção do seu legado, compõem a nossa história paquistanesas no
comum. domínio do ar-
Estes são os pilares de qualquer cidadania, mamento.
que temos obrigação de implantar solidamente Em Lahöre, o
na nossa sociedade, se a queremos forte e com Alm CEMA vi-
uma estrutura sã. sitou o Pakistan
Navy War Col-
IDENTIDADE Audiência com o Presidente Pervez Mhusharraf. lege, onde se in-
Consolidados estes pilares da cidadania e jun- teirou das suas actividades e organização, deslocando-se ainda ao posto fronteiriço com a
tando-os aos valores culturais, tais como a língua, Índia, em Wagan. onde assistiu à cerimónia diária de encerramento da fronteira.
a religião, as opções ideológicas, as tradições Em Karachi, a maior cidade paquistanesa e a quinta do Mundo, o Alm CEMA visitou
e as expressões artísticas, depois de todos estes as principais infra-estruturas navais e encontrou-se com o Comandante Naval bem como
elementos bem caracterizados, estamos aptos a com os responsáveis dos mais importantes órgãos de apoio e administração da Marinha,
preencher a ficha da nossa identidade, que não incluindo o departamento de construção de submarinos, onde está a ser construído o ter-
é mais do que um instrumento que intelectual,
espiritual e formalmente nos liga ao nosso grupo ceiro submarino Agosta 90B. Outras visitas incluíram o primeiro Agosta 90B, construído
e nos distingue dos outros grupos, mas sempre no parcialmente em França e concluído no Paquistão, uma fragata da classe 21 inglesa e um
respeito pela enriquecedora diferença. mini-submarino tipo MIDGET.
Z A visita saldou-se por um balanço bastante positivo, abrindo hipóteses para o desenvol-
António Emílio Sacchetti vimento futuro de um relacionamento que beneficie as duas Marinhas e estreite os laços
VALM entre os países. Z
REVISTA DA ARMADA U JULHO 2005 5