Page 243 - Revista da Armada
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VICE-ALMIRANTE MATTA OLIVEIRA
           VICE-ALMIRANTE MATTA OLIVEIRA

          Distinto Oficial de Estado-Maior e Major General da Armada
          Distinto Oficial de Estado-Maior e Major General da Armada

         O                                  Náuticas da Costa de Angola”, um roteiro  de Apoio da Esquadra”; “Preparação para a
               estudo da doutrina militar-naval,  redige o seu primeiro trabalho, “Instruções  -se: “As Nossas Ilhas Atlânticas e os Portos
               especialmente no âmbito da Estra-
               tégia, tem sido uma actividade onde  que além de fornecer dados sobre a costa  Guerra Naval”; “A Marinha Austríaca”; “O
         se evidenciaram alguns oficiais da Armada.  também disponibiliza informações práticas  Recrutamento de Praças da Armada” e “Pre-
         As teorias do notável estratega Almirante  relativas aos portos angolanos.  paração Moral para a Guerra Marítima”, tal-
         Alfred Mahn, quanto à relevância do poder   Depois de um breve período de embarque  vez a mais interessante obra desta colabora-
         marítimo, tiveram destacados defensores e  no vapor “Lidador”, em missões de fiscaliza-  ção, onde identifica e caracteriza as qualidades
         divulgadores na Marinha Portuguesa, um  ção de pesca, volta em Novembro ao trans-  indispensáveis ao marinheiro e considera que a
         dos quais, talvez o mais significativo pionei-  porte “África”, efectuando uma primeira  preparação moral, é uma condição indispensável
         ro, foi o Vice-Almirante Matta Oliveira.  viagem ao Extremo-Oriente durante a qual  para alcançar a vitória no mar.
           Nascido em Lisboa, a 5 de Março de                                        No “Boletim Marítimo” da Liga Na-
         1874, Joaquim Anselmo da Matta Oli-                                       val Portuguesa foi encarregado da Sec-
         veira, ingressou   na  Escola  Naval  em                                  ção da Marinha de Guerra e da Defesa
         Outubro de 1892,  tendo   sido  promo-                                    Nacional, tendo publicado vários arti-
         vido  a guarda-marinha em 95.                                             gos, um dos quais, de 1909, intitulado
           Após um breve período a bordo de                                        “As Linhas de Torres”, destaca a im-
         navios em missões nas águas de Portu-                                     portância do poder marítimo na de-
         gal Continental, presta serviço nas ca-                                   fesa de Lisboa, em 1810, quando da 3ª
         nhoneiras do Ultramar. Inicialmente na                                    invasão francesa.
         “Zambeze”, em Cabo Verde e depois,                                          Após ter estado adjunto de Majoria
         em mares da Índia, na “Tejo”, a que se                                    General da Armada, durante o primei-
         segue a “Liberal” onde é promovido,                                       ro semestre de 1909, volta ao Extremo-
         em 1898, a 2º Tenente e viaja para Ma-                                    -Oriente para comandar a recém ad-
         cau, visitando portos da China e do Ja-                                   quirida lancha-canhoneira “Macau”
         pão. Regressa a Lisboa, no transporte                                     (1909-1943), navio que até à II Guerra
         “África”, em Junho de 1899.                                               Mundial irá prestar inestimáveis ser-
           A sua estadia na Europa dura ape-                                       viços na China. Sob seu comando o
         nas três escassos meses pois em Outu-                                     navio cumpre especialmente missões
         bro já está na canhoneira “Rio Lima”,                                     de protecção da frente marítima de
         da Divisão Naval do Índico, onde se                                       Macau, de dissuasão a eventuais ac-
         mantém até Janeiro de 1900, mês em                                        ções de pirataria e contrabando e de
         que assume o seu primeiro comando                                         apoio às colónias portuguesas insta-
         no mar, o do vapor “ Baptista de An-                                      ladas nas costas chinesas e às missões
         drade”, embarcação inicialmente cons-                                     católicas do Rio do Oeste e do Delta de
         truída para a balizagem do porto de                                       Cantão. A acção da “Macau” em Julho
         Lourenço Marques mas que irá, sob o                                       de 1910, ao bloquear a Ilha de Coloane
         comando do 2º tenente Matta Oliveira,                                     isolando os piratas que nela se tinham
         efectuar missões nos portos de Ango-                                      instalado e evitando potenciais actos
         che e de António Enes. Em Junho des-  2TEN Matta Oliveira.                de violação de soberania por parte da
         se primeiro ano do século XX passa a                                      China e ao proteger com a sua artilha-
         comandar a lancha-canhoneira “Obús”, in-  além de Macau visita Timor e uma segunda,  ria o desembarque de forças, das quais fa-
         tegrada na Esquadrilha do Zambeze. Efectua  transportando para Luanda os insurrectos  ziam parte marinheiros da canhoneira “Pá-
         então diversas missões de fiscalização e de  da revolta de 8 de Abril de 1906 no cruzador  tria” e do cruzador “Raínha D. Amélia”,  foi
         logística naquele rio de Moçambique e em  “D. Carlos”, missões em que foi louvado pela  decisiva para a eliminação da pirataria em
         Fevereiro de 1901 termina a sua segunda co-  forma como contribuiu para a maneira rápida,  águas macaenses. Amplamente documen-
         missão no Ultramar.                zelosa e inteligente desempenhada na importan-  tadas em pormenorizados relatórios, estas
           Em Maio tem os primeiros contactos com  te comissão de serviço do “África, na sua recente  missões evidenciam as elevadas qualida-
         a Administração Central da Marinha ao  viagem às colónias portuguesas.  des e aptidões do 1º tenente Matta Oliveira,
         prestar serviço na 2ª secção da Majoria Ge-  Termina então mais um período de em-  igualmente patentes numa série de viagens
         neral da Armada.                   barque e de Dezembro de 1906 a igual mês  para obter informações acerca da região em
           Na época, os oficiais subalternos manti-  de 1908 será sucessivamente Ajudante de  que se pensava estabelecer na linha férrea
         nham-se a maior parte do tempo embarca-  Ordens do Inspector Geral de Marinha, do  ligando Macau a Cantão e quando do tufão
         dos e assim o 2º tenente Matta Oliveira, em  Director Geral de Marinha e Ajudante de  de 19 de Outubro de 1909, durante o qual a
         Julho de 1903, é oficial da guarnição do trans-  Campo do Ministro da Marinha, situação  lancha esteve prestes a perder-se. Em Junho
         porte “África” que apoia logisticamente, em  em que é louvado no Real Nome de Sua Ma-  de 1911 termina o comando da “Macau”. Ti-
         pessoal e material, o Ultramar. Naquele na-  jestade El-Rei pelo zelo e inteligência como de-  nha sido um dos poucos comandantes que
         vio vai a Livorno levar a guarnição do cruza-  sempenhou o cargo.     foi mantido no seu cargo após a implanta-
         dor “Vasco da Gama” e em Outubro navega   Entretanto, em Dezembro de 1907, é pro-  ção da República.
         para Macau, via Canal do Suez e regressa a  movido a 1º tenente.        Nos 13 anos de oficial já tinha conhecido
         Lisboa em Fevereiro de 1904, tendo escalado   Foi a partir de 1906 que deu início à cola-  todo o Ultramar, comandado dois navios
         portos de Moçambique e Angola. Com base  boração com a “Revista Militar” tratando de  em Moçambique e um em Macau., prova-
         nos conhecimentos adquiridos nesta viagem  temas de Política e História Naval. Citem-  do ser um experimentado marinheiro e por
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2009  25
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