Page 152 - Revista da Armada
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manecendo atracada cerca de 8 horas. Duran-  por navios dos EUA e Turquia), e ainda muitos   À saída do Sultanato de Omã, a “Côrte-
         te esta curta passagem pelo Djibouti, o navio  outros navios destacados para esta zona do  -Real” escoltou um navio à vela de grande
         teve a ilustre presença da Senhora Embaixa-  globo dos mais variados países, designada-  porte, o “Star Clipper”, efectuando o seu
         dora de Portugal no Quénia, que a convite do  mente do Reino Unido, da Malásia, da Chi-  hand-over, à fragata espanhola “Blas de Lezo”,
         Comandante da SNMG1 almoçou a bordo,  na, da Rússia, do Irão, da Arábia Saudita, da  na tarde do dia 10 de Abril. Nesse mesmo dia
         tendo desfrutado de um muito elogiado ba-  Índia, da Coreia do Sul e do Japão.   concretizou-se, por semi-rígida, a transferên-
         calhau com broa.                                                      cia do CSNMG1 e respectivo battle-staff da
           A organização do navio para a acção con-  NA ZONA DE ACÇÃO …        fragata espanhola, assumindo a “Côrte-Real”,
         ta agora com a presença de uma equipa re-                             de novo, as funções de flag-ship.
         forçada de fuzileiros que, para além das ac-  A fragata “Côrte-Real” escalou o porto de   No domingo de Páscoa foram três os na-
         ções de boarding, vem desempenhando a  Salalah, Omã, entre os dias 7 e 8 de Abril, ten-  vios de risco elevado escoltados pela “Côrte-
         importante tarefa de apoiar o navio na defesa  do a guarnição tido uma breve oportunidade  -Real”, posteriormente entregues de mão em
         contra ameaça assimétrica, quer                                                mão entre os navios da SNMG1,
         atracado quer a navegar. Por ou-                                               garantindo, desta forma, a segu-
         tro lado, o helicóptero Daxter                                                 rança na circulação da navega-
         vem revelando toda a excelên-                                                  ção mercante nas turbulentas
         cia do seu papel nas operações                                                 águas do Golfo de Aden.
         de Maritime Situation Aware-                                                     A actividade pirata parece, em
         ness (MSA) que os navios da                                                    rigor, não abrandar, apesar dos
         SNMG1 vêm desempenhando,                                                       esforços das nações e respectivas
         através do reconhecimento do                                                   forças navais destacadas para o
         panorama de superfície, e sub-                                                 local. Nos últimos dias assistiu-
         sequente detecção, identifica-                                                  -se a várias tentativas de assalto
         ção e seguimento de contactos                                                  à navegação mercante com rela-
         apresentando comportamento                                                     tos diários de navios que repor-
         suspeito. Com o inegável incre-                                                taram situações de aproximação
         mento da projecção de força à                                                  de embarcações suspeitas. A pre-
         distância que a nova arma veio                                                 sença de pequenos pesqueiros,
         conferir ao helicóptero, o na-  A Embaixadora de Portugal no Quénia, na camara da “Côrte-Real”, em Djibouti.  em tudo idênticas às ameaça-
         vio viu substancialmente aumentada a sua  para carregar baterias, e o navio algum tempo  doras “skiffs”, é uma constante nestas águas
         capacidade de defesa e protecção, estando  para reabastecer géneros com vista ao novo  e, aparentemente, a actividade de pesca ser-
         mais e melhor apetrechado para lidar con-  período de permanência no Golfo de Aden,  ve para camuflar algumas das embarcações
         tra as ameaças emergentes, concretamente  no combate à pirataria.     que, no final perpetram os referidos ataques.
         a pirataria e o terrorismo.          Na Semana Santa, a principal tarefa atri-  Suspeita-se, igualmente, que os piratas estão
           Durante a manhã de domingo, dia 29 de  buída à “Côrte-Real” e aos restantes navios  de alguma forma organizados e, em conjun-
         Março, a “Côrte-Real” detectou uma “skiffs”,  da SNMG1, foi escoltar navios mercantes de  to, coordenam e lançam os ataques. Sabe-se
         embarcação típica nesta zona do globo, api-  elevado nível de risco ao longo do extenso  por outro lado, que as pequenas embarcações
         nhada de refugiados, que a cerca de 75 mi-  corredor marítimo, denominado IRTC (Inter-  piratas chegam a percorrer distâncias consi-
         lhas de terra se deslocava em direcção ao Ié-  national Recommended Transit Corridor), em  deráveis, por vezes ultrapassando algumas
         men, tendo, após investigação, contactado  pleno Golfo de Aden. Diariamente são vá-  centenas de milhas, oriundas ou de terra ou
         as autoridade iemenitas a quem                                                 de embarcações mãe. Consigo
         transmitiu a ocorrência e passa-                                               trazem GPS portáteis, telemó-
         gem de controlo. Na tarde do                                                   veis, roupa lavada, dinheiro, ví-
         mesmo dia, o navio FGS “Spes-                                                  veres e água, bem como arma-
         sart”, pese embora se tratasse de                                              mento portátil, designadamente
         um navio militar, foi ele próprio                                              metralhadoras AK47 e RPG’s.
         alvo de ataque pirata, a cerca de                                              Normalmente os ataques têm
         90 milhas da posição onde se                                                   sido efectuados em grupos de
         encontrava a fragata portuguesa.                                               três “skiffs”. A tripulação pirata é
         Actuando em auto-defesa, o re-                                                 oriunda da Somália e as idades
         abastecedor alemão não apenas                                                  estão compreendidas entre os 20
         repeliu os ataques da “skiffs” em                                              e os 35 anos.
         aproximação, como participou,                                                    Na passada noite de 13 para 14
         ainda, no esforço de detenção                                                  de Abril, após intercepção de al-
         dos atacantes armados, o que                                                   gumas comunicações rádio pelo
         viria, efectivamente, a aconte-                                                navio canadiano HMCS “Winni-
         cer mais tarde, tendo participado   Vista de uma “Dhow”.                       peg”, ficou a saber-se que o na-
         nesta acção, entre outros meios navais e aé-  rias dezenas de navios que atravessam estas  vio mercante “Irene E M” estava a ser alvo de
         reos, o navio holandês da SNMG1, HNLMS  águas, onde a ameaça de pirataria é constan-  perseguição que, por tardia detecção e reac-
         “De Zeven Provincien”.             te, e onde as boas condições meteorológicas,  ção da tripulação (em parte devido ao pou-
           Num teatro de operações bem distinto do  mar calmo e vento fraco, propiciam a que as  co usual timing escolhido pelos piratas para
         habitual, onde tudo é novo e diferente, desde  pequenas, mas velozes, “skiffs” se aventurem  lançarem o ataque), resultou no mais recente
         o clima, à cultura e à língua e, principalmente,  oceano fora, em busca de dinheiro fácil. Nes-  episódio de hijacking no Golfo de Aden. Nes-
         à tipologia da ameaça, a fragata “Côrte-Real”  te momento, na Somália são cada vez mais os  te caso, o navio mais próximo era o próprio
         tem vindo a patrulhar uma vasta área situa-  pescadores que trocam a actividade da pesca  HMCS “Winnipeg” que se encontrava, ainda
         da entre a costa da Somália e o Iémen. Nesta  por esta nova e lucrativa fonte de receita, já  assim, a mais de 80 milhas do local. O seu
         área têm vindo também a operar navios de  que as verbas envolvidas no resgate dos na-  helicóptero foi destacado para o local e, após
         outras Forças Navais, TF 465 (operação “Ata-  vios pirateados e respectivas tripulações são  entrar em contacto VHF com a embarcação,
         lanta”, da EU NAVFOR) e TF 151 (constituída  particularmente elevadas.  confirmou que os piratas já se encontravam a

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