Page 267 - Revista da Armada
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fora que o seu empenho lhe mereceu a atri-  tempo que juntava numa festa de grande  como devem os veteranos aperceber-se das
         buição da boina de fuzileiro, numa situa-  significado as diferentes gerações de fuzi-  mais recentes realidades vividas pelos jo-
         ção inédita, só depois repetida com outros  leiros, unindo-os “como um todo, como  vens que hoje usam a mesma boina de azul
         que seguiram o seu estilo e a sua forma de  um corpo”, que consubstancia a «interio-  ferrete. “Cumprindo processos de reestru-
         encarar o apoio aos alunos. Ao celebrar                                turação, redimensionamento e reequipa-
         esta missa, no primeiro Dia do Fuzileiro, o                            mento, os fuzileiros têm sabido ajustar-
         padre Amorim era, além do mais, um ho-                                 se aos novos cenários de actuação, onde
         mem da casa, e foi nessa condição, tam-                                os conflitos assimétricos que começaram
         bém, que se dirigiu aos presentes, confe-                              a emergir se assumiram como mais um
         rindo ao acto religioso o especial calor de                            desafio a enfrentar e vencer. Foi assim
         uma celebração em família.                                             antes, será assim no futuro”. E termi-
                                                                                nou o seu discurso dizendo: “ Os fuzi-
         CERIMÓNIA MILITAR                                                      leiros vieram aqui dizer... que honram a
                                                                                sua Pátria. Que nada esperam em troca
           Cerca das 12h00 deu-se início a uma                                  da sua devoção e entrega até às últimas
         cerimónia militar, presidida pelo Co-                                  consequências, porque crêem no serviço
         mandante do Corpo de Fuzileiros, Con-                                  que prestam a Portugal, porque sabem
         tra-Almirante Cortes Picciochi. As forças                              que são um só, com a força de todos”. A
         em parada, comandadas pelo Capitão-                                    cerimónia militar terminou com o desfile
         de-fragata FZ Ova Correia, englobavam                                  das forças em parada.
         o Batalhão de Fuzileiros nº 1, a Compa-
         nhia de Equipagem da Base de Fuzileiros,                               MEMÓRIAS DE UM
         um pelotão da Escola de Fuzileiros, e três                             GUERREIRO COLONIAL
         pelotões pertencentes à UMD, à CAT e à
         CAF, respectivamente. A força operacio-                                  Antes de dar início ao almoço de con-
         nal, comandada pelo Capitão-de-Fragata                                 fraternização, no refeitório da Escola de
         Almeida Gabriel, integrava-as num nú-                                  Fuzileiros, teria lugar o lançamento de
         cleo separado, constituído pelo elemen-                                um livro escrito pelo Sargento-Mor Fu-
         to de manobra, com duas companhias                                     zileiro José Talhadas, com o título Memó-
         do BLD, e uma força motorizada, com                                    rias de um guerreiro colonial. Eu conheci o
         os elementos de apoio de combate e de                                  Sargento Talhadas há quase três dezenas
         apoio de serviços.                                                     de anos, quando desempenhava funções
           Com as forças prontas, e chegado o Co-                               no Batalhão de Instrução. Foi-me apre-
         mandante do Corpo de Fuzileiros, teve                                  sentado por um camarada seu que não
         lugar a breve cerimónia de inauguração                                 se cansou de elogiar o prestígio e a aura
         de uma placa que designa a parada da                                   de respeito que aquele homem carrega-
         Escola de Fuzileiros com o nome de “Pa-                                va consigo, dado o seu passado como
         rada Almirante Roboredo e Silva”, numa                                 combatente. Um passado ímpar, espelha-
         homenagem à figura do chefe militar                                    do nas condecorações que ostentava ao
         que, em 1961, levou à recriação dos fuzi-                              peito. Mas foi na convivência que depois
         leiros na Marinha Portuguesa. De segui-                                tive com ele que percebi a real dimensão
         da teve lugar a homenagem aos fuzileiros                               do homem e do militar. As Memórias de
         mortos ao serviço da Pátria, momento so-                               um guerreiro colonial relatam a experiência
         lene em que todos recordam com especial                                das quatro comissões no Ultramar (duas
         emoção os companheiros caídos em com-                                  em Angola e duas na Guiné), mostrando
         bate, lembrando que ali somos, mais uma                                a experiência de uma guerra dura e difí-
         vez, a voz dos nossos mortos e a garantia                              cil, onde os fuzileiros tiveram o seu lugar
         da sua imortalidade no nosso respeito e                                de honra. Num discurso simples, resistin-
         na nossa memória.                                                      do quanto podia à tentação de se colocar
           Terminada a emocionada láurea, usou                                  no centro da narrativa, emerge uma lin-
         da palavra o Vice-Presidente da Asso-                                             guagem viva dominada por
         ciação de Fuzileiros, Dr. António Gomes                                           um sentido humano invul-
         Beltrão, representando o seu Presiden-                                            gar. Mesmo quando fala do
         te, Dr. Ilídio Neves Luís, impedido por                                           inimigo. Da leitura do livro
         prolongada e grave doença. A Associa-                                             apenas me ocorre reforçar
         ção de Fuzileiros saudou a realização do  rização do epíteto “fuzilei-            como o sargento Talhadas
         Dia do Fuzileiro e todas as iniciativas a ele  ro uma vez, Fuzileiro para         é um homem de quem me
         agregadas, na medida em que constituem  sempre”». E, «Não havendo                 orgulho de ser amigo. O
         uma forma de juntar todos os fuzileiros,  “ex-fuzileiros” mas apenas              lançamento do livro foi um
         de várias gerações, num só evento, con-  “fuzileiros” – acrescentou               ponto alto das comemora-
         gregador e dignificante. Seguiu-se o dis-  adiante – tem o Corpo o                 ções do Dia do Fuzileiro, que
         curso do Contra-Almirante Cortes Piccio-  dever de procurar manter                terminaram com o almoço e
         chi, Comandante do Corpo de Fuzileiros  o elo de ligação, chaman-                 com a confraternização que
         que começou por explicar as razões deste  do quem está fora,... dizer-            se prolongou até ao final
         evento, em substituição das sucessivas vi-  lhes que não os esquecemos            da tarde.
         sitas à Escola de Fuzileiros dos numero-  e que contamos com eles”.                                   Z
         sos destacamento e companhias. Foi sua  Salientou ainda como é importante que os         J. Semedo de Matos
         intenção dar uma maior grandiosidade a  novos aprendam o significado dos episó-                    CFR FZ
         essas “romagens de saudade”, ao mesmo  dios do passado e o que eles representam,   Fotos de 1SAR FZ Pereira e SAJ FZ Silva
                                                                                     REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2009  13
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