Page 28 - Revista da Armada
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ARTUR RODRIGUES
ARTUR RODRIGUES
Marinheiro e Artista
oje vem à estampa a figura do privação de saída a cumprir. (Havia às vezes NRP “Gonçalo Velho”, esteve em Macau aonde
1TEN Artur Viana Rodrigues para castigos desse género, que eram colectivos, acompanhado pelos Rockers voltou a afirmar os
Hmostrar outras facetas daquele bastava uma malandrice de um camarada seus recursos de cançonetista romântico. Mas a
que ao longo de quase 40 anos foi um dig- para toda a turma ter que cumprir). Marinha continuou a ser a sua paixão n.º 1 e a
no militar. Mas outra faceta que neste momento me base da sua segurança”.
Nasceu o nosso camarada em 11-07-1934 quero referir, não é mais nem menos do que a Depois do que foi escrito em vez de dito po-
tendo falecido em 24-06-2000. demos acrescentar mais o seguinte: novamen-
Natural de Lisboa, fez o Curso Industrial te em 1968 voltou a conquistar o 1º prémio da
da Escola Machado de Castro e entrou para interpretação do festival da Canção de Luan-
a Armada em 1953, portanto com 19 anos. da com a canção Mãe Negra Chorou. No ano
Frequentou o Curso de Artífice Condutor de seguinte foi distinguido por votação pública
Máquinas, como na altura se chamava, tendo como o melhor da canção em Angola.
sido promovido a 2º sargento em 27-07-1956. Chegou a gravar a solo 3 singles e um outro
No posto de sargento-ajudante frequentou de com o Tony de Matos, Saudade dos Santos e
1981 a 1983 o Curso de Formação de Oficiais Ana Hortense, e ainda foi também defender
Técnicos (CFOT), tendo sido licenciado no uma canção no VII Grande Prémio da T.V.
posto de 1º Tenente OTT. De Artur Rodrigues escreveu assim Adeli-
Mas o que aqui nos traz hoje a escrever es- no Tavares da Silva quando do aparecimento
tas breves e humildes palavras é o de dar a do primeiro disco:
conhecer aos leitores da nossa revista outras “Artur Rodrigues foi uma pedra no lago ar-
qualidades do nosso antigo camarada.
Foi ele um óptimo jogador de basquetebol
do conhecidissimo, na altura, clube popular
do bairro de Campo de Ourique em Lisboa,
o famoso C.A.C. O., modalidade que teve de
abandonar porque o internato na altura veri-
ficado na Escola de Mecânicos em Vila Fran- Artur Rodrigues – 1TEN.
ca de Xira só permitia a saída da escola nos de um cantor romântico. Começou bastante
fins de semana, isto no 1º ano, desde que não novo a mostrar os seus dotes vocais, os quais
estivesse de serviço (os serviços era a quatro foram ampliados ao longo dos anos, tendo
divisões) e seria necessário não haver alguma até, em 1967, no Festival da Canção de Luan-
da chamado a si dois prémios. O da melhor
interpretação masculina e o prémio Plateia
para o melhor cançonetista dos dois sexos
que actuaram no festival.
Recuando um pouco e referindo o que
foi escrito na revista Plateia n.º 349 de 10 de
Outubro de 1967 é dela que transcrevemos
o seguinte: “Artur Rodrigues cantou pela 1ª vez
em publico numa festa realizada em 1955 no já A locutora-apresentadora do Rádio Clube de Benguela,
falado Clube Atlético de Campo de Ourique, (o Maria Dinah, entregou a Artur Rodrigues a “Dalila”
popular C.A.C. O.). Em 1960 actuou em Ponta – Festival da Canção de Luanda.
Delgada num serão para trabalhadores efectuado tístico de Luanda: depois de ter perturbado a
para o pessoal dos CTT pelo Emissor Regional dos superfície das águas foi ainda aumentar-lhe a
Açores, tendo o Artur Rodrigues dado boa conta riqueza do fundo.
de si. Em 1962 em comissão no aviso de 2ª classe A voz de Artur Rodrigues é a voz de um
marinheiro triste. É uma voz encalhada no
convés de um barco aonde logo no 1º dia de
viagem se fala de saudade. E uma vez que já
viu outras terras, mas que apenas se entoa no
regresso. É uma tristeza feita melodia.
Artur Rodrigues canta com a voz que não
pediu a ninguém, senão ao mar, que anda na
sua vida e à saudade que anda no seu peito.
Por isso ele é o marinheiro triste que este pri-
meiro disco desencalhou no aquário artístico
de Luanda”.
Foi aqui e agora que recordamos o cama-
rada e amigo de todos aqueles que tiveram o
privilegio de terem convivido com ele.
Z
C. Batista Velez
1TEN OTT
26 JANEIRO 2007 U REVISTA DA ARMADA