Page 313 - Revista da Armada
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Setting Sail
                                         Setting Sail


                                     1. Tempo Antigo – 2ª parte


               s Cartagineses travaram um                                           achados arqueológicos, não lhes confe-
               conjunto de três guerras contra                                      rem grandes créditos no que toca ao seu
         Oos Romanos pela manutenção                                                contributo para a evolução da navega-
         do domínio do Mar Mediterrâneo, que                                        ção à vela. Ter-se-ão limitado, pelo que
         ficaram conhecidas como Guerras Pú-                                         percebemos, a pôr em prática e tornar
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         nicas  (264-241, 218-201 e 149-146 a.                                      mais eficazes os conhecimentos ante-
         C.). Após a sua derrota na última guerra,                                 Museu Naval de Madrid - Foto CTEN António Gonçalves  riormente desenvolvidos, o que, no mí-
         os Romanos invadiram Cartago e a cida-                                     nimo, denota uma grande capacidade
         de foi destruída.                                                          para adaptar, em proveito das próprias
           Obtido o tão desejado domínio do                                         necessidades, as técnicas e os conheci-
         mar, a contribuição dos Romanos para                                       mentos importantes.
         a evolução da navegação à vela ter-se-á                                      As lendas e o imaginário norueguês
         ficado pela adição de um terceiro mastro                                    dão-nos conta de um importante mo-
         nos seus maiores navios de carga, bem                                      vimento migratório que terá ocorrido
         como a utilização de duas pequenas ve-                                     c. 3.000 a.C.. Nesta perspectiva, o povo
         las triangulares, colocadas acima da ver-                                  que se veio a fixar na Escandinávia terá
         ga da vela grande. Tudo indica que estas                                   deixado as margens do Mar Negro, su-
         velas terão sido desenvolvidas com o   Navio romano.                       bindo os rios russos nos seus barcos, no-
         simples objectivo de proporcionar uma                                      meadamente o Dniepr, até ao Báltico,
         maior velocidade, sempre que o vento era de-  Muitos dos navios romanos, talvez devido à  colonizando a partir daí os novos territórios.
         masiado fraco. Como veremos mais tarde, este  limitada durabilidade das velas, inteiramente   A sua iniciação na navegação à vela deu-se,
         tipo de velas veio a revelar-se extremamente  explicada pela fraca qualidade do pano manu-  ao que tudo indica, pelo seu contacto com os
                                                                                    9
         útil a bordo dos clippers, exactamente com a  facturado, possuíam velas feitas em couro fino,  Frísios , que por sua vez haviam adquirido es-
         mesma finalidade.                   pelo menos, tanto quanto conseguimos apurar,  ses conhecimentos através dos Gauleses. Estes
           Os maiores navios romanos foram utilizados  até meados do século I a.C..  terão aprendido essas mesmas técnicas duran-
         durante séculos no transporte de cereais do   É conclusão de alguns investigadores, e geral-  te o longo período de convivência e confronto
                                                                                                        10
         Egipto para Roma. Os avanços dos achados ar-  mente aceite com alguma unanimidade, que o  que mantiveram com os Romanos .
         queológicos dão-nos conta de dimensões qua-  tipo de construção com quilha e balizas trava-  Durante alguns séculos o povo escandinavo,
         se inacreditáveis para a época, a saber: 55 me-  das, e que até há bem pouco tempo atrás cons-  mais conhecido por Vikings, foi aperfeiçoando
         tros de comprimento, 14 metros de boca e um  tituía ainda a referência de quase toda a cons-  a construção dos seus navios de costado trin-
                                                                                   11
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         pontal  superior a 12 metros. Resta acrescentar  trução naval, tenha sido introduzida a partir do  cado  e fazendo evoluir a manobra e as ma-
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         que, de acordo com as fontes documentais, os  início do século V, pelos construtores bizanti-  reações associadas às velas redondas , bem
         Romanos dispuseram, permanentemente, de  nos, depois do desmembramento do Império  como um elementar conjunto de princípios
         cerca de 100 navios deste tipo, o que não nos  Romano no século IV. No entanto, a navegação  de navegação que lhes permitiram, há mais
         parece ser menos impressionante.   à vela no Mar Mediterrâneo iria conhecer um  de mil anos, colonizar a Islândia, a Gronelân-
                                                                                 13
           Não restam hoje também quaisquer dúvidas  período relativamente longo durante o qual não  dia  e chegar ainda às costas da Terra Nova e
         de que os seus navios terão sido os primeiros a  se verificou grande evolução.  do norte do Canadá.
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         utilizar brióis  na vela grande, ainda hoje usa-  Apesar de os Gregos terem sido também um   Os maiores navios vikings utilizavam tanto
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         dos na manobra de carregar  o pano redondo.  povo de mercadores , marinheiros e coloniza-  os remos como a grande vela, como principal
         Constatamos, no entanto, que a sua mais impor-  dores, os muitos estudos levados a cabo até à  meio de propulsão. Um mastro colocado a
         tante função nesta época, século I, a avaliar pela  data, bem como os inúmeros ensaios sobre os  meio-navio, acomodava uma verga aparelhada
         abundante iconografia coeva                                                       com uma enorme vela redon-
         que chegou até aos nossos dias,                                                  da. Era aguentado para vante
         seria a de permitir, com relativa                                                e para ré por um estai e um
         facilidade, reduzir a área vélica,                                               contra-estai, respectivamente,
         sempre que a intensidade do                                                      e transversalmente através de
         vento assim o justificasse. Este                                                  dois brandais, um para cada
         desiderato era conseguido atra-                                                  Museu do Bardo, Tunísia - Foto CTEN António Gonçalves  bordo. A verga podia ser devi-
         vés de nós feitos nos brióis, en-                                                damente orientada através de
         contrando-se estes gornidos em                                                   dois braços dizendo para ré,
         caçoilos existentes na vela. Des-                                                sendo utilizadas duas escotas,
         ta forma, entrava-se com os bri-                                                 a partir dos respectivos punhos,
         óis até a primeira linha de rizes                                                para caçar a vela.
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         beijar  a verga, onde era cosida.                                                  De uma forma sucinta dire-
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         Se o vento voltasse a refrescar ,                                                mos que os Vikings dispunham,
         procedia-se de igual modo em                                                     basicamente, de dois tipos de
         relação às segundas, terceiras li-                                               navios. O drakkar (navio-dra-
         nhas de rizes. Dadas as grandes                                                  gão), de maiores dimensões,
         dimensões das testas desta vela                                                  era utilizado como navio de
         redonda, encontrava-se plena-                                                    guerra, através do qual se tra-
         mente justificada a existência                                                    vavam as batalhas no mar, dis-
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         de várias linhas de rizes .  O navio de Ulisses num magnífico mosaico do século III.  pondo de até 60 remadores.
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