Page 302 - Revista da Armada
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A Reforma de 1958
A Reforma de 1958
ntrei para a Escola Naval no Alfei- na Escola Militar da Amadora, depois de professor, alguns cadetes, poucos e alu-
te em 1940, no actual edifício inau- concluído o terceiro ciclo do Curso dos nos razoáveis, revelavam no uso da lín-
Egurado pelo Curso de 1936/1937 e Liceus. gua portuguesa escrita.
na vigência da Reforma Ortins de Betten- A célebre Reforma de 26 de Setembro de
court. Havia, na altura, a exigência de um 1958, de que beneficiou já um dos cursos *
ano de preparatórios, com quatro cadei- que agora completam e festejam os cin-
ras, na Faculdade de Ciências e, naquela quenta anos de admissão na Escola Na- As principais novidades da nova Refor-
época, os melhores alunos seguiam, em val, foi uma lufada de ar fresco no ensino, ma da Escola Naval – instituto superior de
geral, para a Marinha e para Engenharia. eliminando os “preparatórios” em escolas ordem científica, técnica e militar – foram,
A duração do curso na Escola era de três externas. Talvez com algum prejuízo na em primeiro lugar, como já disse, permitir
anos e mais um de guarda-marinha, que oportunidade e na orientação das viagens a admissão dos candidatos logo a seguir ao
na vida civil seria considerado de está- de curso. É a eterna história de que “no terceiro ciclo do Curso dos Liceus ou equi-
gios. Do curso faziam parte três viagens meu tempo é que era bom”! valente, passsando os chamados preparató-
úteis, interessantes e oportunas: cinco A reforma teve como consequência que rios a ser feitos já na escola, e, em segundo
meses de “recruta náutica” no N.E. “Sa- fossem admitidos simultaneamente na lugar, a igualização da duração e da estru-
gres”; um mês, no final do segundo ano Escola Naval o curso de Duarte Pache- turação dos três cursos nela ministrados.
escolar, a todas as ilhas da Madeira e dos co Pereira para o primeiro ano antigo e Mas essas não foram as únicas transfor-
Açores; cinco meses, após a promoção a o curso de D. Lourenço de Almeida para mações efectuadas: os progressos técnicos
guarda-marinha, visitando todos os ter- o novo primeiro ano, que veio substituir verificados, o aumento e a diversidade de
ritórios africanos portugueses, com volta os preparatórios. Pelo conhecimento que conhecimentos que se tornou necessário
pelo Canal de Suez, enquanto não hou- tive dos professores civis que entraram transmitir a oficiais de uma Marinha mo-
ve guerra. por concurso para o ensino da Física, da derna e integrada na NATO, a necessida-
O currículo escolar tinha utilidade pro- Química e da Matemática, a preparação de de alargamento de alguns cursos, foram
fissional e cultural, na base das ciências académica dos cadetes não terá sido pre- outras importantes razões. Impunha-se, as-
matemáticas e ministrado por muitos judicada. A forma de selecção dos candi- sim, tornar mais completa a preparação bá-
bons instrutores e alguns bons profes- datos a cadetes é que me parece ter sido sica comum aos oficiais de todas as classes
sores, dos quais só dois tinham efectiva afectada, embora tenham continuado, e estabelecer uma boa coordenação entre as
projecção fora da Marinha. Julgo que por como se sabe, a ser admitidos alunos ex- várias fases da preparação. E reconhecia-se
razões de facilitismo os chamados prepa- celentes. a vantagem óbvia de que os oficiais de to-
ratórios deixaram de ser feitos na Facul- O que vou escrever agora nada tem a das as classes fossem preparados de igual
dade de Ciências e passaram a ter lugar, ver com a Reforma, mas foi impressionan- forma do ponto de vista militar e naval. Por
para todos os ramos das Forças Armadas, te o nível que, nos meus últimos anos de outro lado, verificou-se que “a afluência
12 SETEMBRO/OUTUBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA