Page 308 - Revista da Armada
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JAIME DO INSO
JAIME DO INSO
pisódios da História da Marinha e dos no Arsenal da Ribeira das Naus, da canhonei- pequenas coisas que representam deficiências que
seus navios, na paz e na guerra, relatos de ra. Foi a “Pátria” o primeiro e único navio de será bom remediar. Foi sempre um dos seus ob-
Eviagens maritímas e a descrição de terras guerra nacional que subiu o Rio Amazonas e jectivos – Melhorar as coisas!
longínquas e dos respectivos povos, constituem escalou o porto de Manaus. Após uma breve É instaurada a República e para o 2º tenente
parte dos temas constantes no valioso acervo permanência em águas cabo- verdianas regres- Jaime do Inso interrompido o período africano
literário deixado por um significativo nú- e restabelecidos os contactos com aquele
mero de oficiais da Armada, dos quais, uns Extremo-Oriente, que tanto o tinha cativa-
são amplamente citados, enquanto outros, do quando da viagem de guarda-marinha.
não menos válidos, têm caido num quase Novamente a bordo da “Pátria”, em princí-
esquecimento. pios de 1911, larga de urgência para reforçar
É sobre um oficial, hoje muito pouco a soberania de Portugal no distante Macau,
lembrado, autor de uma extensa biblio- que assistia, com preocupação, à queda do
grafia e considerado, na sua época, uma milenário Império Chinês e ao nascimento
referência para o conhecimento da presen- de uma então titubeante República. Pouco
ça portuguesa no Oriente, que este apon- foi o tempo de permanência em Macau já
tamento se refere. que a situação em Timor era quase deses-
O princípio do século XX vai encontrar perada, pois um dos mais poderosos chefes
Jaime Corrêa do Inso, nascido em 18 de De- nativos tinha-se revoltado e o Governo lo-
zembro de 1880 na freguesia de Nossa Se- cal não dispunha de um mínimo de forças
nhora da Graça, concelho de Niza e distrito militares capazes de controlar a situação. A
de Portalegre, como aspirante de Marinha, “Pátria” ruma a Sul aportando a Díli, em
cursando o 1º ano da Escola Naval. Fevereiro de 1912. Durante oito meses com
A par da formação académica sucedem- a artilharia de bordo apoiou as forças terres-
-se os embarques e em 1903 a sempre notó- tres e os seus marinheiros participaram em
ria viagem de guarda-marinha, um dilata- terra não só em várias acções de combate
do período durante o qual eram aplicados como também na defesa de centros popu-
no mar os conhecimentos técnicos adqui- lacionais, nomeadamente de Baucau com
ridos em terra. Assim, a bordo do trans- uma força de desembarque comandada por
porte de tropas “África”, após a travessia Jaime do Inso que é louvado pelo Coman-
do Mediterrâneo, visita Macau e regressa dante da Estação Naval de Macau devido à
escalando portos de Moçambique, Angola Jaime do Inso – Guarda-Marinha. maneira zelosa e acertada como dirigiu a coluna
e Cabo Verde. da Marinha em Baucau durante as operações de
Esta viagem de fim de curso irá despertar- sa à Metrópole, em meados de 1906, sendo en- Timor em 1912 e pelo Ministro das Colónias por
-lhe a paixão pelas coisas da China e tornar Ma- tão promovido a 2º tenente. motivo dos bons serviços prestados durante as ope-
cau o seu lugar de eleição. Continuam os seus embarques e retorna a rações em Baucau, de 29 de Junho a 25 de Julho de
Embarca em 1904 na canhoneira “Pátria”, na- Angola onde, durante um ano, exerce as fun- 1912 como comandante do destacamento da Mari-
vio marcante na sua carreira, de que, mais tarde, ções de Encarregado do Depósito da Divisão nha que guarneceu aquela vila.
será comandante e sobre o qual publicará, em Naval. Depois regressa aos navios e presta ser- Sobre esta comissão escreve, em 1912 e 13,
1951, um artigo nos Anais de Marinha. viço no Corpo de Marinheiros. Em 1909 inicia “Em Socorro de Timor”, para os Anais do Clu-
Em inícios de 1905 o navio passa a estar inte- a colaboração nos Anais do Clube Militar Na- be, o seu único relato referente àquela terra
grado na Divisão Naval do Atlântico Sul, com val, a qual durará mais de meio século, com que Wenceslau de Moraes tinha caracterizado
base em Luanda e posteriormente, durante cer- “Apontamentos sobre Movimentos Atmos- como Natureza linda, misérias e febres, obra que
ca de nove meses, escala os principais portos féricos” em que determina as regras práticas será reeditada, em 1939, pelas Edições Cosmos
do Brasil, como prova de reconhecimento à co- para os navios evitarem ciclones e em 1910 com o título “Timor - 1912”. Neste extenso tra-
munidade portuguesa, aí residente, que com publica “De Minimis... Deficiências diversas balho descreve pormenorizadamente a inter-
as suas contribuições para a Subscrição Nacio- da Armada que devem ser remediadas: uni- venção da “Pátria” na denominada Guerra
nal de 1890, efectuada como resposta ao Ulti- formes, material e legislação”, onde escreve: do Manufai que considera a mais importante
mato Inglês, tinha possibilitado a construção, não será por demais que nos occupemos d’algumas das nossas campanhas coloniais, exceptuando as
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A canhoneira “Pátria” no Rio de Janeiro e a sua oficialidade, em 1906.
18 SETEMBRO/OUTUBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA