Page 309 - Revista da Armada
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do Gugunhana e dos Namarrais... África, nomeadamente Ango-
e se esta passou despercebida na la onde cumprira uma comis-
Metrópole muito mais desperce- são de um ano na respectiva
bido foi o papel que a canhoneira Divisão Naval, as do Extremo-
“Pátria” ali desempenhou. -Oriente, que incluiu a parti-
Inicialmente no enclave do cipação na campanha militar
Oé-Cussi, enfrentando a su- de Timor, visitar os mais im-
blevação de uma das etnias portantes portos do Brasil, em-
locais, depois na Costa Sul, barcar nos principais navios da
em Betano, no apoio das for- Esquadra e quando em serviço
ças terrestres, período em que no Corpo de Marinheiros e na
o comandante do navio foi o Majoria General da Armada, a
capitão-tenente Gago Couti- antecessora do actual Gabine-
nho e por fim em Baucau com te do Chefe de Estado-Maior
os seus marinheiros a garantir da Armada, aperceber-se das
a segurança daquele que era o questões ligadas ao Pessoal e à
segundo núcleo mais impor- Chefia da Marinha. Tinha vivi-
tante do território. Valiosa e do até então uma carreira rica
imprescindível foi a presença em práticas e saberes, os quais
da “Pátria” num dos períodos ia passando a escritos que mais
mais críticos para o território, tarde seriam publicados, cons-
então governado pelo Capitão-tenente Filo- do qual efectua a sua última viagem a Angola, tituindo testemunhos importantes para a cons-
meno da Câmara. de Setembro de 1914 a Abril do ano seguinte, trução da História. Infelizmente hoje, salvo raras e
Três décadas depois, em 1942, dar-se-ia a ano em que é promovido 1º tenente. A Artilha- honrosas excepções, a escrita parece não constar
ocupação japonesa que duraria até 45 e passa- ria e especialmente a Balística constituirão uma dos hábitos dos Oficiais da Marinha.
do precisamente o mesmo espaço de tempo, área técnica da sua preferência e resultado de Em meados de 1923 assume o cargo de Ca-
em 1975, acontecia a invasão indonésia. Estra- um estudo nesse âmbito publica, nos Anais do pitão do Porto de Vila-Real de Sto. António,
nha e terrível esta periocidade! Clube, o artigo “Preliminares do Tiro”. onde permanecerá durante dois anos.
É de um realismo impressionante “Em So- Segue-se um período de oito anos que de- Concluido o serviço no Algarve segue para
corro de Timor”, a descrição da acção directa sempenhará em terra: as funções de Ajudan- Macau afim de assumir o comando da sua sau-
do navio e principalmente a actuação do seu te do Corpo de Marinheiros; Chefe de uma dosa canhoneira “Pátria”, o que lhe permitiu
pessoal em terra. Durante o século XX e antes Secção na Repartição da Majoria General da durante mais de três anos aprofundar os co-
da criação dos Fuzileiros, em 1961, muitas fo- Armada e de instrutor na Escola Prática de nhecimentos sobre a China, que na ocasião en-
ram as acções das forças de desembarque das Ar tilharia Naval e a bordo: embarca na fra- frentava uma devastadora guerra civil. Nesse
unidades navais cujos relatos estão dispersos gata ”D. Fernando II e Glória” e nos cruza- triénio o navio continuou a manter o fio do nosso
por várias obras. Das intervenções mais notó- dores “Adamastor”, no qual é Encarregado prestigio e tradição maritíma em mares e rios do Ex-
rias foi, logo a seguir à de Timor, a do pessoal do Comando e no “Carvalho Araújo”, que tremo-Oriente, desempenhando várias missões
do cruzador “Adamastor”, no rio Rovuma em como Oficial Imediato volta ao Brasil em 1922, de apoio às comunidades portuguesas locais,
1916, durante a I Guerra Mundial depois, em quando este navio transportou o avião “San- tendo Jaime do Inso, em 1927, sido agraciado
1925 e 26, a do cruzador “República” para pro- ta Cruz” com que Gago Coutinho e Sacadura pelo Rei de Espanha com a Cruz de 1ª Classe
teger as comunidades portuguesas residentes Cabral completaram a 1ª Travesia Aérea do de Mérito Naval, pelos serviços prestados aos avia-
em Cantão e Xangai, devido às manifestações Atlântico Sul. dores espanhóis que efectuavam o raid aéreo Ma-
raciais resultantes da guerra civil chinesa, em Entretanto, em 1919, ascende ao posto de drid-Manila. Foi o seu último embarque num
1927, novamente em Xangai, para defender as capitão-tenente. navio operacional e também a sua derradeira
feitorias ocidentais da cidade e finalmente a Como oficial subalterno tinha tido oportuni- estadia no Extremo-Oriente.
das guarnições das fragatas “Pacheco Pereira” dade de conhecer as colónias portuguesas de Ao regressar a Lisboa, em meados de 1929,
e “Nuno Tristão” e dos patrulhas “S. Vicente” é portador de uma série de crónicas, relatos e
e “S. Tomé” que asseguraram a defesa das po- contos que o tornarão, em breve, um dos mais
voações de Ambriz e Ambrizete e reforçaram conceituados escritores da História de Macau
as forças terrestres em Cabinda, Landana e e da presença portuguesa na China. De subli-
Sto. António do Zaire, em 1961, na fase inicial nhar que até então sobre estes temas apenas
da subversão em Angola. Um projecto inte- Camilo Pessanha, professor no liceu de Ma-
ressante seria o de reunir todos estes escritos cau e autor de “Clepsydra” , notável conjunto
numa única colectânea dando assim a conhe- de poemas e também Wenceslau de Moraes
cer as “Histórias dos Marinheiros em Terra no eram autores de escritos com alguma divul-
Século XX”. gação em Portugal.
As recordações de Macau levam Jaime do No principio dos anos trinta do século XX e
Inso a publicar, ainda em 1912, nos Anais do após ter completado o período chinês, Jaime do
Clube “Ecos de Macau. Guerra dos Piratas. A Inso inicia o seu percurso como um homem
Batalha de Lantau” e a proferir na Sociedade ligado essencialmente à cultura, a faceta que
de Geografia de Lisboa, em 1913, a conferência mais o notabilizou. Até 1938 os seus embar-
“Macau, a Jóia do Oriente”. Foram os seus dois ques foram efectuados por períodos muito li-
primeiros trabalhos dos muitos que ao longo mitados, como Encarregado do Comando do
dos anos iria fazer sobre aquele diminuto en- cruzador “Vasco da Gama” e de Comandante
clave português incrustado na imensa China. da fragata “D. Fernando II e Glória”. Em terra
Terminada a comissão na “Pátria” presta prestou serviço no Comando Geral da Armada
serviço no Corpo de Marinheiros e na Divisão onde foi, durante um biénio, Defensor Oficioso
Naval de Instrução e Manobra, como oficial da junto do Tribunal da Marinha, exerceu funções
guarnição do cruzador “São Gabriel”, a bordo Jaime do Inso – Capitão-de-Fragata. de Oficial de Inspecção e fez parte de várias
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2005 19