Page 303 - Revista da Armada
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de candidatos às carreiras militares esta- A Escola deve-lhe, entre muitas outras coi-
va longe de ser suficiente, principalmente sas que contribuíram para o seu prestígio, a A Revista da Armada recorda as seguin-
por serem mais altas as remunerações em organização do Colóquio Internacional so- tes passagens da alocução a que se refere
muitas carreiras civis”. Abandonou-se, as- bre História e a Economia do Navio, a pere- o autor:
sim, a exigência de passagem pela Univer- grinação dos cadetes a Sagres, uma edição “Comandar não é fazer executar as ordens, de
sidade, tendo-se recorrido a professores especial dos Lusíadas, o ciclo de conferências boa ou má vontade, só porque atrás de quem coman-
civis. Lembro-me de que, devido à saída com a participação de uma dúzia de conheci- da existe um regulamento ou uma força que o prote-
inesperada do comandante Rodeia, o co- das personalidades do meio político, acadé- ge. O verdadeiro chefe é o que se faz obedecer porque,
mandante Conceição Silva, com a dispo- mico e diplomático, a retoma da publicação por sentimento e não por medo ou por raciocínio, os
nibilidade e a bondade de sempre, ainda do Anuário da Escola Naval e a valorização e subordinados lhe reconhecem não apenas superiori-
deu aulas de Matemática. Contrariamente mediatização das cerimónias de “juramento dade, mas também o direito de os conduzir.
às reformas posteriores à de 1958, manti- de bandeira”. Mas não se lhe deve a excelên- Não se pense que é fácil, e para o conseguirem
veram-se os três cursos já existentes, agora cia do corpo docente daqueles tempos: não terão de ser competentes na profissão, firmes sem
reforçados com matérias mais modernas e me consta que alguém tivesse sido convi- ser obstinados, claros e precisos nas ordens que
completados com conhecimentos anterior- dado ou seduzido. Foi, antes, uma série de derem, corteses com todos, mas familiares com
mente não considerados in- poucos, justos na aplicação dos
dispensáveis. E passou a ser castigos e na concessão de recom-
comum às três classes o en- pensas, zelosos pelo bem-estar do
sino de instrução militar, de pessoal e, sobretudo e em resu-
marinharia, de orgânica ge- mo, compreeensivos na aprecia-
ral e dos serviços de bordo e ção dos problemas humanos.
de guarnição. Os cursos de O oficial deve interessar-se
EMQ e de AN passaram a ter pelos gostos, aversões, progres-
também instrução de Nave- sos, esperanças e desilusões dos
gação Prática. seus homens; aproximar-se, na-
A formação e a instrução turalmente, dos seus problemas
dos alunos da Escola Naval pessoais e familiares e fornecer o
passaram a ter a duração de apoio moral que estiver na sua
oito períodos lectivos, ne- mão prestar-lhes; procurar o jus-
nhum deles superior a seis to equilíbrio entre as condições
meses, distribuindo-se por de chefe, instrutor, camarada e
duas fases: a primeira funda- amigo, elemento essencial ao cor-
mentalmente académica e a recto exercício do mando e à vida
segunda essencialmente téc- do navio. E se souber rir franca-
nico-naval. Foram também mente com os seus homens sem
alterados, como atrás referi, perder a dignidade, disporá de
a duração e a orientação das um inestimável factor para man-
viagens de instrução. ter a disciplina e o moral.
O novo Regulamento en- Em todas as situações e cir-
trou em vigor no ano lectivo cunstâncias deverão ter presen-
de 1958-59 e, à distância de te a seguinte decantada verdade:
50 anos a que nos encontra- «um navio só é verdadeiramente
mos, não é fácil nem interes- eficiente quando a sua guarni-
sa muito mencionar as novas ção se sente feliz; uma guarni-
cadeiras e aulas práticas in- ção só é feliz quando o navio é
troduzidas, mas recordo-me, eficiente».”
por exemplo, de uma nova
cadeira de princípios gerais ( ...... )
de direito e de três cadeiras
de economia para o curso de “Não vão encontrar facili-
administração naval; da fusão de duas an- coincidências que tornaram aqueles tempos dades na vossa vida de oficial: ser-lhes-á exigido
tigas cadeiras na de História e Arte Militar uma época áurea da Escola Naval. mais do que contam dar e a retribuição do serviço
Marítima e das novas cadeiras de Admi- Recordo com saudade a “Exortação aos prestado será quase sempre inferior ao que preci-
nistração Ultramarina e de Inglês para os Cadetes” que fui convidado a fazer, com a sarão receber; sofrerão injustiças involuntárias e
três cursos existentes. presença do Presidente da República, na verão as vossas ideias e iniciativas prejudicadas
Cerimónia de Juramento de Bandeira do por outras que nem sempre lhes parecerão melho-
* Curso “D. Lourenço de Almeida”. Muitos res; raramente a realidade das coisas vividas coin-
Oficiais que a ouviram disseram-me amá- cidirá com a ilusão das coisas sonhadas.”
A nova Reforma coincidiu com a existên- velmente ter tido influência na sua vida ( ...... )
cia de uma notável plêiade de professores e profissional.
instrutores que, ao contrário do que já senti Esta pequena recordação histórica, fei- “Cadetes,
ser opinião corrente entre os oficiais alunos ta a pedido, é afinal uma homenagem que Ao deixarem a Escola, cujos esforços, méritos
daquele tempo, não se ficou a dever ao co- presto aos que fizeram a citada reforma, e cuidados, como os filhos aos pais, só mais tarde
mandante que promoveu e apressou a im- aos que tão bem a souberam usar e, prin- virão a reconhecer, ela deseja-lhes uma carreira fe-
plementação da Reforma: Sarmento Rodri- cipalmente, aos que comemoram, também liz e, vendo-os partir com saudade, fica a aguardar
gues – com quem tive a honra e o gosto de este ano, os 50 anos da sua entrada para a com enlevo a notícia dos vossos sucessos.”
colaborar e a quem devo alguns louvores Escola Naval.
e muitas atenções – é que foi sempre um Z ( ...... )
Homem de sorte. Comandante E. H. Serra Brandão
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2008 13