Page 305 - Revista da Armada
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Almirante Carlos Cardoso de Oliveira
Almirante Carlos Cardoso de Oliveira
“Um Ás da Aviação Naval”
“Um Ás da Aviação Naval”
o fazerem-se referências à Aviação Na- da Aviação Portuguesa efectuou uma viagem restres empregues no domínio da situação.
val deverá, necessariamente, ser cita- dividida em etapas, neste caso foram cinco, Em 1932 vai a Inglaterra e traz um dos qua-
Ado em primeiro lugar Artur Sacadura formando uma esquadrilha homogénea que tro aviões “Gipsy Moth DH-GOG” destinados
Cabral, aquele que foi o seu expoente máximo. chegou ao destino sem que nenhuma das suas a treino elementar e acrobacia. Cinco anos pas-
Por sua iniciativa e influência a Marinha teve unidades se tivesse transviado. Cardoso de saram desde que presta serviço no Centro de
uma componente aérea e a ele se deve o res- Oliveira, que pilotou um dos aviões, mereceu Aveiro e em Fevereiro de 33 assume o comando
pectivo desenvolvimento e consolidação, da Unidade, a qual mercê da elevada com-
foi o primeiro aviador naval e planeou e petência e total dedicação do seu coman-
executou, em conjunto com Gago Couti- dante irá alcançar altos padrões de operacio-
nho, o maior feito da Aviação Naval – a nalidade e preparar-se para receber a Escola
Travessia Aérea do Atlântico Sul, ligando, de Aviação Naval “Almirante Gago Couti-
em 1922, Lisboa ao Rio de Janeiro. Infeliz- nho” que, até então localizada no Centro de
mente, quando muito ainda havia de es- Aviação Naval de Lisboa, ficará definitiva-
perar da sua inteligência, perseverança e mente em Aveiro a partir de 1936.
capacidade profissional, a fulgurante car- Nesse ano, em Agosto, termina o co-
reira de aviador de apenas oito anos foi mando sendo louvado pelo Director de
tragicamente interrompida, em 1924, ao Aeronáutica Naval pelo trabalho intenso e
desaparecer no Mar do Norte aos coman- competente como tem exercido os cargos de
dos de um hidro. Comandante do Centro de Aviação Naval de
Dos outros oficiais da Armada que se no- Aveiro e Director da Escola de Aviação Naval
tabilizaram como aviadores navais sobressai Almirante Gago Coutinho. Foi o seu primei-
Carlos Cardoso de Oliveira – além de ser do- ro louvor individual após uma brilhante
tado de excepcional competência foi aquele carreira de uma década durante a qual foi
que mais anos prestou serviço de voo. buscar novos aviões ao estrangeiro, parti-
Nascido em Lisboa, em Maio de 1903, cipou numa delicada missão quando da
Cardoso de Oliveira ingressou na Escola insurreição da Madeira, comandou o mais
Naval em 1920 tendo sido promovido a importante Centro da Aviação Naval e di-
guarda-marinha quatro anos depois. De rigiu a sua Escola.
Outubro de 1924 a Junho do ano seguinte, Segue-se um período de dois anos em
embarcado no navio-transporte “Gil Ea- que faz os tirocínios de embarque, presta
nes”, que juntamente com o cruzador “Re- 2º tenente Cardoso de Oliveira. serviço na Direcção de Aeronáutica Naval
pública” e as canhoneiras “Beira”, “Bengo” e um louvor colectivo pela extraordinária e impor- e de Maio a Agosto de 37 é Comandante In-
“Ibo” constituíam a Divisão Naval Colonial, tante comissão de serviço. Foi o seu primeiro lou- terino do Centro de Aviação Naval de Lisboa.
realiza o périplo de África sendo promovido vor dos muitos outros que se seguiram. Em Setembro de 1938 volta a Aveiro e reassu-
a 2º tenente após regresso a Lisboa. Em 1929, em Inglaterra, faz aprendizagem me o cargo de Comandante do Centro e Di-
Embarca por um curto período no contra- de acrobacia e em França obtêm o diploma de rector da Escola.
torpedeiro “Tejo” até que em Novembro pas- pilotagem sem visibilidade exterior e prosse- No ano seguinte nova missão no estrangei-
sa à Direcção de Aeronáutica Naval e inicia a gue o treino de acrobacia. ro: vai em Janeiro a Inglaterra receber os hidros
sua longa carreira na aviação. A “Avro 626” para treino avançado
Marinha tinha como ministro o e tiro e de Setembro a Dezembro
dinâmico Comandante Pereira está nos Estados Unidos para esco-
da Silva, a quem se deve o mais lher e testar aviões a adquirir com
significativo Programa Naval do urgência, já que a II Guerra Mun-
século XX, e a sua aviação ainda dial tinha rebentado na Europa.
se sentia orfã pelo desapareci- Tratava-se do “Gruman-G-213”
mento do Comandante Sacadu- para reconhecimento a longo cur-
ra. Por falta de meios aéreos só so, que durante a guerra fizeram
em 1926 se inicia o 2º Curso de várias viagens aos Açores e mis-
Pilotagem no Centro de Aviação sões de busca e salvamento a partir
Naval de Lisboa, localizada então daquele arquipélago e de Lisboa.
na actual Doca do Bom Sucesso, Em Janeiro de 1940 frequenta o
curso a que Cardoso de Oliveira Curso Elementar Naval de Guer-
pertence, sendo brevetado em ra após o que, em Setembro, é pro-
Novembro de 1927. Poucos me- Alunos do 2º Curso de Pilotagem da Escola “Almirante Gago Coutinho” – 1926/27. movido a capitão-tenente.
ses permanece em Lisboa pois 2º Tenentes: Namorado Júnior; Ferreira da Silva; Apeles Espanca; Roboredo e Silva; Nos primeiros anos da década
logo em Março do ano seguinte Cardoso de Oliveira; Paulo Viana e Aires de Sousa (sentado). de 40, sob o seu notável comando,
apresenta-se no Centro de Aviação Naval de Promovido a 1º tenente em 1930 mantém- no Centro de Aveiro concretiza-se a construção
Aveiro, em S. Jacinto. -se em S. Jacinto, mas eis que no ano seguinte e modernização de infraestruturas como foi o
Faz então parte da esquadrilha de seis avi- acontece na Madeira uma insurreição militar caso do hospital, do edifício escolar, do novo
ões “Macchi 18”, destinados a treino avança- contra o regime político, tendo sido mobilizada hangar e da pavimentação da pista onde é ini-
do e reconhecimento, que nesse ano voaram uma esquadrilha de quatro aviões “Cams” de ciada a instrução de pilotagem em aviões de
de Varese, Itália, para Lisboa. Assinale-se que observação e reconhecimento, um dos quais rodas, os “DH-Tiger Moth 82A”, entretanto
foi a primeira vez que um grupo de aparelhos por ele comandado, para apoiar as forças ter- fornecidos pela Inglaterra.
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2008 15