Page 311 - Revista da Armada
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vio e a psicolo- Museu que, em
gia da gente de 1956, Jaime do
mar em termos Inso é nomea-
marítimos. As do para estudar
questões huma- a sua reorgani-
nísticas também zação, elaborar
constituem para o respectivo re-
Jaime do Inso gulamento e
uma área de re- posteriormente
flexão e deste definir o pro-
modo, ao per- grama da sua
fazer os 67 anos instalação nos
de idade, em Jerónimos. Ape-
1947, publica sar de ter passa-
numa separata do à situação de
do jornal “Diá- O Museu de Marinha, 1962. Reforma, a con-
rio de Noticias”, tar de Outubro
um curioso artigo que intitula “ Os Genários”, Naval. Um novo percurso começa na sua car- de 1950, continuava em plena efectividade de
dedicado aos que já dobraram o cabo dos cinquen- reira - a actividade no âmbito da museologia, à serviço e é nomeado no ano de 1959 seu Direc-
ta, os quinquagenários. Das considerações apre- qual se dedicará apaixonadamente durante as tor. O resultado de todo o seu trabalho, compe-
sentadas neste muito válido estudo sociológi- duas ultimas décadas da sua vida. tência e dedicação é plenamente concretizado
co, destacam-se duas que nos parecem ser de De salientar que no período de 1950 a 1957 quando, em 15 de Agosto de 1962, foi solene-
uma clara actualidade. A primeira: Existe uma seria nomeado, anualmente, como vogal da Co- mente inaugurado o Museu de Marinha nas
diferença entre a gente moça – a que vale- e a gente missão de Redacção dos Anais de Marinha. suas actuais instalações.
sem nome – os genários – que já para nada presta e a Prioritariamente escritor da Marinha dedi- De sublinhar, na qualidade de Director do
segunda: Não é preciso ser um pensador profundo car-se-à também ao estudo da identidade Museu, o seu importante contributo para
para verificar que o ritmo vertiginoso dos progressos maritíma de Lisboa, tendo publi-
materiais não é acompanhado, nem ao de leve pelos cado, na revista Olissipo “A Esté-
progressos morais. Pelo contrário, o que se observa tica Histórica-Maritíma da Cidade
nestes últimos é um retrocesso. E andamos nós de Lisboa”, em 1953, e “Nossa Se-
hoje a caracterizar situações que consideramos nhora de Penha de França na Evo-
novidades, quando as mesmas foram perfeita- cação Maritíma”, em 1964.
mente definidas há mais de meio século! Importa agora descrever a sua
Também em 1947 é nomeado para dirigir a decisiva contribuição para o desen-
Biblioteca da Marinha e o Museu Naval, que lhe volvimento do Museu de Marinha
estava então agregado, cumulativamente com e principalmente para a respectiva
o serviço que desempenhava no Estado Maior instalação junto ao Mosteiro dos Je-
Fotos SAJ T Sá rónimos. O Museu foi criado, em
1863 por D. Luis, o único rei portu-
guês que comandou navios. Tendo
ficado anexo à Escola Naval, sofreu
ao longo dos tempos uma vida atri-
bulada, inclusivé um incêndio, em
1916, que destruiu a maior parte O Presidente da República condecora o Comandante Jaime do Inso com a
de modelos navais guardados na Comenda do Infante D. Henrique, 1962.
Colecção CALM Roque Martins
Sala do Risco.
No final de 1947, data em que, conforme já a instalação do Planetário Calouste Gul-
referido, Jaime do Inso passou a prestar ser- benkian, inaugurado em 1965, acerca do qual
viço na Biblioteca e no Museu, faleceu Henri- publica nos Anais do Clube “Um planetário
que Monfroy de Seixas, grande entusiasta das desconhecido” .
coisas do mar, que no seu testamento legou ao A par do todo o seu ciclópico trabalho em
Museu uma valiosíssima colecção de modelos prole do Museu os seus escritos, testemunhos
navais com a condição da mesma ser retirada de vivências e experiências aquiridas conti nuam
da sua residência, onde ocupava nove salas, no e assim edita, também nos Anais do Clube, em
prazo de três meses após o seu falecimento. É 1967, o artigo “O Museu de Marinha” que como
então que Jaime do Inso, depois de considerar afirma encerra uma compilação de publicações que
várias hipóteses consegue que o Palácio do deixamos dispersas, acrescida com outros elemen-
Conde de Farrobo , às Laranjeiras, fosse cedi- tos e pormenores elucidativos, em forma de simples
do pelo Ministério das Finanças para lá instalar narrativa das actividades da Marinha neste capítu-
provisoriamente a Colecção Seixas. lo, incluindo alguns episódios que, de certo modo, se
No início dos anos 50 do século passado, a relacionavam com a história do Museu.
Biblioteca de Marinha continuava a funcionar Será esta a sua derradeira colaboração para os
no antigo edifício da Escola Naval, na Rua do Anais do Clube e também o seu último trabalho
Arsenal. Nesse mesmo imóvel situavam-se a escrito, já que nesse mesmo ano viria a falecer.
Secretaria e Oficinas do Museu, com bastante Até à hora da sua morte foi um distintíssimo
do seu material na antiga Sala do Risco e parte e incansável Escritor da Marinha!
importante do seu património no Palácio das Z
Medalha comemorativa da inauguração das novas insta- Laranjeiras. É com o propósito fundamental J. L. Leiria Pinto
lações – Álvaro de Brée – 1962. de concentrar num único local o acervo do CALM
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2005 21