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fora que o seu empenho lhe mereceu a atri- tempo que juntava numa festa de grande como devem os veteranos aperceber-se das
buição da boina de fuzileiro, numa situa- significado as diferentes gerações de fuzi- mais recentes realidades vividas pelos jo-
ção inédita, só depois repetida com outros leiros, unindo-os “como um todo, como vens que hoje usam a mesma boina de azul
que seguiram o seu estilo e a sua forma de um corpo”, que consubstancia a «interio- ferrete. “Cumprindo processos de reestru-
encarar o apoio aos alunos. Ao celebrar turação, redimensionamento e reequipa-
esta missa, no primeiro Dia do Fuzileiro, o mento, os fuzileiros têm sabido ajustar-
padre Amorim era, além do mais, um ho- se aos novos cenários de actuação, onde
mem da casa, e foi nessa condição, tam- os conflitos assimétricos que começaram
bém, que se dirigiu aos presentes, confe- a emergir se assumiram como mais um
rindo ao acto religioso o especial calor de desafio a enfrentar e vencer. Foi assim
uma celebração em família. antes, será assim no futuro”. E termi-
nou o seu discurso dizendo: “ Os fuzi-
CERIMÓNIA MILITAR leiros vieram aqui dizer... que honram a
sua Pátria. Que nada esperam em troca
Cerca das 12h00 deu-se início a uma da sua devoção e entrega até às últimas
cerimónia militar, presidida pelo Co- consequências, porque crêem no serviço
mandante do Corpo de Fuzileiros, Con- que prestam a Portugal, porque sabem
tra-Almirante Cortes Picciochi. As forças que são um só, com a força de todos”. A
em parada, comandadas pelo Capitão- cerimónia militar terminou com o desfile
de-fragata FZ Ova Correia, englobavam das forças em parada.
o Batalhão de Fuzileiros nº 1, a Compa-
nhia de Equipagem da Base de Fuzileiros, MEMÓRIAS DE UM
um pelotão da Escola de Fuzileiros, e três GUERREIRO COLONIAL
pelotões pertencentes à UMD, à CAT e à
CAF, respectivamente. A força operacio- Antes de dar início ao almoço de con-
nal, comandada pelo Capitão-de-Fragata fraternização, no refeitório da Escola de
Almeida Gabriel, integrava-as num nú- Fuzileiros, teria lugar o lançamento de
cleo separado, constituído pelo elemen- um livro escrito pelo Sargento-Mor Fu-
to de manobra, com duas companhias zileiro José Talhadas, com o título Memó-
do BLD, e uma força motorizada, com rias de um guerreiro colonial. Eu conheci o
os elementos de apoio de combate e de Sargento Talhadas há quase três dezenas
apoio de serviços. de anos, quando desempenhava funções
Com as forças prontas, e chegado o Co- no Batalhão de Instrução. Foi-me apre-
mandante do Corpo de Fuzileiros, teve sentado por um camarada seu que não
lugar a breve cerimónia de inauguração se cansou de elogiar o prestígio e a aura
de uma placa que designa a parada da de respeito que aquele homem carrega-
Escola de Fuzileiros com o nome de “Pa- va consigo, dado o seu passado como
rada Almirante Roboredo e Silva”, numa combatente. Um passado ímpar, espelha-
homenagem à figura do chefe militar do nas condecorações que ostentava ao
que, em 1961, levou à recriação dos fuzi- peito. Mas foi na convivência que depois
leiros na Marinha Portuguesa. De segui- tive com ele que percebi a real dimensão
da teve lugar a homenagem aos fuzileiros do homem e do militar. As Memórias de
mortos ao serviço da Pátria, momento so- um guerreiro colonial relatam a experiência
lene em que todos recordam com especial das quatro comissões no Ultramar (duas
emoção os companheiros caídos em com- em Angola e duas na Guiné), mostrando
bate, lembrando que ali somos, mais uma a experiência de uma guerra dura e difí-
vez, a voz dos nossos mortos e a garantia cil, onde os fuzileiros tiveram o seu lugar
da sua imortalidade no nosso respeito e de honra. Num discurso simples, resistin-
na nossa memória. do quanto podia à tentação de se colocar
Terminada a emocionada láurea, usou no centro da narrativa, emerge uma lin-
da palavra o Vice-Presidente da Asso- guagem viva dominada por
ciação de Fuzileiros, Dr. António Gomes um sentido humano invul-
Beltrão, representando o seu Presiden- gar. Mesmo quando fala do
te, Dr. Ilídio Neves Luís, impedido por inimigo. Da leitura do livro
prolongada e grave doença. A Associa- apenas me ocorre reforçar
ção de Fuzileiros saudou a realização do rização do epíteto “fuzilei- como o sargento Talhadas
Dia do Fuzileiro e todas as iniciativas a ele ro uma vez, Fuzileiro para é um homem de quem me
agregadas, na medida em que constituem sempre”». E, «Não havendo orgulho de ser amigo. O
uma forma de juntar todos os fuzileiros, “ex-fuzileiros” mas apenas lançamento do livro foi um
de várias gerações, num só evento, con- “fuzileiros” – acrescentou ponto alto das comemora-
gregador e dignificante. Seguiu-se o dis- adiante – tem o Corpo o ções do Dia do Fuzileiro, que
curso do Contra-Almirante Cortes Piccio- dever de procurar manter terminaram com o almoço e
chi, Comandante do Corpo de Fuzileiros o elo de ligação, chaman- com a confraternização que
que começou por explicar as razões deste do quem está fora,... dizer- se prolongou até ao final
evento, em substituição das sucessivas vi- lhes que não os esquecemos da tarde.
sitas à Escola de Fuzileiros dos numero- e que contamos com eles”. Z
sos destacamento e companhias. Foi sua Salientou ainda como é importante que os J. Semedo de Matos
intenção dar uma maior grandiosidade a novos aprendam o significado dos episó- CFR FZ
essas “romagens de saudade”, ao mesmo dios do passado e o que eles representam, Fotos de 1SAR FZ Pereira e SAJ FZ Silva
REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2009 13